jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
sexta-feira, 28 de junho de 2019
terça-feira, 25 de junho de 2019
Modigliani, ou a beleza eterna do corpo feminino
Partilho um artigo do blogue mydailyartdisplay que aconselho vivamente. Este artigo apresenta uma evolução da criação artística do corpo da mulher ao longo da história da Arte e é muito interessante.
https://mydailyartdisplay.wordpress.com/2013/09/21/amedeo-modigliani-part-3-the-female-nude-paintings/
segunda-feira, 24 de junho de 2019
AÍ ESTÃO AS ELEIÇÕES
Estamos no fim de Junho,
Julho já é mês de férias para muita gente e de Agosto, nem se fala, fica o país
parado. Isto é, sendo as eleições legislativas na primeira semana de Outubro,
restará Setembro para os partidos apresentarem as suas propostas e argumentos,
sem que haja tempo para discutir seriamente, seja o que for. Isto significa
que, caso não haja nenhum cataclismo, por natureza imprevisível, os eleitores
pouco mudarão o seu sentido de voto daqui para diante. As opções políticas
serão, assim, mais fruto do que se passou nos últimos anos, do que daquilo que
a imaginação dos dirigentes partidários conseguirá ainda produzir para tentar
convencer eventuais indecisos.
E o que se passou em
Portugal nos últimos quatro anos? As eleições ocorreram no final de 2015 quando
o país tinha dado a volta e todos os índices já tinham invertido a trajectória
descendente anterior, casos do crescimento económico e do desemprego. A
esquerda parlamentar deu ao PS a possibilidade de formar Governo minoritário,
garantindo-lhe a estabilidade através da aprovação dos Orçamentos de Estado.
Contudo, essa garantia foi obtida com negócios bilaterais, nunca tornados
públicos, do PS com o PCP e o BE (além dos Verdes) construindo uma maioria
aritmética, mas não uma plataforma política comum. Esta circunstância, que pode
parecer de somenos, não o é, tendo implicações muito sérias na governação do
país, cujos sinais se revelam neste momento, a poucos meses das novas eleições.
O primeiro orçamento do Governo
socialista, que ainda seguia as orientações políticas propostas eleitoralmente,
embateu com violência em Bruxelas, regressando para ser alterado, iniciando-se
aí uma reviravolta que erigiu o défice como prioridade máxima. Embora os
partidos apoiantes do governo na AR tenham aqui e ali manifestado alguma
discordância, o que é facto é que, nos momentos cruciais da aprovação dos
orçamentos, não falharam permitindo ao PS apresentar-se, no fim da legislatura,
como o novo campeão da luta pelas boas contas públicas. Claro que, como “não há
sol na eira e chuva no nabal”, a reversão das privatizações no transportes e a
recuperação dos cortes ao funcionalismo público tiveram que ser suportadas por
aumentos de impostos, no caso os indirectos, estando o país com a maior carga
fiscal desde 1995, sendo mesmo a “pressão fiscal”, que relaciona a carga fiscal
com os rendimentos das famílias, a maior de toda a União Europeia. Mas como os
impostos não foram suficientes, assistiu-se nesta legislatura a um corte
gigantesco no investimento público, enquanto as cativações foram utilizadas no
controlo da despesa pelas Finanças como nunca antes, em Democracia. As
consequências são já, neste momento, claramente visíveis no SNS e nos
transportes públicos, mas irão agravar-se seriamente nos próximos tempos. O anémico
crescimento económico dá uma sensação de recuperação muito bem aproveitada pelo
Governo, que vai dizendo que o país cresce acima da média europeia; esconde é
que essa média tem sido atirada para baixo pelos grandes países e que Portugal
desceu um lugar por ano durante a legislatura, aproximando-se perigosamente na
lanterna vermelha. Ao longo da legislatura, PCP e BE não foram mais do que
instrumentos de poder do PS, pelo que os seus resultados eleitorais deverão
reflectir isso mesmo.
