O ano que agora começa é pródigo em efemérides que nos deverão merecer a maior atenção, porque os acontecimentos a que se referem influíram decisivamente na formação da identidade portuguesa. Não conhecendo minimamente o nosso passado não é possível entendermos as razões de muito do que hoje somos.
No próximo dia 1 de Fevereiro passam cem anos sobre o regicídio, em que foram assassinados o Rei D. Carlos I e o Príncipe herdeiro Luís Filipe no Terreiro do Paço. Este terrível acontecimento teve implicações enormes na sociedade portuguesa, tendo levado à instauração da República escassos dois anos depois. Ainda hoje é perceptível uma clara diferença de opiniões sobre aquele assassinato que, não raras vezes, é desculpado perante um suposto abrir caminho à democracia
No dia 7 de Março faz duzentos anos que a família real portuguesa, acompanhada de milhares de fidalgos chegou ao Rio de Janeiro após ter escapado à sua prisão pelo general francês Junot como era desejo de Napoleão, durante a primeira invasão francesa. Também estes acontecimentos vieram a ter uma importância decisiva não só para Portugal, mas também para o Brasil pela influência que teve no seu processo de independência. Ainda em relação às invasões francesas, no dia 21 de Agosto faz duzentos anos a batalha do Vimeiro que ditou a viragem dos acontecimentos a favor de Portugal.
Em 6 de Fevereiro faz quatrocentos anos que nasceu o Padre António Vieira, figura cimeira das nossas letras e exemplo maior do respeito pelos valores civilizacionais dos índios do Brasil, que defendeu contra todos os poderes.
Enfim, no decorrer de 2008 celebram-se quinhentos anos sobre a conclusão do retábulo-mor da Sé Velha de Coimbra. Perguntará o leitor a que propósito é que refiro aqui este facto, que à primeira vista nem sequer é um acontecimento. Nada de mais errado. O magnífico retábulo-mor da Sé Velha do período gótico flamejante, cuja visita se recomenda vivamente, foi construído pelos artistas flamengos Olivier de Gand e Jean d’Ypres. É a demonstração de que, ao contrário do que muito boa gente julga, no século XVI a cultura portuguesa estava intimamente ligada à cultura do norte da Europa, assim se mostrando que não é por pertencermos actualmente à União Europeia que somo mais europeus do que antes.
Publicado no DC em 7 Janeiro 2008