segunda-feira, 4 de junho de 2018

Fazer Cidade, bem.



A realização de intervenções de dimensão assinalável no tecido urbano existente reveste-se sempre de riscos evidentes, já que há sempre muita coisa que pode correr mal. Pela complexidade, variedade de matérias e interesses envolvidos exigem forte capacidade e vontade política, mas também profundos conhecimentos técnicos em diversas áreas como as ciências urbanísticas e jurídicas, para além de suficiente sensibilidade social porque, além de território, também são envolvidas pessoas concretas.
Hoje, passados cerca de dezoito anos sobre o início das diversas operações de carácter urbanístico levadas a efeito na zona do Calhabé na sequência da decisão de remodelar o velho Estádio Municipal para acolher dois jogos do Euro 2004, já é possível avaliar a intervenção realizada naquela zona da Cidade.
O projecto de arquitectura da remodelação do Estádio deu-lhe um carácter urbano com uma excelente integração na zona permitindo que viesse a ter uma utilização comercial e de serviços, para além da utilização desportiva. Estão de parabéns o presidente da Câmara de então Dr. Manuel Machado e o Arquitecto António Monteiro, responsável pelo projecto, pelas decisões então tomadas que exigiram aprofundado conhecimento técnico e coragem política. Não fora o conjunto de decisões de projecto então tomadas e, provavelmente, o Estádio Cidade de Coimbra faria hoje companhia a outros exemplos tristes de insucesso que todos conhecemos.
Mas o estádio foi apenas a mola iniciadora de um conjunto de intervenções levadas a cabo em toda a zona que, no seu conjunto, lhe deu um carácter de centralidade urbana que é hoje inegável.
A construção de novos equipamentos desportivos de grande qualidade veio aumentar a atractividade de Coimbra para eventos nacionais e internacionais na área dos diversos desportos, mas também proporcionar aos desportistas da Cidade a hipótese de praticar as suas modalidades em condições de segurança e conforto. A antiga Praça Heróis do Ultramar que na realidade mais não era que um parque de estacionamento ao ar livre com um diminuto espaço para peões no meio, transformou-se numa área com relvados, devidamente arborizada, com bancos e capacidade de atração de utentes. Basta ver a forma como os jovens das escolas adjacentes a ocupam durante os intervalos das aulas para se perceber a adequação do projecto aos objectivos. Tudo isto possível pela intervenção urbanística no topo Norte do Estádio, realizada por promotor encontrado em concurso público internacional.
Mas há ainda outra intervenção na zona que merece um destaque especial. A zona da Fonte da Cheira localizada entre a Solum e as Bandeiras (Rua do Brasil/Estrada da Beira) constituía uma chaga urbanística encaixada entre duas áreas de desenvolvimento urbano evidente. Não era fácil encontrar uma solução, até porque ali se desenvolviam actividades económicas em mais de trinta estabelecimentos em condições muito deficientes, havendo ainda alguns moradores. Integrado nas chamadas “acessibilidades ao Euro” foi desenvolvido um plano urbanístico, concretizado através de uma “Unidade de Execução”, abrangendo a abertura de uma nova via entre a Rua do Brasil e a Solum, hoje a Rua Monsenhor Nunes Pereira. Tratou-se uma intervenção pioneira no país, que exigiu capacidades excepcionais a nível jurídico (trabalho excelente da Doutora Fernanda Paula Oliveira, professora da Fac. de Direito) mas também competência técnica para um desenho urbano adequado e de grande qualidade do ponto de vista urbanístico elaborado por quadros da Câmara Municipal de Coimbra (Arq. Paulo Fonseca e Eng. Fernando Rebelo).
Os estimados leitores desta crónica estranharão, talvez, o elevado número de referências a pessoas concretas que intervieram neste processo. Mas as grandes decisões que introduzem transformação na Cidade não devem ficar anónimas, particularmente quando significa progresso. É por isso que não posso deixar de referir os dois grandes responsáveis políticos pela extraordinária intervenção pública nesta área da Cidade, sem paralelo nas últimas dezenas de anos da sua História. Sem a sagacidade e experiência política do então presidente da Câmara Dr. Carlos Encarnação e sem a competência, dedicação e determinação do seu Vereador do Urbanismo Eng. João Rebelo nada disto teria sido possível, pelo que é da mais elementar justiça fazer-lhes aqui referência pelo trabalho exemplar feito em prol do desenvolvimento da Cidade.

Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Junho de 2018

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