E quanto à oposição de
direita? A passagem do PS para o lado dos defensores das boas contas, contrariando
o que fez antes, parece ter deixado PSD e CDS sem discurso. Em vez de saudarem
a passagem do PS para o lado da disciplina orçamental, manifestam incapacidade
de perceber que essas regras são um patamar mínimo de entendimento dos europeístas
convictos. É a partir daí que a direita deverá apresentar as suas próprias
propostas de actuação política, começando pelo crescimento económico, pela
liberdade de iniciativa, por uma reorganização mais eficiente do Estado a todos
os níveis e por garantir uma sustentabilidade social e ambiental na ocupação do
território, incluindo uma efectiva política de cidades. Propostas em tudo alternativas
ao actual estado de coisas, com outro modelo de sociedade. São aquilo que não
se tem visto a direita propor aos portugueses o que, ao que tudo indica, se
traduzirá num péssimo resultado eleitoral em Outubro, pelo que será a grande
responsável por uma maioria absoluta de António Costa.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 24 de Junho de 2019
sexta-feira, 21 de junho de 2019
Verão
Às 16h54 de hoje ocorre o solstício de verão de 2019. O solstício de verão é o momento em que o Sol atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do Equador, em Junho no hemisfério Norte correspondendo ao ponto em que a eclíptica se afasta mais para cima do equador celeste, no hemisfério Norte.
terça-feira, 18 de junho de 2019
Clara Ferreira Alves: Ser de direita
Aqui fica o artigo com o título acima, de Clara Ferreira Alves, na Revista do expresso de sábado passado. Deve ter deixado a arder as orelhas de dirigentes de PSD e CDS, todos muito centristas e a organizar grandes convenções teóricas para fazer algo que cabe numa página A4: um programa de governo.
«Quanto custa ser de direita em Portugal? Em Portugal, toda a gente é de esquerda. Num país desigual, onde a diferença salarial entre patrões e empregados é uma brutalidade, onde os privados não têm tradição mecenática ou comunitária, onde a doação de dinheiro para causas públicas resvala no financiamento dos partidos e clientelas, e onde á autoridade e a responsabilidade são consideradas repressão de uma sacrossanta liberdade inventada pelos portugueses depois de abril que é apenas permissividade e inércia, a esquerda apurou o discurso. O PSD, um partido de centro direita na génese, tudo faz para não ser de direita, e o CDS é tudo menos um partido de direita conservadora clássica. Herdando as características da direita trauliteira do período colonial, o CDS define-se pelo desgosto com as esquerdas e pela irritação com socialistas. Pergunte-se pela política fiscal ou pelas políticas económicas e o que sobra é um ponto de interrogação e muita visitação de feiras e dichotes espirituosos.
Quão difícil é redigir e manter um programa de direita sem ser em situação de bancarrota ou de austeridade e belicosidade impostas pela crise da dívida soberana? Sem perseguir os mais pobres e vulneráveis? O modelo de governo que temos, monárquico numas coisas, populista noutras, pseudoigualitário e incapaz de aperfeiçoar o regime, espelha o nosso modo de ser, a atitude existencial, a de que mais vale mentir do que dizer a verdade, mais vale sobreviver com vício do que sofrer pela virtude. O nosso horror ao confronto. Olhem para as manifestações em Hong Kong contra a mão ditatorial da China e olhem para a corrupção e a vergonha do casino Macau e descubram as diferenças do legado imperial. Nós deixámos a casinha branca e o pastel de nata, eles deixaram a rule of law e o amor da liberdade.
Uma direita conservadora democrática não precisa de ler Hayek ou contraler Keynes. Basta impedir o Estado de controlar tudo e todos, a começar pela economia e os patrões "amigos" da influência e dinheiro do Estado. Basta explicar que a produtividade se obtém quando se respeitam os empregados e se remuneram os empregados e que a participação destes nos lucros e resultados pode resultar em mais lucros em vez da tirania e desqualificação sistemáticas que imperam no sistema de trabalho, onde o ressentimento e o privilégio impedem a saudável progressão capitalista e a ambição é um defeito. O capital não existe sem o trabalho.
