A propósito da publicação do relatório mundial de 2016 sobre a liberdade de
imprensa no mundo, a campanha da organização RSF (Repórteres Sem Fronteiras)
veio chamar a atenção para a realidade de uma forma apelativa e irónica,
classificando 2015 como um “ano excepcional para a censura”.
De acordo com a RSF, “os líderes mundiais estão “paranoicos” em relação aos
meios de comunicação e estão a limitar cada vez mais a liberdade de imprensa”.
Esta é uma conclusão que, à primeira vista, até poderá ser uma surpresa nestes
tempos em que nos habituámos a ter disponível nos nossos computadores e
telemóveis uma quantidade de informação antes impensável. E, no entanto…
A campanha da RSF colocou na mira doze Chefes de Estado que, de copo na mão
parecem festejar as suas vitórias contra a liberdade de imprensa, participando
na chamada “Festa Errada”. Desde o Burundi à Eritreia, passando pela China,
Rússia, Turquia, Arábia Saudita, Coreia do Norte, Venezuela, Azerbaijão ou
Tailândia, entre outros, vários países possuem lideranças políticas que
despedem jornalistas, mandam-nos para a cadeia e para campos militares ou
sujeitam-nos a açoites públicos, quando não promovem o seu assassínio. As
conclusões do relatório são preocupantes e devem-nos fazer pensar sobre o que
se passa no mundo nos dias de hoje já que, sem liberdade de imprensa pura e
simplesmente não existe Liberdade.
Nos últimos lugares da classificação estão o Turquemenistão, a Coreia do
Norte e a Eritreia, mas a China está logo a seguir a estes, o que nos deverá
colocar em alerta, atendendo à sua expansão económica no Ocidente onde compra
empresas estratégicas, como é o caso de Portugal. Não será uma novidade que as
piores zonas do mundo no que se refere à Liberdade de Imprensa sejam o Norte de
África e o Médio Oriente onde os jornalistas têm a sua actividade dificultada
ao máximo. Também não nos admiraremos ao constatar que, no cimo da tabela,
estão a Finlândia, a Holanda e a Noruega, países há muito praticantes da
liberdade de imprensa e onde o jornalismo de investigação é particularmente
respeitado e defendido.
No entanto, algo se passa mesmo na Europa onde hoje damos como adquiridos
determinados direitos como o da liberdade de informação. No ano de 2015 o
Governo polaco passou a ter completo controlo sobre a nomeação e afastamento
dos directores da rádio e da televisão pública. Mas também em França há
problemas, neste caso pela excessiva concentração da propriedade dos media o
que ameaça directamente o trabalho independente dos jornalistas.
Portugal aparece neste relatório na 23ª posição o que, não sendo
particularmente brilhante, também não nos envergonhará por aí além.
Nós portugueses deveríamos mesmo ser muito sensíveis a este tema, porque o
nosso tempo de fruição de liberdade de imprensa é ainda muito curto. Passámos
demasiados anos (centenas, mesmo) com uma censura religiosa férrea e durante
todo o Estado Novo houve igualmente Censura, desta vez por parte do estado.
E
só não passámos a ter outra censura pouco depois do 25 de Abril porque muitos
se levantaram contra essa tentativa por parte de forças políticas a coberto de
militares radicais do MFA.
A vontade de “matar o mensageiro das más notícias” como se costuma dizer
lembrando hábitos muito antigos, persiste ainda hoje de uma forma muito
evidente, mesmo entre nós. Há por aí políticos que parece não terem mesmo outro
“leitmotiv” do que acusar a comunicação social de todos os males e outros que
ficam doentes quando verdades incómodas são transmitidas. Melhor seria que
respeitassem quem transmite as notícias e olhassem com alguma réstea de
humildade para as suas fraquezas e mesmo fracassos que, esses sim, dão tantas
vezes cabo da vida das pessoas.
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