No passado dia 24 de Março, dezenas de pessoas tiveram a oportunidade de assistir a um dos melhores concertos dos últimos tempos, em Coimbra. Na antiga Igreja do Convento de S. Francisco, a Orquestra Clássica do Centro apresentou um programa excepcional, seja pelas peças apresentadas, seja pela qualidade das interpretações, seja ainda pelo contexto do Concerto.
Tratou-se do Concerto de encerramento de uma Masterclass
sobre direcção de orquestra, dirigida pelo internacionalmente consagrado
Maestro Johannes Schlaefli que é também Professor na Universidade de Belas
Artes de Zurique, numa acção conjunta da OCC e daquela Universidade. O programa
incluiu o Concerto para Violino de Mendelssohn e a Terceira Sinfonia de
Beethoven, obras sobejamente conhecidas e apreciadas por todos os amantes da
Música. No Concerto para Violino, a orquestra foi dirigida pela jovem maestrina
coreana Holly Choe participante e o
solista foi o violinista português Manuel de Almeida Ferrer; como comentário, apenas se poderá
dizer que quem não assistiu ficou a perder, tanto pela prestação da orquestra,
como pelo brilho da actuação do jovem violinista a quem se augura um grande
futuro artístico. Na SinfoniaHeróica a orquestra foi dirigida, nos seus
andamentos, sucessivamente pelos jovens maestros Johannes Zahn da Alemanha,
Jonas Bürgin da Suíça e maestrina Nil Venditti de Itália. Também nestas
interpretações o público aplaudiu calorosamente, dada a qualidade das
interpretações.
O Concerto e, principalmente a Masterclass que lhe deu
origem, constituíram uma forma de cooperação internacional exemplar, com
participantes portugueses, mas também da Suíça, da Alemanha, de Itália e da
Coreia do Sul. Foram estabelecidos laços culturais, pessoais e profissionais
entre instituições nacionais e estrangeiras, assim se construindo uma
cooperação transnacional de que Coimbra foi o centro agregador.
A formação, a nível superior, de artistas jovens que,
pelo seu papel irão num futuro já próximo dirigir formações orquestrais em
Portugal e no resto do mundo constitui um instrumento privilegiado de definição
de uma estratégia cultural a longo prazo. A cooperação transnacional vem “reforçar o
alcance, a diversidade e a dimensão europeia da oferta cultural” em Coimbra,
melhorando igualmente o seu perfil internacional, não nos podendo esquecer da
impressão sobre a Cidade que os participantes estrangeiros vão contar no
regresso aos seus países. A sua deslocação a Coimbra não foi em turismo, mas
para participar numa actividade cultural, não deixando, no entanto, de ter
proporcionado a criação de uma visão da Cidade que transportaram consigo. Por
outro lado, os músicos portugueses que participaram na Masterclass, bem como os
da OCC, tiveram contacto com outras formas de abordar a arte que é igualmente a
sua profissão, enquanto se pode dizer que se internacionalizaram e participaram
na construção de pontes culturais com outros países.
Há duas semanas, o grupo encarregado pela Câmara de
preparar a candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura 2027 promoveu a
realização de um fórum internacional destinado a discutir e reflectir sobre as
capitais europeias da cultura do século XXI. Foi possível ouvir especialistas
portugueses e estrangeiros aconselhando à preparação da candidatura, mas não
ainda sobre a própria candidatura, sabendo-se da sua complexidade, das várias
cidades que já preparam concretamente as suas candidaturas e ainda que a
abertura oficial das candidaturas terá lugar em 2021, já amanhã, portanto.
Contudo, não posso deixar de dizer que, sinceramente, não gostei de ouvir Artur
Santos Silva sugerir que Coimbra vá ter com a Casa da Música do Porto para
preparar a sua programação na área da Música, como se Coimbra não tivesse
capacidade para o fazer.
Foi por isso que, pessoalmente, não pude deixar de pensar
em todas estas circunstâncias ao assistir ao Concerto da OCC, onde não vi
qualquer elemento da comissão daquela candidatura o que, convenhamos, não deixa
de ser estranho. E não deixa de ser interessante verificar como a realização da
iniciativa levada a cabo pela OCC constitui, na prática, um exemplo perfeito de
como Coimbra se deve organizar para conseguir o objectivo de vir a ser Capital
Europeia da Cultura em 2027.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 1 de Abril de 2019
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