Basta aliviar a carga fiscal dos portugueses, explicando que o Estado não pode devorar os rendimentos e que o Estado social é, no futuro, demasiado caro de manter. Precisa de uma reforma de cima para baixo, precisa de instituir novos sistemas de copagamentos, precisa de obrigar os cidadãos a apreciarem e pagarem certos serviços, a participarem no governo local, o do bairro, da terra, precisa de destruir o clientelismo partidário das autarquias e da administração central, precisa de mudar a lei eleitoral e acabar com os deputados de assinatura e banco e cabeças vazios, precisa de abolir os protecionismos da classe social criada pelos partidos depois do 25 de Abril, e que fornece emprego e negócio, precisa de extinguir instituições e institutos inexistentes, precisa de avaliar e regenerar o funcionalismo, diminuindo em vez de aumentar, precisa de usar a inovação tecnológica, precisa de privatizar e contratar com regras, precisa de rever as parcerias com privados, remunerar bem, muito bem, a atividade política para que atraia os melhores e não os que procuram fazer render a política das portas rotativas, precisa de recrutar nas melhores escolas, tal como fazem os privados, instituindo um sistema de mérito que não faça dos medíocres os primeiros-ministros do futuro. Precisa de criar uma escola de governação pública com acesso por mérito, inteligência e disciplina, que estabeleça um programa de mentores de todas as cores políticas e ensine os candidatos a governar em vez de aprenderem quando se sentam nos ministérios.
Precisa de cooperar e dialogar com os bancos de modo a impedir futuras bolhas e futuros polvos como o do BPN, BES e da Caixa Geral de Depósitos, punindo exemplarmente os prevaricadores em vez de os preservar, dotando o Banco de Portugal de um corpo de governadores com moralidade e autoridade em vez de comissários políticos que não viram, não sabiam e não se recordam.
Os poderes corporativos em Portugal nunca foram tão poderosos e falaciosos. Para criar a independência é preciso começar pela autoridade, a responsabilidade e a sanção. É preciso dotar o Tribunal de Contas de poderes efetivos e, em conjugação com a Justiça, de um sistema de punições que ultrapasse a multa e a admoestação. É preciso dotar a Justiça de meios humanos e financeiros que lhe permitam investigar e punir sem pressões o crime económico e não apenas a criminalidade comum, salvando o Estado de direito. É preciso acabar com a disfuncionalidade da lentidão e desorganização, como ter um único juiz na instrução de processos complexos como a 'Operação Marquês'. É combater a alta corrupção em rede com task forces de elite. É preciso preservar a independência dos juízes e não aceder a todas as reivindicações salariais e corporativas, por terror da represália. É preciso dar formação às forças policiais e remuneração adequada, in1pedindo derivações sindicais. É preciso colaborar com os sindicatos, libertando o sindicalismo das garras de um partido para serem emanações dos trabalhadores. É preciso proteger o ambiente e o património, incluindo protegê-lo do turismo predatório e incorporar a ecologia como valor primordial, é preciso acabar com a "cultura'' oficial de gosto, bem comportada e subsidiada. É preciso planear em vez de improvisar. Etc.
É preciso contar a verdade ao povo português. Ou viveremos em perpétua austeridade, vendendo o país ao desbarato e ao Partido Comunista da China, olhem para Hong Kong, deixando de poupar e investir, de cativar os melhores, de preservar a soberania, de funcionar como um país europeu civilizado, de criar laços comunitários fora do Estado, de respeitar a política e os políticos. O povo português, na sua sageza, compreende. Ser de direita não é odiar a esquerda. Nem depender do oráculo de Belém, como aconteceu com Cavaco e vai acontecer com Marcelo. Ser de direita é integrar o primado da liberdade individual no bem nacional.»
