quarta-feira, 27 de agosto de 2008

TINTA PERMANENTE

Pelos vistos, não estou tão sozinho como isso no gosto de escrever com caneta.
No Blogue Atlântico, Henrique Raposo recuperou um escrito de Francisco José Viegas:
Escrever à mão

"... Há um prazer raríssimo na caligrafia, no desenho da letra, na própria escolha da cor da tinta permanente (preto, azul ultramarino, azul escuro, sépia), na preparação do acto propriamente dito: o estojo com as canetas, os blocos ou cadernos, o cinzeiro e as recargas ou tinteiro. Curiosamente, foi num desses quartos de hotel que reaprendi a escrever à mão, com maiúsculas e minúsculas, sublinhando, desenhando setas, reenvios.

Um dia dirão que é anti-planeta gastar papel nestas coisas."

NOITES DE VERÃO

Aqui recoloco uma boa música para as noites de Verão:

2ª Valsa de Shostakovich

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

GEÓRGIA, RÚSSIA E EUROPA




No início deste Agosto que, ao contrário do que alguns ambientalistas nos avisaram, tem sido entre nós dos mais frios dos últimos anos, na outra extremidade desta Europa que teima em não ultrapassar a História eclodiu uma guerra, para espanto de muitos.
Aquela Geórgia que os antigos Gregos, por estarem aproximadamente equidistantes de uma e outra, chamavam de Ibéria oriental foi invadida pela Rússia, originando uma guerra que se saldou em milhares de mortos e no habitual cortejo de sofrimento das populações civis.
Recordo alguns factos:
- Quando em 1989 a União Soviética implodiu, e em consequência vários países que a integravam se tornaram independentes, a Geórgia foi um deles, tendo a região chamada Ossétia ficado dividida, entre a Ossétia do Norte, russa, e a Ossétia do Sul, georgiana.
- Nessa altura a Ossétia do Sul, com apenas 3.900 km2 e 70 mil habitantes, também se proclamou independente, mas os separatistas acabaram por assinar um cessar-fogo com a Geórgia em 1992.
- Quando a Ossétia do Sul proclamou a sua independência, nenhum país membro da Organização das Nações Unidas, incluindo a Federação Russa, a reconheceu como tal, continuando a ser considerada como parte integrante da Geórgia.
- A Geórgia é atravessada pelo único “pipeline” da região que não é controlado pela Rússia; este oleoduto vindo do Azerbeijão passa a sul da capital Tbilisi, entrando de seguida na Turquia, evitando o território da Arménia.
- A Geórgia pediu a sua adesão à NATO, estando o pedido pendente, após uma primeira recusa em Março deste ano pelos votos contra da Alemanha e da França.
Foi neste contexto que, após meses de extrema pressão militar por parte da Rússia, o presidente da Geórgia mandou avançar as forças armadas do país para controlar o território da Ossétia do Sul, que faz parte integrante da Geórgia. De imediato a Rússia invadiu não só a Ossétia do Sul mas grande parte do território da Geórgia, bombardeando alvos civis, incluindo a cidade de Gori.
Com muita lentidão, a União Europeia lá acabou por reagir, tendo havido conversações que se espera que venham a conduzir à retirada total das forças russas do território georgiano.
Curiosamente, esta agressividade russa que significa o ressurgimento do velho urso russo após o fim do período comunista, foi entre nós saudada com alguma satisfação e manifestações de apoio por parte de antigos “compagnons de route” da ex-URSS. Desenganem-se: não são os velhos camaradas a regressar, apesar do passado KGB de Putin, mas o velho imperialismo russo que se pretende afirmar, bem anterior ao período soviético, fundamentalmente através da reconquista territorial do que entende ser a sua “área de influência” e da dominação energética da União Europeia.
A maneira como a União Europeia resolver esta questão virá a influenciar de forma decisiva o seu futuro, talvez muito mais do que o futuro do Tratado de Lisboa. Os europeístas deverão estar unidos e perceber a estratégia energética da Rússia que compra muitos aliados dentro da UE, designadamente através da Gazprom, como o triste caso do ex-Chanceler alemão Gerhard Schröder exemplifica.

Publicado no Diário de Coimbra em 25 de Agosto de 2008

terça-feira, 19 de agosto de 2008

CRESCIMENTO

É um facto bem conhecido que a economia portuguesa tem uma resiliência maior do que as congéneres europeias.
Isto é, as recessões exteriores demoram mais tempo a entrar na economia portuguesa e são geralmente atenuadas, com a correspondente contrapartida de demorarem mais tempo a desaparecer e nunca se verificar uma recuperação tão forte como lá fora.
Há quem diga que boa parte da responsabilidade desta situação se deve à forte percentagem de economia "paralela", o que até dá jeito neste momento em que se pode dizer que a nossa economia se aguentou. O pior é depois quando a recuperação é frouxinha face aos outros.
Haja quem reverta esta situação, não é Eng. Cravinho?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

VALENTE VANESSA

Felizmente para ela e para nós, Vanessa Fernandes foi igual a si própria e levou a prata.
O Secretário de Estado do Desporto voltou logo à vida e logo com um comentário de excepcional bom gosto perante quem teve um brilhante 2º lugar nas olimpíadas, ao comparar o feito a um "doping positivo e natural". Fica bem ligar uma vitória a doping. Sem comentários.

