A gadanha do quarto cavaleiro, que este ano anda muito atarefado, levou-nos de surpresa o Senhor Dr. Mário Nunes. Homem de trato amabilíssimo, deixa uma enorme saudade em todos os que com ele privaram. E deixa Coimbra e a sua cultura mais pobre.
Antes de ser Dr. era já um verdadeiro Senhor, não precisando do título académico para se impor fosse onde fosse. Mas a sua vontade de saber mais levou-o a licenciar-se em História, área em que o seu conhecimento pessoal, fruto de pesquisa aturada e permanente, era de grande dimensão e valia.
Apesar da sua origem humilde, o seu valor pessoal não o deixou ir pelos caminhos tão frequentemente trilhados por quem se faz por si próprio: nem ganhou soberba, nem falsa humildade. Continuou sempre fiel à sua maneira de ser, simpática, colaborante e construtiva.
Foi Vereador da Cultura na Autarquia de Coimbra, onde foi frequentemente objecto de críticas mesquinhas sem conteúdo. A sua preocupação de sempre com a genuína cultura do nosso povo levava muitos profissionais da cultura a menosprezarem a sua actividade autárquica, designando o seu pelouro como sendo da cultura…popular. Nada de mais injusto. Enquanto Vereador, Mário Nunes apoiou as associações culturais e a sua actividade, desde o rancho e a filarmónica ao teatro e à música clássica com o mesmo entusiasmo e dinamismo. E nunca ninguém lhe ouviu dizer que se o povo prefere cultura simples, então que se lhe dê música pimba em vez da clássica.
Amou Coimbra como poucos e provou-o na sua intensa actividade. Desde os numerosos livros dedicados a aspectos específicos da Cidade e do seu património, ao elevadíssimo nº de artigos que deixou publicados por diversos títulos de jornais.
Mas não se ficou pela escrita, embora a ela se tenha dedicado com um entusiasmo absolutamente surpreendente.
Logo na década de oitenta dinamizou a criação do GAAC (Grupo de Arqueologia e Arte do Centro), vindo dessa altura o nosso conhecimento pessoal. Se hoje o conhecimento e a defesa do património nas suas mais diversas formas, se tornou em pedra de toque da atitude cultural, nesses tempos não tão longínquos como isso, era uma posição em que Mário Nunes não tinha assim tantos acompanhantes de jornada. Vêm daí as primeiras ideias de levar o mundo a reconhecer a importância do património da Cidade, designadamente da Alta e Universidade.
A Casa dos Pobres foi outra instituição da Cidade a que Mário Nunes entregou o seu dinamismo, tempo e esforços, sendo secretário da sua Direcção. Mário Nunes tinha também responsabilidades no Clube de Comunicação Social de Coimbra e, nos últimos anos, dedicou-se com afinco à Previdência Portuguesa. Era meu colega nos órgãos sociais da Casa de Infância Elísio de Moura.
Acima de tudo era um amigo com quem dava gosto conversar e partilhar ideias para Coimbra. Faz-nos muita falta e, infelizmente, só nos resta dizer: bem-haja Senhor Dr. Mário Nunes por tudo o que fez e nos deu.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Julho de 2013
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