«Quanto custa ser de direita em Portugal? Em Portugal, toda a gente é de esquerda. Num país desigual, onde a diferença salarial entre patrões e empregados é uma brutalidade, onde os privados não têm tradição mecenática ou comunitária, onde a doação de dinheiro para causas públicas resvala no financiamento dos partidos e clientelas, e onde á autoridade e a responsabilidade são consideradas repressão de uma sacrossanta liberdade inventada pelos portugueses depois de abril que é apenas permissividade e inércia, a esquerda apurou o discurso. O PSD, um partido de centro direita na génese, tudo faz para não ser de direita, e o CDS é tudo menos um partido de direita conservadora clássica. Herdando as características da direita trauliteira do período colonial, o CDS define-se pelo desgosto com as esquerdas e pela irritação com socialistas. Pergunte-se pela política fiscal ou pelas políticas económicas e o que sobra é um ponto de interrogação e muita visitação de feiras e dichotes espirituosos.
Quão difícil é redigir e manter um programa de direita sem ser em situação de bancarrota ou de austeridade e belicosidade impostas pela crise da dívida soberana? Sem perseguir os mais pobres e vulneráveis? O modelo de governo que temos, monárquico numas coisas, populista noutras, pseudoigualitário e incapaz de aperfeiçoar o regime, espelha o nosso modo de ser, a atitude existencial, a de que mais vale mentir do que dizer a verdade, mais vale sobreviver com vício do que sofrer pela virtude. O nosso horror ao confronto. Olhem para as manifestações em Hong Kong contra a mão ditatorial da China e olhem para a corrupção e a vergonha do casino Macau e descubram as diferenças do legado imperial. Nós deixámos a casinha branca e o pastel de nata, eles deixaram a rule of law e o amor da liberdade.
Uma direita conservadora democrática não precisa de ler Hayek ou contraler Keynes. Basta impedir o Estado de controlar tudo e todos, a começar pela economia e os patrões "amigos" da influência e dinheiro do Estado. Basta explicar que a produtividade se obtém quando se respeitam os empregados e se remuneram os empregados e que a participação destes nos lucros e resultados pode resultar em mais lucros em vez da tirania e desqualificação sistemáticas que imperam no sistema de trabalho, onde o ressentimento e o privilégio impedem a saudável progressão capitalista e a ambição é um defeito. O capital não existe sem o trabalho.
Basta aliviar a carga fiscal dos portugueses, explicando que o Estado não pode devorar os rendimentos e que o Estado social é, no futuro, demasiado caro de manter. Precisa de uma reforma de cima para baixo, precisa de instituir novos sistemas de copagamentos, precisa de obrigar os cidadãos a apreciarem e pagarem certos serviços, a participarem no governo local, o do bairro, da terra, precisa de destruir o clientelismo partidário das autarquias e da administração central, precisa de mudar a lei eleitoral e acabar com os deputados de assinatura e banco e cabeças vazios, precisa de abolir os protecionismos da classe social criada pelos partidos depois do 25 de Abril, e que fornece emprego e negócio, precisa de extinguir instituições e institutos inexistentes, precisa de avaliar e regenerar o funcionalismo, diminuindo em vez de aumentar, precisa de usar a inovação tecnológica, precisa de privatizar e contratar com regras, precisa de rever as parcerias com privados, remunerar bem, muito bem, a atividade política para que atraia os melhores e não os que procuram fazer render a política das portas rotativas, precisa de recrutar nas melhores escolas, tal como fazem os privados, instituindo um sistema de mérito que não faça dos medíocres os primeiros-ministros do futuro. Precisa de criar uma escola de governação pública com acesso por mérito, inteligência e disciplina, que estabeleça um programa de mentores de todas as cores políticas e ensine os candidatos a governar em vez de aprenderem quando se sentam nos ministérios.
Precisa de cooperar e dialogar com os bancos de modo a impedir futuras bolhas e futuros polvos como o do BPN, BES e da Caixa Geral de Depósitos, punindo exemplarmente os prevaricadores em vez de os preservar, dotando o Banco de Portugal de um corpo de governadores com moralidade e autoridade em vez de comissários políticos que não viram, não sabiam e não se recordam.
