Um dos filmes da minha vida (como se costuma dizer) foi realizado em 1976 por Alan J. Pakula com o título “os Homens do Presidente”, tendo Dustin Hoffman e Robert Redford como actores principais. O filme é sobre o caso Watergate, que resultou na renúncia de Richard Nixon à presidência dos Estados Unidos da América no dia 8 de Agosto de 1974, faz portanto esta semana 39 anos.
Recordo que o chamado caso Watergate surgiu na sequência da prisão de cinco pessoas no dia 17 de Junho de 1972 naquilo que inicialmente se pensava ser um assalto comum à sede dos Democratas no edifício Watergate em Washington; decorria então a campanha presidencial que viria a ser ganha pelo Republicano Richard Nixon que assim conseguia a sua reeleição de forma esmagadora, após a sua derrota tangencial perante John Kennedy em 1960 e a primeira vitória de 1968.
No dia seguinte ao assalto o jornal Washington Post dava a respectiva notícia, adiantando que os detidos tinham tentado fotografar documentos e colocar aparelhos de escuta na sede Democrata, tudo levando a crer que o caso ficaria por aí. No entanto, o facto de os detidos estarem ligados ao FBI e à CIA levantou suspeitas sobre se a Casa Branca teria conhecimento prévio do sucedido e se, portanto, o próprio Presidente estaria envolvido no caso. Dois jornalistas de investigação do Washington Post, Robert Woodward e Carl Bernstein agarraram no caso e não mais o largaram, com uma pertinácia incansável, afrontando a Casa Branca que se defendeu utilizando todo o seu poder político, policial e mesmo económico. Claro que contaram com a ajuda preciosa de um informador secreto, supostamente colocado no interior do aparelho policial, que lhes foi dizendo se estavam no bom caminho ou se seguiam pistas falsas, mantendo-os na pista certa que os levou no fim a deslindar toda a trama. Só em 2005 esse informador, que ficou conhecido com “garganta funda”, tornou pública a sua identidade, ficando-se assim a saber que se tratava do próprio nº 2 do FBI, Mark Felt. Esta história é ainda hoje apresentada como o exemplo maior da importância do jornalismo de investigação da verdade dos factos e um dos momentos mais altos da demonstração da força da liberdade de imprensa.
A importância deste caso e do seu desfecho é ainda maior dado que, de todos os 44 presidentes americanos eleitos até hoje, Nixon foi o único obrigado a demitir-se por exercício inapropriado do cargo. O trauma dos americanos perante a descoberta de que o seu presidente era uma pessoa em que afinal não podiam confiar é enorme e persistente até hoje. Richard Nixon, apesar de ter conseguido notáveis sucessos durante a sua presidência, como o fim da guerra do Vietname, é ainda hoje símbolo vergonhoso da má conduta de um político desonesto e mentiroso que não olha a meios para conseguir os seus fins.
O título desta crónica é precisamente uma citação de Richard Nixon, o epítome que resume todo um programa de acção política que, no seu caso, levou ao desastroso resultado bem retratado no filme de Pakula e que, obviamente, não deverá, em caso nenhum, servir de inspiração ou exemplo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 5 de Agosto de 2013
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