Mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente
vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O que diria hoje
Camões sobre o que se passa no mundo? A velocidade das mudanças, a nível
global, parece mesmo ser superior à da evolução tecnológica e todos sabemos a
que ritmo esta evolui nos dias de hoje.
Ao longo do século
XX o vestuário usado nas praias evoluiu dos fatos completos até aos fatos de banho
e bikinis de hoje que dão ao corpo a liberdade de movimentos e o à-vontade adequados
à praia. De repente, precisamente nas praias francesas da Côte d’ Azur onde
surgiu o bikini e onde em tempos imperava Brigitte Bardot, surgem agora novamente
mulheres a tomar banho tapadas da cabeça aos pés.
O caminho de
integração europeia para uma Europa Unida foi interrompido pela Grã Bretanha
que decidiu sair e procurar um destino próprio. O populismo renasce e faz das
suas numa Europa que se julgaria ter ficado impune a tal, reabrindo a porta aos
nacionalismos mais obscurantistas e perigosos. Entretanto, a Grã Bretanha é classificada
pelo jornalista Roberto Saviano, que tem dedicado anos à pesquisa do tráfico
internacional da droga, como o país mais corrupto do mundo, garantindo que a
City alberga hoje a maior e mais eficaz máquina de lavar dinheiro que existe. Para
nosso espanto, a Comissão Europeia quer obrigar a Apple a pagar mais de 13 mil
milhões de Euros à Irlanda e este país recusa receber o dinheiro.
Na América do
Norte, enquanto os Democratas não escolheram um candidato socialista cujo
discurso se assemelhava em muitos aspectos ao nosso Bloco de Esquerda, os
Republicanos optaram por um populista que se afirma também “contra o sistema” e
assim consegue simpatias eleitorais impensáveis até há pouco, surgindo como
muito possível a eleição de um político ignorante, imaturo, arrogante,
mal-criado e insuportável em qualquer situação como é Donald Trump.
Na América do Sul,
a presidente Dilma Roussef do PT foi arredada da presidência do Brasil, sendo a
segunda vez que a actual democracia brasileira faz um impeachment presidencial,
depois de Collor de Melo em 1992. O Partido dos Trabalhadores, que em duas
presidências anteriores também tentou o “impeachment” contra Itamar Franco e
Fernando Henriques Cardoso, provou agora do seu próprio veneno, vendo-se
arredado do poder. A Venezuela está também à beira de uma mudança radical. A
desgraça económica e social trazida pelo populismo esquerdista do presidente
Maduro atirou o país para uma situação insustentável de que a única saída pacífica
parece ser realizar eleições presidenciais a curto prazo.
Aqui ao lado, em
Espanha, sem se obter entendimentos entre esquerdas e direitas, caminha-se
alegremente para terceiras eleições para escolher quem deverá governar em menos
de um ano, enquanto quem entretanto governa provisoriamente consegue atingir
números de sucesso económico com que nós só podemos sonhar.
Os Jogos Olímpicos
do Rio de Janeiro constituíram uma surpresa para muita gente, não tanto pelos
sucessos desportivos, mas por o Brasil, ao contrário do que muitos diziam, se
ter mostrado capaz de os organizar tão impecavelmente como qualquer outro país.
Estes Jogos tiveram ainda uma curiosidade que mostra como o mundo está a mudar,
em termos sociais e promocionais.
Muitos países escolheram grandes costureiros
para vestir os seus atletas. Até Cuba contratou alguém do mundo da moda para desenhar
a farda dos seus representantes, tendo escolhido o designer de sapatos Christian
Louboutin famoso pela altura dos saltos dos seus sapatos de mulher, pela cor
vermelha da sola e, já agora, pelos preços proibitivos.
Tudo muda neste
mundo e com grande rapidez, nos dias de hoje, embora sejam muitas vezes mais
mudanças na aparência do que na substância das coisas. Mas até Camões já
acabava o seu soneto mostrando alguma saudade das verdadeiras mudanças:
O tempo cobre o
chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
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