ÉTICA E POLÍTICOS

Nestes tempos em que o pragmatismo parece sobrepor-se até mesmo às opções ideológicas, que lugar restará para a Ética na política?
Em termos simplistas, pode colocar-se a questão da Ética na consideração de haver ou não dicotomia entre Felicidade e Virtude na actividade política.
Pode um político ter sucesso (ganhar eleições) e exercer o poder, qualquer que seja o tipo de poder, e ser simultaneamente “boa pessoa”?
Esta questão não é nova, acompanhando desde sempre a história das organizações humanas, e tendo sido claramente documentada pelo menos desde a Grécia Antiga. Nesses tempos, enquanto Pitágoras afirmava que ter sucesso é diferente de ser boa pessoa, Sócrates defendia que “para ser feliz, tenho que ser boa pessoa”.
Todos nós conhecemos igualmente a ideia generalizada de hipocrisia associada à actividade política. Já no século XIX, um célebre caricaturista português apresentava a política como uma porca que amamentava muitos bácoros. E também nos nossos dias encontramos políticos que fogem à verdade, ou não a contam toda, o que acaba por ser o mesmo; outros prometem mundos e fundos sem a mínima intenção de cumprir as promessas e há ainda os que, com métodos mais ou menos sofisticados, mais não fazem do que comprar votos.
Ao contrário de outras actividades, a política não é regida por normas especiais, que apenas existem para regular o exercício de determinados cargos. Por isso, é frequente ouvir políticos de grande responsabilidade dizerem que, para si, a ética é a lei da República. Assim sendo, para estes políticos o que não é ilegal é aceite por eles, pelo menos no que lhes interessa.
No fundo, é a própria consciência dos políticos que determina se a sua acção se desenvolve dentro de regras éticas (que sim, existem e decorrem mesmo da lei natural), ou não. E normalmente essa consciência torna difícil que alguém consiga separar as suas vidas, sendo “boa pessoa” na vida particular e falho de ética na pública, ou vice-versa.
Em resumo, se a política não tem um código de conduta ética, é absolutamente crucial que os políticos disponham, antes de o serem, de uma consciência que os informe sobre o carácter ético das suas acções. Já os eleitores deverão ter em consideração este aspecto nas suas escolhas, para não virem depois a sofrer grandes desilusões.

Publicado no Diário de Coimbra em 18 de Agosto de 2008

domingo, 17 de agosto de 2008

BOTA NO PONTAL

Depois de ler as declarações de Mendes Bota no Pontal, fiquei com a certeza absoluta de que Manuela Ferreira Leite fez muito bem em lá não ter posto os pés. Não é porque o PSD queira ser um "partido de universitários" mas por uma questão de pura higiene mental.

JOGOS OLIMPICOS

Estes Jogos Olímpicos de Pequim não têm corrido bem a Portugal por diversos motivos. Não falo dos resultados dos atletas e da falta de medalhas. O desporto português é o que se sabe e as medalhas que tivemos no passado, à excepção da vela e do hipismo foram excepções que devem ser vistas como tal. No atletismo foram sempre em corridas de fundo que normalmente são aquelas em que os países mais fracos em termos desportivos, como os africanos, ainda têm algumas hipóteses.
Os nossos atletas olímpicos deveriam ser olhados como heróis por lá terem conseguido ir, sendo essa participação o cume das suas carreiras.
Mas não.
Na sequência do orgulho nacional idiota que nos últimos anos foi suscitado na sequência da Expo 98 no tempo do optimismo insensato do guterrismo, toda a gente se convenceu que somos dos melhores do mundo em tudo. O problema é quando surge o confronto directo, sendo a desilusão sem limites.
Por outro lado, quer muitos políticos quer a comunicação social em geral endeusaram os nossos atletas antes da partida, sendo o insucesso ainda mais visível e frustrante para todos, mas acima de tudo para os próprios atletas. Claro que os políticos que andaram com eles ao colo ficaram sem aquelas fotografias ao lado dos vencedores que dão sempre jeito para irem à boleia do sucesso. Quanto à comunicação social, essa então passa todos os limites. Depois de andarem atrás dos atletas por todo o lado, chegamos ao cúmulo de a RTP colocar uma fila com quatro zeros em medalhas para Portugal quando apresenta os três países com mais medalhas. É verdadeiramente chocante e deveriam ser pedidas responsabilidades ao jornalista que resolveu fazer aquilo.
Tudo isto é lamentável.
À hora em que escrevo ainda há alguns atletas portugueses em prova. Desejo-lhes sinceramente o maior sucesso, para que pelo menos alguns consigam escapar a esta frustração colectiva em que estes Jogos se estão a tornar para Portugal.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA

Este artigo do Economist mostra que o motor de combustão interna ainda está aí para as curvas e que há muito boa gente aos pulos com os "choques tecnológicos" e carros eléctricos que ainda vai ter grandes surpresas. A evolução tecnológica não acontece por decreto, como os soviéticos aprenderam à sua custa.