O dia 29 de Março já lá vai, 12 de Abril idem e
agora será até 31 de Outubro. Esta foi a data limite definida no Conselho
Europeu da passada quinta-feira para se concretizar a saída do Reino Unido da
União Europeia. Foi o consenso mínimo entre o presidente francês que pretendia
um prazo mais curto e os restantes líderes europeus dispostos a dar aos
britânicos o prazo que quisessem. Desta forma, o Reino Unido terá que realizar
ainda as eleições para o Parlamento Europeu no final de Maio mas, no caso de
não haver mais adiamentos, terá que sair antes da tomada de posse da nova
Comissão Europeia.
Penso não andar muito longe da realidade se
disser que todo este processo era inimaginável, mesmo depois do referendo de
Junho de 2016 que ditou a vontade de saída dos cidadãos britânicos da União
Europeia. O prazo ditado pelo Artigo 50º encontra-se ultrapassado, o que está
aceite pelos membros da EU, não tendo o governo dirigido por Theresa May conseguido
fazer aprovar no parlamento britânico o acordo negociado com a EU, mas não
havendo também lugar a uma saída sem acordo, aquilo a que se convencionou
chamar “hard brexit”.
Por um lado, os políticos britânicos nunca se
conseguiram entender quanto ao melhor processo de organizar a saída. A
primeira-ministra May vê-se a braços com as críticas dos defensores da linha
dura do seu partido Conservador que, sistematicamente, a levam a perder as
votações no parlamento. Do lado do partido Trabalhista, é visível uma fome de
alcançar o poder através de eleições imediatas, não se percebendo uma linha clara
no que diz respeito à decisão sobre o Brexit. A hipótese de segundo referendo tem
sido liminarmente rejeitada por May, coerente com a tradição democrática
britânica de escrupuloso respeito pela vontade popular livremente manifestada
pelo voto. Assim se chegou a um beco cuja saída, seja ela qual for, não se fará
sem graves consequências para o futuro do que hoje é o Reino Unido.
Do lado dos 27, e pela primeira vez, houve
discussão séria sobre a posição a adoptar face ao pedido britânico de adiamento
do Art. 50º. O presidente Macron manifestou claramente estar farto deste
processo que se sobrepõe à vida normal da União Europeia e vem agora falar de
“renascimento europeu”. Mas a verdade é que ninguém obrigou o Reino Unido a
sair da União, parecendo ser consensual que todos os outros países membros
prefeririam que esta questão nem se tivesse colocado. Do lado dos 27 não se
discute a possibilidade de renegociar o acordo alcançado o governo do Reino
Unido, pelo que do seu lado, apenas se espera que os britânicos aprovem o texto
acordado. Este acordo já foi levado aos Comuns por Theresa May por três vezes,
tendo sido sempre rejeitado, pelo que a esperança mais ou menos expressa pelos
líderes europeus e da própria União é que os britânicos acabem por enveredar pelo
caminho de um segundo referendo. No fundo, esperam que suceda o mesmo que
noutras situações anteriores em que segundos referendos vieram a aprovar o
pretendido pelos órgãos comunitários. Não me parece nada que isso venha a
suceder, em primeiro lugar pela tradição democrática britânica e em segundo
lugar porque nada leva a supor que o resultado viesse a ser diferente do do
primeiro.
As declarações dos líderes europeus, aliás, não ajudam em nada a mudar o sentimento do povo britânico. É o caso das afirmações do presidente do Conselho Europeu Donald Tusk quando reconhece que o seu sonho secreto é que o Brexit nunca venha a suceder no que pode ser entendido como uma pressão inadmissível pelos britânicos sempre ciosos da independência do seu país. Mas Ângela Merkel foi no mínimo incoerente ao reconhecer que o parlamento alemão Bundestag também nunca aprovaria o acordo alcançado, se fosse esse o caso. Isto é, há na União Europeia quem seja de opinião que aquele acordo é humilhante para o Reino Unido e que a União aproveitou as negociações para mostrar a todos os seus membros que a saída é uma opção a evitar, seja por quem for.
As declarações dos líderes europeus, aliás, não ajudam em nada a mudar o sentimento do povo britânico. É o caso das afirmações do presidente do Conselho Europeu Donald Tusk quando reconhece que o seu sonho secreto é que o Brexit nunca venha a suceder no que pode ser entendido como uma pressão inadmissível pelos britânicos sempre ciosos da independência do seu país. Mas Ângela Merkel foi no mínimo incoerente ao reconhecer que o parlamento alemão Bundestag também nunca aprovaria o acordo alcançado, se fosse esse o caso. Isto é, há na União Europeia quem seja de opinião que aquele acordo é humilhante para o Reino Unido e que a União aproveitou as negociações para mostrar a todos os seus membros que a saída é uma opção a evitar, seja por quem for.
Infelizmente, a questão do Brexit está a mostrar
o pior da União Europeia: a fragilidade das opiniões nacionais perante o
Conselho e a Comissão, a incapacidade de negociar de forma decente e o
tratamento desonroso a quem, legitimamente, a pretender abandonar. E isso é mau
para todos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 15 de Abril de 2019
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