segunda-feira, 16 de maio de 2016

LIBERDADE DE IMPRENSA



Embora não se tenha notado muito na nossa comunicação social, celebrou-se no passado dia 3 de Maio o “Dia Internacional da Liberdade de Imprensa”. Motivo para avaliação da situação da liberdade de imprensa nos dias de hoje e da evolução que tem tido.
A propósito da publicação do relatório mundial de 2016 sobre a liberdade de imprensa no mundo, a campanha da organização RSF (Repórteres Sem Fronteiras) veio chamar a atenção para a realidade de uma forma apelativa e irónica, classificando 2015 como um “ano excepcional para a censura”.

De acordo com a RSF, “os líderes mundiais estão “paranoicos” em relação aos meios de comunicação e estão a limitar cada vez mais a liberdade de imprensa”. Esta é uma conclusão que, à primeira vista, até poderá ser uma surpresa nestes tempos em que nos habituámos a ter disponível nos nossos computadores e telemóveis uma quantidade de informação antes impensável. E, no entanto…
A campanha da RSF colocou na mira doze Chefes de Estado que, de copo na mão parecem festejar as suas vitórias contra a liberdade de imprensa, participando na chamada “Festa Errada”. Desde o Burundi à Eritreia, passando pela China, Rússia, Turquia, Arábia Saudita, Coreia do Norte, Venezuela, Azerbaijão ou Tailândia, entre outros, vários países possuem lideranças políticas que despedem jornalistas, mandam-nos para a cadeia e para campos militares ou sujeitam-nos a açoites públicos, quando não promovem o seu assassínio. As conclusões do relatório são preocupantes e devem-nos fazer pensar sobre o que se passa no mundo nos dias de hoje já que, sem liberdade de imprensa pura e simplesmente não existe Liberdade.
Nos últimos lugares da classificação estão o Turquemenistão, a Coreia do Norte e a Eritreia, mas a China está logo a seguir a estes, o que nos deverá colocar em alerta, atendendo à sua expansão económica no Ocidente onde compra empresas estratégicas, como é o caso de Portugal. Não será uma novidade que as piores zonas do mundo no que se refere à Liberdade de Imprensa sejam o Norte de África e o Médio Oriente onde os jornalistas têm a sua actividade dificultada ao máximo. Também não nos admiraremos ao constatar que, no cimo da tabela, estão a Finlândia, a Holanda e a Noruega, países há muito praticantes da liberdade de imprensa e onde o jornalismo de investigação é particularmente respeitado e defendido.
No entanto, algo se passa mesmo na Europa onde hoje damos como adquiridos determinados direitos como o da liberdade de informação. No ano de 2015 o Governo polaco passou a ter completo controlo sobre a nomeação e afastamento dos directores da rádio e da televisão pública. Mas também em França há problemas, neste caso pela excessiva concentração da propriedade dos media o que ameaça directamente o trabalho independente dos jornalistas.
Portugal aparece neste relatório na 23ª posição o que, não sendo particularmente brilhante, também não nos envergonhará por aí além.
Nós portugueses deveríamos mesmo ser muito sensíveis a este tema, porque o nosso tempo de fruição de liberdade de imprensa é ainda muito curto. Passámos demasiados anos (centenas, mesmo) com uma censura religiosa férrea e durante todo o Estado Novo houve igualmente Censura, desta vez por parte do estado. 

E só não passámos a ter outra censura pouco depois do 25 de Abril porque muitos se levantaram contra essa tentativa por parte de forças políticas a coberto de militares radicais do MFA.

A vontade de “matar o mensageiro das más notícias” como se costuma dizer lembrando hábitos muito antigos, persiste ainda hoje de uma forma muito evidente, mesmo entre nós. Há por aí políticos que parece não terem mesmo outro “leitmotiv” do que acusar a comunicação social de todos os males e outros que ficam doentes quando verdades incómodas são transmitidas. Melhor seria que respeitassem quem transmite as notícias e olhassem com alguma réstea de humildade para as suas fraquezas e mesmo fracassos que, esses sim, dão tantas vezes cabo da vida das pessoas.

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