Embora a moderna ciência nos possa baralhar a percepção que temos do
tempo, como Stephen Hawking nos ensina na sua “BREVE HISTÓRIA DO TEMPO”, na
realidade a nossa dimensão humana reduz-nos à velha ideia de que nos
encontramos a percorrer uma linha num único sentido, em que num determinado
instante nos encontramos num ponto, com o passado a ficar cada vez mais para
trás, enquanto esperamos que haja algum futuro, que não conhecemos, à nossa
frente. É a seta do tempo que Hawking designa como psicológica, aquela que
podemos perceber facilmente, ao contrário das outras setas, a termodinâmica do
aumento da desordem ou entropia e a cosmológica devida à expansão do universo.
E é nesta seta que nos é familiar que nos sentimos confortáveis, olhando
à nossa volta. O facto de a velocidade da luz ser constante levou a Humanidade
a descobrir a Relatividade e a equacionar seriamente a máquina do tempo enquanto
os cientistas todos os dias descobrem novidades nesta área do conhecimento, que
levam a fazer novas e mais complexas perguntas a pedir respostas. Será de facto
possível construir uma máquina do tempo? Poderemos algum dia visitar o futuro?
O Físico Fernando Carvalho Rodrigues, famoso como sendo o “pai” do primeiro
satélite português, respondeu em tempos a esta pergunta. E a resposta foi: nós
já temos a máquina do tempo, são os nossos filhos. Porque nos projectam para o
futuro. Desde que nascem mostram-se diferentes de nós, com as suas próprias
características identificadoras, mas sendo durante alguns anos completamente
dependentes. E é magnífico e compensador vê-los crescer em tamanho, mas também
em capacidade de integração no mundo, de aprendizagem do seu próprio papel e
mesmo de capacidade de mudar o que os rodeia. Sempre com personalidade própria,
mas sendo possível detectar neles algo nosso muito concreto. E, porque connosco
crescem, esse acompanhamento, que dura até darem os passos necessários para as
suas vidas já independentes, permite um conhecimento íntimo deles, que eles
próprios não adivinham.
Mas os filhos fazem parte do nosso presente, tal como os nossos pais,
ainda que já tenham partido. Grande parte das vidas dos nossos pais foram ou
são ainda vividas em conjunto connosco e, se infelizmente for esse o caso, quanto
mais tempo passa sobre a sua morte, mais presentes estão na nossa memória. Já o
mesmo não sucede com os avós e os netos. Se aqueles são o passado, já estes
últimos são algo de muito especial e diferente. Já não se nos ligam
directamente, mas através dos seus próprios pais, nossos filhos. Os netos têm a
possibilidade de nos trazer ao presente as memórias dos seus próprios pais,
quando crianças, quer por atitudes, quer por gestos e mesmo carinhos, e isso é
algo que sentimos interiormente de uma forma impossível de transmitir.
Voltando a Stephen Hawking, é como se nós próprios nos situássemos no
ponto improvável de simultaneidade dos vértices comuns dos dois cones de luz inversos
do diagrama espaço/tempo. Os nossos pais estabelecem a ligação ao cone do
passado, onde estão os nossos avós e todos aqueles que nos antecederam. Já os
filhos abrem-nos o cone do futuro, onde já estão os nossos netos e quem,
eventualmente, vier a preencher esse futuro. Os netos são, assim, algo de
verdadeiramente especial já que nos oferecem qualquer coisa de maravilhoso, que
é a possibilidade de ver o futuro. Se os filhos são a nossa máquina do tempo
que nos permite projectarmo-nos no futuro, os netos são já esse futuro palpável
e visível, que serão eles próprios o presente num futuro em que já cá não
estaremos, a não ser no seu próprio passado.
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