As cidades são seres vivos que evoluem ao longo do tempo. Em certos
períodos da sua história surgem pujantes de vida, afirmando-se em áreas em que
não encontram competidor. Aos quais se podem seguir períodos de apagamento ou
mesmo definhamento mortal que as apaga de qualquer papel relevante. Eventualmente
podem renascer e voltar a afirmar-se de uma forma que nada tem a ver com o seu
antigo sucesso. Tudo isso porque são as pessoas e as suas relações, capacidade
de inovação e espírito empreendedor tantas vezes visionário, que definem
verdadeiramente as Cidades e o seu papel no tecido envolvente.
A cidade inglesa de Leicester apareceu nas notícias há três anos pela
descoberta dos restos mortais do Rei Ricardo III, que estavam desaparecidos há mais
de quinhentos anos depois de ter morrido na batalha de Bosworth Field. Após a
sua identificação sem quaisquer dúvidas, os restos mortais do rei foram levados
para a Catedral de Leicester em Março de 2015, onde finalmente descansam.
O
túmulo chama visitantes de toda a Grã-Bretanha pela notoriedade da personagem
histórica muito ampliada por Shakespeare na sua obra que leva o nome do rei e
que ainda hoje é motivo de acesas controvérsias.
Leicester é uma cidade de dimensão média com pouco mais de trezentos mil
habitantes. Nos anos 30 do século XX era tida como uma das cidades mais ricas
da Europa, devido às suas fábricas de vestuário e calçado, dizendo a
publicidade da altura que “Leicester vestia o mundo”. Entretanto, com a
deslocalização dessas indústrias para outras paragens, a força económica da
cidade praticamente desapareceu. Mas hoje esse passado é história e a
recuperação de Leicester é um facto. A revista Economist abordou o que entretanto
se passou e informa-nos que, na actualidade, para além de Londres, Leicester é
a cidade inglesa com a taxa mais rápida de crescimento, tendo o seu produto
crescido 22% entre 2009 e 2014, criando emprego e atraindo mais moradores,
fazendo crescer a população em 17% em dez anos. Há um afinar de objectivos e
estratégias entre as autoridades locais e as universidades da cidade.
As
universidades apoiam directamente a formação de “start-ups” quer tecnica, quer mesmo
financeiramente com injecção de capital inicial. As autoridades locais agem
rapidamente sempre que surge uma oportunidade de investimento na Cidade; criaram
um quarteirão cultural para desenvolver o centro urbano e entregam terrenos
para facilitar o desenvolvimento de pequenas e médias empresas. A novidade do
novo túmulo de Ricardo III é explorada ao máximo pela autarquia para atrair
turistas, através de excelentes operações de marketing.
Foi neste caldo que o relativamente pequeno clube de futebol de Leicester
conseguiu agigantar-se e vencer a Primeira Liga Inglesa onde pontuam clubes
milionários como o Manchester United, o Chelsea ou o Liverpool, só para citar
alguns. O sucesso das “raposas”, como é conhecido o clube de futebol de
Leicester, não apareceu do nada, antes foi fruto de trabalho profícuo do clube
com o treinador Claudio Ranieri que trouxe os seus 30 anos de experiência em
futebol e gestão profissional para um clube que não tinha historicamente os
meios e a organização necessários para se afirmar.
Claro que o facto de o clube
ter sido comprado há seis anos por um multimilionário tailandês ajuda, mas a
atração desse investidor não surgiu por acaso e a decisão de investir a longo
prazo em vez de optar por compras caras de jogadores famosos veio a mostrar-se
decisiva e vitoriosa.
Mas, em termos desportivos, Leicester não se vem afirmando apenas no
futebol. O seu clube de rugby é também dos melhores de Inglaterra.
Leicester surge hoje como um exemplo para muitas outras cidades e não
apenas inglesas. Depois de um período de afundamento económico, detectou quais as
suas capacidades e potenciais e reagiu conseguindo-as utilizar da melhor
maneira. Ao fim de trinta anos de esforço, Leicester é um exemplo de
recuperação e fulgor económico que se reflecte em diversas áreas como o
desporto e a cultura.
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