A realização de intervenções de dimensão assinalável no tecido urbano
existente reveste-se sempre de riscos evidentes, já que há sempre muita coisa
que pode correr mal. Pela complexidade, variedade de matérias e interesses
envolvidos exigem forte capacidade e vontade política, mas também profundos
conhecimentos técnicos em diversas áreas como as ciências urbanísticas e jurídicas,
para além de suficiente sensibilidade social porque, além de território, também
são envolvidas pessoas concretas.
Hoje, passados cerca de dezoito anos sobre o início das diversas
operações de carácter urbanístico levadas a efeito na zona do Calhabé na
sequência da decisão de remodelar o velho Estádio Municipal para acolher dois
jogos do Euro 2004, já é possível avaliar a intervenção realizada naquela zona
da Cidade.
O projecto de arquitectura da remodelação do Estádio deu-lhe um carácter
urbano com uma excelente integração na zona permitindo que viesse a ter uma
utilização comercial e de serviços, para além da utilização desportiva. Estão
de parabéns o presidente da Câmara de então Dr. Manuel Machado e o Arquitecto
António Monteiro, responsável pelo projecto, pelas decisões então tomadas que
exigiram aprofundado conhecimento técnico e coragem política. Não fora o
conjunto de decisões de projecto então tomadas e, provavelmente, o Estádio Cidade
de Coimbra faria hoje companhia a outros exemplos tristes de insucesso que
todos conhecemos.
Mas o estádio foi apenas a mola iniciadora de um conjunto de intervenções
levadas a cabo em toda a zona que, no seu conjunto, lhe deu um carácter de
centralidade urbana que é hoje inegável.
A construção de novos equipamentos desportivos de grande qualidade veio
aumentar a atractividade de Coimbra para eventos nacionais e internacionais na
área dos diversos desportos, mas também proporcionar aos desportistas da Cidade
a hipótese de praticar as suas modalidades em condições de segurança e
conforto. A antiga Praça Heróis do Ultramar que na realidade mais não era que
um parque de estacionamento ao ar livre com um diminuto espaço para peões no
meio, transformou-se numa área com relvados, devidamente arborizada, com bancos
e capacidade de atração de utentes. Basta ver a forma como os jovens das
escolas adjacentes a ocupam durante os intervalos das aulas para se perceber a
adequação do projecto aos objectivos. Tudo isto possível pela intervenção
urbanística no topo Norte do Estádio, realizada por promotor encontrado em
concurso público internacional.
Mas há ainda outra intervenção na zona que merece um destaque especial.
A zona da Fonte da Cheira localizada entre a Solum e as Bandeiras (Rua do
Brasil/Estrada da Beira) constituía uma chaga urbanística encaixada entre duas
áreas de desenvolvimento urbano evidente. Não era fácil encontrar uma solução,
até porque ali se desenvolviam actividades económicas em mais de trinta
estabelecimentos em condições muito deficientes, havendo ainda alguns
moradores. Integrado nas chamadas “acessibilidades ao Euro” foi desenvolvido um
plano urbanístico, concretizado através de uma “Unidade de Execução”, abrangendo
a abertura de uma nova via entre a Rua do Brasil e a Solum, hoje a Rua
Monsenhor Nunes Pereira. Tratou-se uma intervenção pioneira no país, que exigiu
capacidades excepcionais a nível jurídico (trabalho excelente da Doutora
Fernanda Paula Oliveira, professora da Fac. de Direito) mas também competência
técnica para um desenho urbano adequado e de grande qualidade do ponto de vista
urbanístico elaborado por quadros da Câmara Municipal de Coimbra (Arq. Paulo
Fonseca e Eng. Fernando Rebelo).
Os estimados leitores desta crónica estranharão, talvez, o elevado
número de referências a pessoas concretas que intervieram neste processo. Mas
as grandes decisões que introduzem transformação na Cidade não devem ficar
anónimas, particularmente quando significa progresso. É por isso que não posso
deixar de referir os dois grandes responsáveis políticos pela extraordinária
intervenção pública nesta área da Cidade, sem paralelo nas últimas dezenas de
anos da sua História. Sem a sagacidade e experiência política do então presidente
da Câmara Dr. Carlos Encarnação e sem a competência, dedicação e determinação
do seu Vereador do Urbanismo Eng. João Rebelo nada disto teria sido possível,
pelo que é da mais elementar justiça fazer-lhes aqui referência pelo trabalho exemplar
feito em prol do desenvolvimento da Cidade.
Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Junho de 2018
Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Junho de 2018
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