O Governo
da Nova Zelândia decidiu fazer um referendo no início de 2016 sobre a
manutenção da actual bandeira do país ou a sua troca por uma nova, escolhida
entre várias propostas, também em referendo que terá lugar no final de 2015,
mas que deverá apresentar como símbolo uma tradicional folha de feto (samambaia).
A actual bandeira da Nova Zelândia que recorda-se, está nos nossos antípodas
isto é não podia estar mais afastada da Europa, mantém a “Union Jack” britânica
como memória da pertença ao antigo império britânico. A mudança do símbolo
nacional que é a bandeira, é apresentada pelo actual primero-ministro
neozelandês como um corte com o passado colonial e a afirmação de uma identidade
própria e moderna.
Há
pouco tempo observei umas fotografias da revista LIFE de manifestações
militares e populares de apoio a Hitler, quando estava no poder na Alemanha.
Para além dos aspectos políticos e psicológicos impressionantes que aquelas
fotos suscitam, há um outro que ressalta à vista.
Os antigos estandartes e
bandeiras alemãs estão todos substuidos pelas bandeiras negras e vermelhas com
suásticas. Mesmo as tradicionais insígnias nas fardas militares estão sempre
acompanhadas pela omnipresente suástica.
Historicamente,
a troca de bandeira corresponde normalmente a momentos cruciais da vida dos
países e, embora haja sempre quem seja contra com razões mais ou menos
respeitáveis, a nova bandeira passa a representar o país na sua totalidade,
passando a ser respeitada como tal. Claro que há excepções. No século XX houve
abandono de bandeiras nacionais por parte de partidos políticos que, ao
atingirem o poder, as substituiram pelos seus próprios símbolos.
O
caso da Alemanha nazi é paradigmático. Após a sua eleição como chanceler e a
morte do presidente Hindemburgo, Adolf Hitler fez adoptar a bandeira do Partido
Nacional Alemão dos Trabalhadores (assim se chamava o partido nazi) como
bandeira nacional da Alemanha, situação que durou até à sua derrota incondicional
na Segunda Guerra Mundial em 8 de Maio de 1945.
Também
a Rússia viu a sua tradicional bandeira substituida pelos símbolos do Partido
Comunista após a vitória da Revolução de 1917. Assim, a bandeira da União
Soviética passou em 1923 a ser vermelha com os símbolos comunistas da foice e
do martelo e ainda a estrela do partido.
Cada uma das repúblicas integrantes da
URSS substituiu também a sua bandeira dentro do mesmo princípio, incluindo
claro, a república socialista russa. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos
países da Europa de Leste que a ex-URSS integrou no Pacto de Varsóvia
substituiram também as suas bandeiras nacionais, passando a exibir os símbolos
dos partidos comunistas. Esta situação terminou depois da desintegração da
ex-URSS, tendo cada um dos países que antes integravam o bloco comunista adoptado
novas bandeiras nacionais expurgadas dos símbolos comunistas; por exemplo, a própria
Federação Russa adoptou a bandeira tricolor branca, azul e vermelha como era desde
1883 até à revolução soviética, sem quaisquer símbolos.
As diferenças para o agora
proposto na Nova Zelândia não podiam ser maiores. Em vez da vontade imposta por
partidos no poder, são os cidadãos que, de forma inteiramente livre têm a
hipótese de escolher um símbolo nacional diferente. É a Democracia, com o
respeito pela vontade da maioria livremente expressa, a funcionar. Pode mesmo
suceder, e o primeiro-Ministro Key está perfeitamente consciente disso, que o
povo da Nova Zelândia venha a optar por continuar com a actual bandeira.Tal como se a escolha for pela nova bandeira, não haverá nenhum drama, dado que resultará da livre vontade do povo neozelandês, não significando nenhum construtivismo social de algum “homem novo” ou anúncio de “amanhãs que cantam” que desembocam sistematicamente em grandes tragédias e sim apenas a natural evolução de uma nação livre e soberana.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 3 de Novembro de 2014
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