Os poderes corporativos em Portugal nunca foram tão poderosos e falaciosos. Para criar a independência é preciso começar pela autoridade, a responsabilidade e a sanção. É preciso dotar o Tribunal de Contas de poderes efetivos e, em conjugação com a Justiça, de um sistema de punições que ultrapasse a multa e a admoestação. É preciso dotar a Justiça de meios humanos e financeiros que lhe permitam investigar e punir sem pressões o crime económico e não apenas a criminalidade comum, salvando o Estado de direito. É preciso acabar com a disfuncionalidade da lentidão e desorganização, como ter um único juiz na instrução de processos complexos como a 'Operação Marquês'. É combater a alta corrupção em rede com task forces de elite. É preciso preservar a independência dos juízes e não aceder a todas as reivindicações salariais e corporativas, por terror da represália. É preciso dar formação às forças policiais e remuneração adequada, in1pedindo derivações sindicais. É preciso colaborar com os sindicatos, libertando o sindicalismo das garras de um partido para serem emanações dos trabalhadores. É preciso proteger o ambiente e o património, incluindo protegê-lo do turismo predatório e incorporar a ecologia como valor primordial, é preciso acabar com a "cultura'' oficial de gosto, bem comportada e subsidiada. É preciso planear em vez de improvisar. Etc.
É preciso contar a verdade ao povo português. Ou viveremos em perpétua austeridade, vendendo o país ao desbarato e ao Partido Comunista da China, olhem para Hong Kong, deixando de poupar e investir, de cativar os melhores, de preservar a soberania, de funcionar como um país europeu civilizado, de criar laços comunitários fora do Estado, de respeitar a política e os políticos. O povo português, na sua sageza, compreende. Ser de direita não é odiar a esquerda. Nem depender do oráculo de Belém, como aconteceu com Cavaco e vai acontecer com Marcelo. Ser de direita é integrar o primado da liberdade individual no bem nacional.»
segunda-feira, 17 de junho de 2019
SER CONSERVADOR, HOJE
As alterações que estão a
acontecer em todo o mundo, surgidas após o fim da chamada “guerra fria” que, bem
vistas as coisas, já acabou há trinta anos mas também da globalização que se
lhe seguiu e da velocidade com que a tecnologia informática toma conta da
economia e do nosso dia-a-dia, sugerem cada vez mais que devemos adoptar uma
postura conservadora perante a realidade.
A economia sofreu uma
“financeirização” que se traduz num peso crescente do sector financeiro,
nomeadamente da banca de investimento, que se afastou há muito das necessidades
de financiamento da restante economia para viver de si e para si. E mal se
compreende que, perante dificuldades que são da sua própria responsabilidade, a
banca seja hoje em dia sistematicamente “salva” pelos impostos dos cidadãos,
numa demonstração obscena de “privatização dos lucros e socialização dos
prejuízos”. Trata-se de uma das áreas em que é cada vez mais aconselhável adoptarmos
uma atitude defensiva, com a noção de que as transformações em curso na banca
não estão a trazer benefícios para os cidadãos na sua vida, antes pelo
contrário.
Mas as actividades
económicas também estão a trilhar caminhos que não são os melhores, favorecendo
o desperdício com a generalização do “usar e deitar fora”. Tal é perfeitamente
visível no vestuário em que uma poderosa indústria de marketing leva os
consumidores a comprar sucessivamente peças que rapidamente deixam de se usar
para substituir por outras a que rapidamente acontecerá o mesmo. As
necessidades são artificialmente criadas, criando mercados que de outra forma
nem existiriam. A roupa de qualidade feita para durar é substituída por roupa
comprada à tonelada na China e outros países do Oriente que mal pagam aos operários,
muitas vezes crianças. A transição das lojas de rua para os shoppings que, a
meu ver erradamente, estão abertos todos os dias da semana, ajudou a este
efeito nefasto para toda a gente, excepto para os negociantes deste tipo de
roupa que, rapidamente, atingem o patamar das maiores fortunas do mundo.
