segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O PODER COMO AFRODISÍACO

História antiga esta, claro está.
Uma senhora que foi amante de Bernard Madoff durante mais de vinte anos resolveu agora anunciar ao mundo que o senhor é pouco dotado (isto é, tem um órgão sexual diminuto, coitado).
Enquanto o senhor era um todo-poderoso de Wall Street, serviu para encontros nos melhores hoteis, etc. etc.durante duas décadas.
Na precisa altura em que é condenado a 150 anos de prisão, passa a ter pénis pequeno.
Vida dura e grande lição de onde menos se esperava.

OBAMACARE, POR EXEMPLO


Nas últimas semanas tem-se assistido a um intenso debate nos EUA, enquanto o Presidente Obama tenta levar a cabo a sua reforma do sistema nacional de saúde americano, uma das bandeiras da sua campanha presidencial.

No entanto, à medida que vai tentando explicar as linhas da reforma, vai encontrando resistências cada vez maiores da parte de sectores da sociedade que à partida consideraria como seus apoiantes. A situação chegou mesmo ao ponto de os congressistas e senadores democratas terem utilizado as férias oficiais para promoverem encontros directos de divulgação com a população em inúmeros locais como câmaras municipais, escolas, etc. O problema é que quanto mais explicações dão, mais questões e dúvidas se levantam entre os cidadãos. Assinale-se no entanto, que mesmo depois da sua eleição em que propunha a reforma em causa, Obama sentiu necessidade de a explicar exaustivamente, ouvindo as pessoas e introduzindo as alterações sentidas como mais consistentes, não a impondo a qualquer custo.

O que está em causa?

Os países desenvolvidos que possuem sistemas de apoio de saúde generalizado aos seus cidadãos adoptaram, em geral, um de três tipos essenciais de organização. O economista Paul Krugman, prémio Nobel de economia do ano passado, explicou em artigo recente publicado no Herald Tribune as diferenças essenciais entre eles. Existem países, como a Inglaterra, em que o Estado possui e gere ele mesmo os estabelecimentos de saúde e emprega os médicos. Há outros, como o Canadá ou a França, em que os cuidados de saúde são dispensados por entidades privadas que apresentam depois a conta ao Estado. Ainda em outros países como os EUA, o sistema baseia-se em seguros de saúde privados pagos pelas entidades empregadoras. Há outros países, como a Suíça, que adoptaram os seguros de saúde, usando no entanto uma mistura de regulação e subsídio que garante que ninguém fica desprotegido, ao contrário do que acontece no sistema americano em que os desempregados não podem ficar doentes.

Básicamente, o que Obama tenta fazer é misturar o actual sistema americano com o suíço, obrigando as seguradoras a determinadas regras e pagando os excedentes. Há que reconhecer que não é tarefa fácil para um país com a dimensão dos EUA, mantendo a prestação de serviços na esfera privada, como pretende Obama, contrariando os gostos da nossa Esquerda.

Outro dado curioso, é a comparação das despesas de saúde de vários países, em função do rendimento (PIB):

Reino Unido: 8,2%

Canadá: 9,7%

França: 11,1%

Suíça: 11,4%

EUA: 15,9%

Isto é, apesar de todos os seus problemas, os EUA gastam muito mais com a saúde dos seus cidadãos do que qualquer outro país desenvolvido.

Curiosamente, Portugal gasta um pouco mais de 10%, sendo que há a consciência, como o Prof. Manuel Antunes tem explicado, que 25% daquela verba corresponde a desperdícios que poderiam ser aplicados noutros sectores ou em benefício da qualidade e eficácia do próprio SNS.

Em época pré-eleitoral, esperemos que os próximos debates políticos possam esclarecer os portugueses sobre o futuro do SNS, em função dos interesses dos utentes e dos cidadãos que o pagam com os seus impostos.


Publicado no Diário de Coimbra em 24 de Agosto de 2009

domingo, 23 de agosto de 2009

A PERGUNTA DE UM MILHÃO DE DÓLARES

Portugal é um país velho e cansado a necessitar de reforma profunda.
Nesta altura da pré-campanha em que se assiste a variadas manobras de contra-informação, perante as candidaturas ao lugar de primeiro-ministro que estão no terreno, chegou a altura de fazer a TAL pergunta:
A qual dos candidatos a primeiro-ministro compraria um carro usado?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O LEOPARDO


Nestas ferias aproveitei para reler algumas coisas antigas. Entre elas, "O Leopardo" de Giuseppe Tomasi de Lampedusa. Fabuloso reencontrar o Príncipe de Salina Dom Fabrisio Corbera e o seu sobrinho Tancredi que faz a transição para a nova ordem saída da reunificação italiana com o seu princípio de que "é preciso mudar alguma coisa para que tudo continue na mesma". Em certas passagens parecia que estava a ler sobre Portugal nos anos pós 25 de Abril mas, na realidade, são situações de sempre.
Agora toca a rever o filme de Visconti com o mesmo título, com Burt Lancaster, Alain Delon e Cláudia Cardinale

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

FROM RUSSIA WITH LOVE


O Cartoon do KAL da Economist desta semana mostra Putim a cavalo no urso russo. Bem a propósito da cena do cargueiro desaparecido e da "guerra de informação" russa. Até há quem diga que o dito cargueiro levava misseis: resta saber quem era o comprador.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

WOODSTOCK

Há quarenta anos terminava o festival de Woodstock.
Outra grande música:

FUNÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS



As férias, para além do descanso e necessário afastamento físico das tarefas quotidianas, têm a grande vantagem de permitir colocar as leituras em dia.

