segunda-feira, 2 de maio de 2016

Coimbra (parte 2)


A classificação da Universidade e da Rua da Sofia como património da Humanidade pela Unesco não foi mais do que o reconhecimento do extraordinário valor patrimonial de Coimbra que, aliás, não se fica por ali. Basta recordar toda a Alta, a Igreja de Sta. Cruz com os túmulos dos nossos primeiros reis e a Sé Velha, para além do Mosteiro de Sta Clara-a-Velha, jóia patrimonial hoje patente em todo o seu esplendor. Tal como Sta. Clara-a-Nova que abriga o túmulo da Rainha Santa numa Igreja, toda ela espantosa.
O afluxo turístico crescente que procura Coimbra encontra uma oferta hoteleira variada e de qualidade, ao contrário de há poucas décadas.
A oferta cultural de Coimbra conta hoje, para além dos tradicionais organismos académicos, com diversas companhias de teatro profissionais dotadas de instalações devidamente equipadas. Coimbra afirma-se hoje também por ter uma orquestra profissional de música erudita residente que não poderá deixar de vir a ser aproveitada pelo novo equipamento do Convento de S. Francisco o qual, pela sua dimensão e qualidade, deverá levar Coimbra a competir culturalmente num campeonato completamente diferente do que conhecíamos antes. Não poderemos esquecer que é pela Cultura que actualmente qualquer Cidade se afirma a nível internacional. A cultura é a manifestação pura da liberdade e o maior diferenciador entre uma cidade perdida no passado e uma cidade viva e promotora da qualidade de vida das suas gentes.

Os conimbricenses criticam, muitas vezes com razão, aspectos menos felizes da Cidade e devem certamente continuar a fazê-lo porque a exigência é sempre uma atitude cívica correta e mesmo necessária. Mas desafio os leitores a, de vez em quando, saírem das suas voltas habituais e a fazerem turismo dentro da sua Cidade, a pé de preferência, e tentarem vê-la como os visitantes o fazem. Percorram os trajectos dos turistas, visitem a Universidade e a sua Biblioteca Joanina, vão ao Machado de Castro e criptopórtico, desçam à Baixa, uma vez pelo Quebra-Costas, outra vez pela Couraça de Lisboa, vão até à Praça Velha e passem pela casa medieval, olhem à volta e deliciem-se com aquilo por onde se passa tantas vezes sem ver com olhos de ver, como se costuma dizer. Da esquina do antigo governo civil encham os olhos com uma das vistas mais belas que conheço. Vão aos espectáculos de teatro e de música, visitem as exposições, que as há sempre em vários locais. Verificarão como Coimbra é hoje uma cidade diferente, virada para o futuro, e que espera de todos nós uma atitude consentânea com essa realidade, a começar pelos que, de uma forma ou outra, têm a responsabilidade de propor respostas políticas.
Os anos setenta e oitenta do século passado levaram grande parte do tecido económico de Coimbra. Não adianta chorar pelas indústrias que desapareceram interessa, sim, perceber porque isso aconteceu e de que maneira estamos a ultrapassar essa situação que não foi exclusiva de Coimbra, antes pelo contrário, basta ver as enormes áreas industriais abandonadas em Lisboa e no Porto. A adaptação a uma economia que está a transformar-se rapidamente em todo o mundo exige uma capacidade de resposta que passa muito pela flexibilidade e pela formação plural. Características essas proporcionadas pela existência de um ensino superior moderno e não elitista, virado para a investigação de topo, mas também para a ligação ao mundo da economia e da cultura, exigência da tecnologia dos nossos dias que rapidamente está a mudar as nossas vidas.
A saúde é um dos nossos bens mais preciosos e a garantia de que todos podem ter acesso às melhores condições para dela dispor é certamente um avanço civilizacional, mesmo dos mais importantes. E é uma área em que a afirmação de Coimbra a nível nacional, mas hoje também a nível mundial é uma verdade insofismável. A qualidade da formação superior em medicina, enfermagem e farmácia, bem como a investigação em todas as áreas ligadas à saúde, tem levado a uma afirmação que vai muito para além da oferta de excelentes serviços de saúde. A economia ligada à saúde é hoje em dia um “cluster” que em Coimbra tem uma importância extraordinária e condições para continuar a desenvolver-se e a aumentar o seu valor.

Estimado leitor, embora possa parecer uma declaração de amor a Coimbra, esta crónica que acabou por exceder o tamanho habitual e se dividiu em duas, é muito mais do que isso, é a minha demonstração de que Coimbra é muito melhor do que muitos dizem.

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