E o ambiente também sofre
com esta evolução. O desperdício gigantesco gerado por este tipo de economia é
um peso morto que cada vez custa mais a fazer desaparecer. A chamada “economia
circular” é uma designação simpática para algo que sempre se fez, quando as
dificuldades económicas eram gerais e era preciso poupar e fazer render tudo,
como as pessoas das aldeias bem faziam desde há milénios. A recuperação do
conceito, com novas roupagens, é positiva se acompanhada por uma efectiva
consciencialização ambiental e não for tomada como mais uma nova forma de
manipulação.
O ambiente em que a
humanidade se desenvolveu e cresceu já não tem nada a ver com o que era e isso
deve-se, essencialmente, à acção do homem. A obrigação de todos nós, dentro das
nossas possibilidades, é tentar que as gerações vindouras venham a ter, pelo
menos, a qualidade ambiental que recebemos; a apropriação da defesa do ambiente
por parte de algumas posições ideológicas é mais uma das contradições do nosso
tempo, que temos de denunciar porque contrária a toda a prática efectiva, como
foi possível verificar pelo altíssimo grau de poluição ambiental existente em
toda a Europa oriental aquando da libertação democrática.
A revolução das tecnologias
de informação em curso pode significar uma das maiores ameaças à liberdade
individual. As redes sociais e a Google parecem muito simpáticas mas, às
escondidas, já sabem mais sobre nós, os nossos hábitos e as nossas necessidades
do que nós próprios. E transformam essa informação em dinheiro, para eles,
claro, enquanto nos vão transformando em marionetas formatadas e controladas à
distância.
O respeito pelo passado
significa preocupação e também respeito pelos que virão depois de nós. Não
podemos ter complexos relativamente à denúncia do que está actualmente
terrivelmente mal e que está a estragar o que havia e ainda há de bom.
E será a Cultura, que não
tem a ver com a poderosa indústria do entretenimento nem com a massificação do
turismo, que nos dará as chaves da lucidez perante os actuais desafios, que não
podem ser enfrentados com as dicotomias políticas a que estamos habituados, porque
transversais à sociedade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 17 de Junho de 2019
sexta-feira, 14 de junho de 2019
quarta-feira, 12 de junho de 2019
Ainda as trapalhadas de Berardo, Sócrates, Santos Ferreira, Constâncio e cia. lda.
Isto foi escrito no blog Impertinências há dez anos:
"A estória é conhecida. Joe Berardo compra acções do Millenium bcp com empréstimos, primeiro da Caixa (onde à época era presidente Santos Ferreira, o actual presidente do Millenium bcp que sucedeu a Filipe Pinhal, homem de confiança de Jardim Gonçalves), do BES (por esta e por outras razões Filipe Pinhal escreveu o que escreveu sobre Ricardo Salgado, o banqueiro do regime socialista) e do Santander. Depois do afastamento da administração Filipe Pinhal, o próprio Millenium bcp financiou Berardo na compra de mais acções do próprio banco. Santos Ferreira reeditava assim um processo semelhante ao de Jardim Gonçalves.
A coisa correu mal porque as acções do Millenium bcp, que Berardo deve ter comprado a um preço médio de cerca de 2 euros, foram caindo até quase 50 cêntimos. Correu mal para Berardo e para os bancos que o financiaram, a quem Berardo tinha oferecido como garantia as próprias acções do bcp. O Santander, que não faz parte complexo político-empresarial socialista português (nem do espanhol), perante a insuficiência da garantia exigiu um reforço e dispunha-se a executar a dívida se tal não acontecesse. Pelo caminho Berardo ofereceu como garantia, que o Santander recusou mas os bancos do regime aceitaram, a colecção de arte que o governo de Sócrates alojou no CCB a expensas dos sujeitos passivos.
O desfecho do episódio, revelado pelo Expresso e não desmentido por Berardo, foi o Millenium bcp, cujo Conselho de Remunerações é presidido por Berardo, prestar uma garantia à primeira interpelação (on first demand) ao Santander, pessoalmente aprovada por Santos Ferreira, que já tinha aprovado empréstimos, primeiro na Caixa e depois no Millenium bcp.
