Ano e meio depois de ser eleito,
o presidente americano cumpriu na semana passada uma das suas promessas
eleitorais, ao decidir quebrar a participação do seu país no acordo nuclear com
o Irão conhecido por JCPOA (Joint Comprehensive Plan of Action) assinado em
2015 pelos EUA em conjunto com a França, o Reino Unido, a Alemanha, a Rússia e
a China além, claro, do Irão. O acordo visa, fundamentalmente, evitar que o
Irão venha a desenvolver armas nucleares, constituindo um passo muito
importante na luta contra a proliferação nuclear, ainda por cima numa zona com
uma conflitualidade histórica permanente, como é o médio-oriente. O Irão viu
descongelados os seus bens no estrangeiro e serem retiradas as sanções
económicas sendo ainda autorizado a vender petróleo, o que lhe permitiu ser
hoje o quinto maior produtor de crude do mundo levando a economia a uma
recuperação impossível sem este acordo. Como contrapartida, o Irão reduziu em
13.000 as quase 20.000 centrifugadoras utilizadas para enriquecer urânio,
entregou cerca de 98% do stock de urânio enriquecido que possuía e desmantelou
o seu único reactor de plutónio. Este complexo nuclear permitiria, logo em
2015, fazer uma bomba nuclear em poucos meses se o Irão decidisse seguir por
esse caminho, sendo possível fabricar até dez bombas nucleares com o material
já existente. Dos prazos constantes do acordo faz parte o fim do embargo às
armas iranianas em 2020, podendo o Irão retomar o seu programa nuclear com fins
pacíficos em 2030 terminando as inspecções às centrifugadoras em 2035.
A monitorização deste conjunto de
medidas cabe à Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), uma agência que
depende da ONU. Desde o início do JCPOA em 1 de Janeiro de 2016 a AIEA já
produziu 10 relatórios a certificar o cumprimento do acordo por parte do Irão
levando toda a comunidade internacional envolvida a descansar sobre a execução
do acordo.
Todos, excepto o presidente
americano que, desde a campanha eleitoral tem classificado o acordo como um
desastre, em parte pelos prazos indicados que, segundo ele, permitem ao Irão
vir a desenvolver armas nucleares, e pelo dinheiro que entende estar a ser
“dado” ao Irão com o fim das sanções económicas. Trump encontra-se agora bem
acompanhado nestas suas opções, já que o novo Conselheiro de Segurança John
Bolton defende igualmente a saída do acordo e o novo Secretário de Estado Mike
Pompeo desde há muito que classifica o acordo como desastroso. Não é possível
ignorar ainda outra circunstância que não terá nada a ver directamente com o
caso, mas ainda que não acreditando em bruxas, que as há, há, como se costuma
dizer. O novo presidente da influente NRA (National Rifle Association), o maior
lobby a favor da liberdade de venda de armas nos EUA é o tristemente célebre
Coronel Oliver North do célebre escândalo Irão-Contras que, nos anos finais da
década de 1980, assumiu a responsabilidade por violações á lei americana,
precisamente na venda de armas ao Irão.
Curiosamente, o momento escolhido por Trump para esta atitude coincide
com o fim da “guerra de palavras” com o líder da Coreia do Norte que parecia
seguir uma escalada com um final perigoso. Não podemos deixar de notar esta
coincidência temporal, dado que o líder norte-coreano Kim Jong-un, numa
reviravolta repentina resolveu, pelo menos aparentemente, restabelecer relações
com a Coreia do Sul e sentar-se à mesa para negociações tendo já sido marcada
uma cimeira entre os dois líderes para a primeira quinzena de Junho em
Singapura
Apesar de tudo, Trump deixou ainda em aberto a hipótese de haver
negociações para um novo acordo, o que poderá sugerir que tem em mente a
hipótese de o Irão vir a mudar de posição perante posições de força como terá
sucedido com a Coreia do Norte. Se for esse o caso, estará completamente
enganado. O médio-oriente não é a península da Coreia, neste caso os EUA estão
isolados no Conselho de Segurança das Nações Unidas e, fundamentalmente, a
República Islâmica xiita dos ayatolás iranianos já mostrou à saciedade que não
é para brincadeiras, como aliás os americanos bem sabem, dado o historial do
seu relacionamento mútuo desde 1979.
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