Na
semana passada o PSD absteve-se na Assembleia da República na votação da
alteração às leis laborais, oferecendo ao Governo e ao partido Socialista a
aprovação da legislação, uma vez que os partidos que sustentam o Governo
votaram contra. O líder do PSD justificou esse voto com o “interesse nacional”,
como se todas as leis aprovadas na Assembleia da República não merecessem esse
qualificativo. Ainda na semana passada, o PSD voltou a abster-se para “salvar”
o governo e o partido Socialista na votação em plenário de uma proposta vinda
da comissão de agricultura, na sequência de uma proposta do PCP que só
surpreende por defender a propriedade privada. Segundo a proposta os
proprietários de terrenos obrigados a ceder parcelas para a criação das
chamadas “faixas de gestão de combustível”, através da constituição de
servidões administrativas, deveriam ser indemnizados. Neste caso, a posição do
PSD tornou-se ainda mais conspícua, porque significou um volte face, à última
hora, relativamente às posições que haviam sido as suas, até então.
Estamos
todos a assistir, por estes dias, a uma pantominice levada a cabo pelo partido
Socialista e os outros partidos apoiantes do Governo sobre a aprovação do
Orçamento de Estado do próximo ano que, como é evidente, está mais que
garantida. E o que faz o PSD perante esta farsa? Vem ajudar à festa, através do
Dr. Silva Peneda, um dos principais conselheiros do líder do partido, que há
poucas semanas veio garantir que “o PSD não deve deixar cair o Governo se o
Bloco e o PCP roerem a corda na votação do Orçamento para 2019”.
Os
portugueses ficaram certamente muito mais descansados e a sua confiança no
Governo só poderia, como se verificou logo nas sondagens seguintes, ter uma
subida apreciável, o que é notável face à percepção generalizada dos graves
problemas por que o país passa.
Aqui as
sondagens até serão o que menos nos interessa. O importante é verificar que
toda a actuação política do Dr. Rui Rio desde que assumiu a liderança do PSD tem
como efeito posicionar o partido Socialista no centro do espectro político,
precisamente num tempo em que este abandonou a sua histórica separação da
extrema-esquerda que vinha dos tempos de 1975. Para quem justificou a sua
corrida à liderança com a suposta “fuga” do PSD do seu caminho social-democrata
de centro esquerda verificada nos anos anteriores, o resultado não podia ser
mais contraditório. Ao recentrar o PS, está evidentemente a puxar o PSD para
fora desse centro, já que a existência de dois partidos no mesmo sítio é coisa
que só pode existir na cabeça de distraídos.
Na
verdade, tudo isto são minudências, embora tenham o seu significado simbólico e
todos sabemos como os símbolos são importantes em política. O que interessa,
para um partido que tem a obrigação de ser uma verdadeira alternativa ao
partido que está no poder e nunca a sua muleta, é apresentar propostas claras,
objectivas e definidoras de um futuro diferente. Isto é, tem que exercer uma
oposição forte e sem tibiezas, esclarecendo para que serve votar nele.
O seu
líder não pode andar a dizer que “é necessário políticas sociais de
proximidade” ou que “o país precisa de uma reforma judicial”, banalidades
genéricas ao alcance de qualquer militante neófito de uma qualquer juventude
partidária.
Ao
deixar o papel essencial de definidor das linhas necessárias para o futuro ao Governo,
como Augusto Santos Silva fez numa importantíssima entrevista recente, o PSD
está a perder todas as oportunidades de afirmação, remetendo-se a um papel
secundário que nunca deveria ser o seu. O PSD transmite actualmente uma imagem
de quem diz que anda à caça do javali que lhe come as plantações, mas que dispara
contra todos os pássaros que lhe aparecem pela frente, deixando obviamente a
caça em alegre liberdade.
A não
ser que a liderança do PSD esteja mesmo a seguir o princípio de que “as
eleições não se ganham, perdem-se” invocado pelo Dr. Rui Rio logo a seguir à
tomada de posse como líder do PSD. Se for realmente esse o caso, bem pode
afirmar que o PSD vai vencer as próximas europeias, as próximas legislativas e
as próximas autárquicas, que toda a gente percebe que se trata apenas de
recados para o interior do partido, tentando calar vozes discordantes.
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