Em 1 de Junho de 1966 os chineses ouviram, pela rádio, a leitura de um cartaz escrito por um assistente universitário, incitando à luta contra os revisionistas do tipo Krushov, apelando a um regresso à pureza dos princípios comunistas. Entricheirado no seu posto de presidente do partido Comunista e com o controlo do exército, Mao Zedong decide reagir contra os camaradas e antigos companheiros de luta do tempo da Grande Marcha que na altura detinham formalmente o poder no partido e no Estado. O presidente da República Liu Sahoqi e o Secretário Geral do partido Deng Xiaping iriam em breve conhecer agruras sérias.
A acção de Mao tinha começado em Janeiro desse ano ao organizar uma estrutura, em cuja liderança pontificava a sua mulher Jiang Qing, a trabalhar fora do aparelho do partido com vista a preparar a Grande Revolução Cultural Proletária que começou oficialmente em Maio. Numa Circular de 16 desse mês foi denunciada a dita linha revisionista das chefias do partido e do Estado, exigindo mesmo a sua expulsão imediata. Em Agosto surge a "Resolução do Comité Central sobre a Revolução Cultural", conhecida como "16 cláusulas", que consagra o "direito à insurreição" contra a ordem socio-política legitimando toda a actuação dos «Guardas Vermelhos». Na mesma altura o ministro da Segurança afirma perante os polícias que «não podemos seguir o Código Penal. Se prenderem pessoas que bateram noutras, cometerão um erro…»
A partir da leitura do cartaz da Universidade de Pequim em Junho, uma onda avassaladora constituída essencialmente por jovens invadiu as escolas e universidades do país. Os autoproclamados «Guardas Vermelhos», com o livro vermelho de Mao na mão, levaram o fanatismo e extremismo a níveis raramente vistos na História que, de forma hoje incompreensível, suscitaram a admiração e entusiasmo de jovens e intelectuais por todo o mundo.
A tragédia que se passou nesses anos na China é hoje bem conhecida, havendo mesmo testemunhos fotográficos impressionantes em que fotógrafos como Li Zhensheng conseguiram registar dramaticamente o que lá se passou. Às muitas centenas de milhares de execuções juntam-se milhares de suicídios
Não só os professores, mas também os artistas e intelectuais em geral foram as vítimas preferidas da «Revolução Cultural». O anti-intelectualismo levou a que as «autocríticas» se generalizassem, praticadas de forma sádica visando uma humilhação completa e levando muitas vezes à morte dos visados. Professores e intelectuais são sujeitos publicamente, no meio de jovens fanatizados, a desfilar com a cara pintada de preto, com barretes de burro na cabeça, pendurados pelos pés e braços no célebre «avião», com a cabeça dobrada por cordas amarradas aos pés e obrigados a «confessar» publicamente os seus pecados burgueses e de classe.
Uma base fundamental da argumentação da «Revolução Cultural» era moral, adoptando como dogma os princípios marxistas-leninistas revistos por Mao para a construção do «homem novo». Os «guardas vermelhos» com idade entre 14 e 22 anos, tinham nascido no regime e sido educados em escolas rigorosamente seguidoras daqueles princípios. A sua relação com o líder Mao era de devoção absoluta, não tinham conhecido outra realidade, nem os problemas do «Grande Salto». Obedeciam cega e fanaticamente a Mao, tendo servido para os seus objectivos de decapitar o aparelho comunista instalado. Até Agosto de 1967, Mao incitou os «Guardas Vermelhos», aos quais a partir de Janeiro desse ano se juntaram trabalhadores fabris, a agir com mais e mais determinação do derrube de toda a cultura tradicional e «superstições feudais». O presidente Shaoki sujeita-se à autocrítica e é enviado para a prisão onde acabou por morrer, louco. Outros dirigentes foram afastados tendo ressurgido, como Deng Xiaoping, após o fim da «Revolução Cultural» quando Mao morreu, em Setembro de 1976.
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