segunda-feira, 1 de abril de 2019

CULTURA, COIMBRA, 2019



No passado dia 24 de Março, dezenas de pessoas tiveram a oportunidade de assistir a um dos melhores concertos dos últimos tempos, em Coimbra. Na antiga Igreja do Convento de S. Francisco, a Orquestra Clássica do Centro apresentou um programa excepcional, seja pelas peças apresentadas, seja pela qualidade das interpretações, seja ainda pelo contexto do Concerto.
Tratou-se do Concerto de encerramento de uma Masterclass sobre direcção de orquestra, dirigida pelo internacionalmente consagrado Maestro Johannes Schlaefli que é também Professor na Universidade de Belas Artes de Zurique, numa acção conjunta da OCC e daquela Universidade. O programa incluiu o Concerto para Violino de Mendelssohn e a Terceira Sinfonia de Beethoven, obras sobejamente conhecidas e apreciadas por todos os amantes da Música. No Concerto para Violino, a orquestra foi dirigida pela jovem maestrina coreana  Holly Choe participante e o solista foi o violinista português Manuel de Almeida Ferrer; como comentário, apenas se poderá dizer que quem não assistiu ficou a perder, tanto pela prestação da orquestra, como pelo brilho da actuação do jovem violinista a quem se augura um grande futuro artístico. Na SinfoniaHeróica a orquestra foi dirigida, nos seus andamentos, sucessivamente pelos jovens maestros Johannes Zahn da Alemanha, Jonas Bürgin da Suíça e maestrina Nil Venditti de Itália. Também nestas interpretações o público aplaudiu calorosamente, dada a qualidade das interpretações.
O Concerto e, principalmente a Masterclass que lhe deu origem, constituíram uma forma de cooperação internacional exemplar, com participantes portugueses, mas também da Suíça, da Alemanha, de Itália e da Coreia do Sul. Foram estabelecidos laços culturais, pessoais e profissionais entre instituições nacionais e estrangeiras, assim se construindo uma cooperação transnacional de que Coimbra foi o centro agregador.
A formação, a nível superior, de artistas jovens que, pelo seu papel irão num futuro já próximo dirigir formações orquestrais em Portugal e no resto do mundo constitui um instrumento privilegiado de definição de uma estratégia cultural a longo prazo. A cooperação transnacional vem “reforçar o alcance, a diversidade e a dimensão europeia da oferta cultural” em Coimbra, melhorando igualmente o seu perfil internacional, não nos podendo esquecer da impressão sobre a Cidade que os participantes estrangeiros vão contar no regresso aos seus países. A sua deslocação a Coimbra não foi em turismo, mas para participar numa actividade cultural, não deixando, no entanto, de ter proporcionado a criação de uma visão da Cidade que transportaram consigo. Por outro lado, os músicos portugueses que participaram na Masterclass, bem como os da OCC, tiveram contacto com outras formas de abordar a arte que é igualmente a sua profissão, enquanto se pode dizer que se internacionalizaram e participaram na construção de pontes culturais com outros países.

Há duas semanas, o grupo encarregado pela Câmara de preparar a candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura 2027 promoveu a realização de um fórum internacional destinado a discutir e reflectir sobre as capitais europeias da cultura do século XXI. Foi possível ouvir especialistas portugueses e estrangeiros aconselhando à preparação da candidatura, mas não ainda sobre a própria candidatura, sabendo-se da sua complexidade, das várias cidades que já preparam concretamente as suas candidaturas e ainda que a abertura oficial das candidaturas terá lugar em 2021, já amanhã, portanto. Contudo, não posso deixar de dizer que, sinceramente, não gostei de ouvir Artur Santos Silva sugerir que Coimbra vá ter com a Casa da Música do Porto para preparar a sua programação na área da Música, como se Coimbra não tivesse capacidade para o fazer.
Foi por isso que, pessoalmente, não pude deixar de pensar em todas estas circunstâncias ao assistir ao Concerto da OCC, onde não vi qualquer elemento da comissão daquela candidatura o que, convenhamos, não deixa de ser estranho. E não deixa de ser interessante verificar como a realização da iniciativa levada a cabo pela OCC constitui, na prática, um exemplo perfeito de como Coimbra se deve organizar para conseguir o objectivo de vir a ser Capital Europeia da Cultura em 2027.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 1 de Abril de 2019

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