Que este emaranhado de conflitos de interesse pareça normal neste país é apenas um sintoma de como o governo de José Sócrates contribuiu para tornar este país ainda mais anormal."
Como é que anda para aí tanta gente agora desmemoriada e muito admirada com o que se passou é que me surpreende. Como não compreendo que se continue a votar no mesmo partido (e em parte, mesmas pessoas). Se calhar é mesmo verdade que "les portugais sont toujours gais"
"A estória é conhecida. Joe Berardo compra acções do Millenium bcp com empréstimos, primeiro da Caixa (onde à época era presidente Santos Ferreira, o actual presidente do Millenium bcp que sucedeu a Filipe Pinhal, homem de confiança de Jardim Gonçalves), do BES (por esta e por outras razões Filipe Pinhal escreveu o que escreveu sobre Ricardo Salgado, o banqueiro do regime socialista) e do Santander. Depois do afastamento da administração Filipe Pinhal, o próprio Millenium bcp financiou Berardo na compra de mais acções do próprio banco. Santos Ferreira reeditava assim um processo semelhante ao de Jardim Gonçalves.
A coisa correu mal porque as acções do Millenium bcp, que Berardo deve ter comprado a um preço médio de cerca de 2 euros, foram caindo até quase 50 cêntimos. Correu mal para Berardo e para os bancos que o financiaram, a quem Berardo tinha oferecido como garantia as próprias acções do bcp. O Santander, que não faz parte complexo político-empresarial socialista português (nem do espanhol), perante a insuficiência da garantia exigiu um reforço e dispunha-se a executar a dívida se tal não acontecesse. Pelo caminho Berardo ofereceu como garantia, que o Santander recusou mas os bancos do regime aceitaram, a colecção de arte que o governo de Sócrates alojou no CCB a expensas dos sujeitos passivos.
O desfecho do episódio, revelado pelo Expresso e não desmentido por Berardo, foi o Millenium bcp, cujo Conselho de Remunerações é presidido por Berardo, prestar uma garantia à primeira interpelação (on first demand) ao Santander, pessoalmente aprovada por Santos Ferreira, que já tinha aprovado empréstimos, primeiro na Caixa e depois no Millenium bcp.
Que este emaranhado de conflitos de interesse pareça normal neste país é apenas um sintoma de como o governo de José Sócrates contribuiu para tornar este país ainda mais anormal."
Como é que anda para aí tanta gente agora desmemoriada e muito admirada com o que se passou é que me surpreende. Como não compreendo que se continue a votar no mesmo partido (e em parte, mesmas pessoas). Se calhar é mesmo verdade que "les portugais sont toujours gais"
terça-feira, 11 de junho de 2019
SNS e ADSE
Vi uma lista de umas centenas de pessoas a exigir o fim das PPP's em Saúde. Curiosamente, muitas delas são funcionários públicos na reforma ou ao serviço. Alguma delas utiliza o SNS? É que, quase certamente, são utentes da ADSE. ADSE que basicamente funciona como um seguro de saúde que permite aos fp fugirem ao SNS e utilizarem o sector privado para resolver os seus problemas de saúde. Eu sei que hoje a ADSE é financiada exclusivamente pelos utentes, mas não é hipócrita quererem para os outros o que não querem para eles? As PPP são um instrumento que o SNS utiliza em alternativa ao investimento público e em que o Estado sistematicamente poupa dinheiro. Por outro lado, têm servido bem as populações locais, como provam os relatórios e mesmo os autarcas que não querem que acabem, curiosamente alguns do PCP e do PS. A existência de algumas PPP (que deverão sempre ser uma excepção e não a regra) tem ainda outra função, que é a de poder comparar com os hospitais públicos e verificar os custos relativos para os mesmos serviços, pondo a nú as ineficiências, desperdícios e deficiências de gestão. Se calhar, por detrás da exigência ideológica contra o privado esconde-se mesmo a vontade de esconder aquilo que se passa em hospitais de gestão pública (que, aliás, Centeno está farto de denunciar para justificar os cortes que faz).
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