Já por várias vezes abordei nestas crónicas a questão da RSE (Responsabilidade Social das Empresas).

Nos últimos anos vulgarizou-se a ideia de que as empresas devem participar em determinadas tarefas de carácter social, tendo esse aspecto entrado mesmo na gestão empresarial através da institucionalização dos patrocínios, da responsabilidade ambiental, etc.

No entanto, a abordagem da RSE deve ser muito mais profunda e mesmo ideológica do que mais um instrumento financeiro ao dispor da gestão.

A actual crise económica e financeira veio mostrar que todo o funcionamento da economia deve ser revisto à luz do posicionamento social das empresas.

É essa matéria que um artigo do Prof. Jeffrey Pfeffer aborda num artigo recente da HBR (Harvard Business Review), cuja leitura me suscitou estas linhas.

No período de grande crescimento económico generalizado após a 2ª Grande Guerra, os gestores das empresas tinham em consideração o papel social das mesmas. Significa isso que, para além dos accionistas que detinham o capital, muitos outros interesses eram tidos em linha de conta. A empresa era olhada como um elo de uma cadeia complexa que devia funcionar em conjunto para garantir um crescimento sustentado do conjunto da economia. Os gestores tinham em linha de conta os interesses a montante (os seus fornecedores), a juzante (os clientes) os seus próprios trabalhadores e a comunidade em geral. É o conjunto do que se costuma chamar “stakeholders”.

Nos anos 70, por diversas razões abordadas no artigo da HBR acima referido, foi-se tornando-se proeminente a defesa dos interesses dos “shareholders”, isto é, dos accionistas das empresas, à medida que se foi espalhando a crença ilimitada na eficiência e inteligência dos mercados.

Tudo passou a ser considerado como instrumento financeiro e, para além disso, acreditou-se que todas as decisões financeiras eram ditadas por critérios de racionalidade económica. Por exemplo, as casas deixaram de ser apenas o local onde vivemos, para passarem a ser opções de valores imobiliários futuros.

Claro que o facto de os gestores terem passado a defender apenas os interesses dos accionistas conduziu a um crescimento rápido dos lucros das empresas para distribuição imediata aos detentores do capital, com as consequências a que todos hoje infelizmente assistimos.

A mudança de perspectiva do capitalismo com algum regresso à consideração dos “stakeholders” em vez dos “shareholders” em exclusividade é, não só bem-vinda, como necessária.

Curiosamente, corresponde ao reconhecimento da validade das posições que a Igreja Católica tem vindo a defender há anos através daquilo que é conhecido como a Doutrina Social da Igreja.


Publicado no Diário de Coimbra em 17 de Agosto de 2009

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

UM VERÃO QUENTE

Desde há uns trinta anos que não me lembro de ver um Verão tão quente. Politicamente, claro está, que a evolução climática só nos deixa ter breves vislumbres dos antigos verões de canícula de meses seguidos. Isto porque por vontade própria não sou frequentador das nossas paragens mais próximas dos calores africanos e portanto mais quentes, preferindo antes as praias da costa atlântica mais próximas de nós.
Naquele Verão quente de há quase trinta anos todo o país seguiu alvoroçado as aventuras e desventuras de mais um governo de iniciativa presidencial, na altura chefiado pelo Eng. Nobre da Costa.
Neste Verão que agora vivemos, os partidos preparam-se para as duas eleições que vão marcar o início do Outono e as peripécias mais ou menos empoladas pela comunicação social vão-se sucedendo em catadupa.
A própria comunicação social aparece também como causa de notícias, em vez de ser apenas transmissora delas. Ele é a venda da TVI a uma “barriga de aluguer” que a poderá por sua vez vender à PT distribuindo pelo caminho boas indemnizações; ele é a própria Entidade Reguladora da Comunicação Social a ser notícia pelas razões mais inacreditáveis, como a tentativa de obrigar os órgãos de comunicação social a darem a mesma visibilidade a todos os partidos concorrentes ou a impedir os habituais interventores na comunicação social de o continuarem a fazer se forem candidatos nem que seja à sua freguesia.
Os partidos ultimam as suas listas para a Assembleia da República, o que é sempre motivo das maiores discussões e manifestações de melindre. As escolhas de candidatos a deputados têm levado a situações de desvario que atingem o ridículo.
Entendamo-nos. Por um lado, toda a gente passa a vida a criticar e a meu ver bem, os regulamentos internos dos grupos parlamentares que limitam as intervenções pessoais dos deputados e os transformam, na sua grande maioria, em simples correias de transmissão das direcções partidárias. Isto é, devemos reconhecer que ser deputado não é hoje uma tarefa muito exaltante. Mas claro, para muita gente a estabilidade do lugar e a possibilidade de contactos tornam um lugar na AR muito apetecível, pelo que quando as expectativas são defraudadas por não serem escolhidos para as listas, há sempre choro e ranger de dentes.
A decisão definitiva para a escolha final e nominal das listas cabe maioritariamente a quem foi escolhido pelos militantes para determinar o futuro dos partidos. É tarefa das lideranças proceder às escolhas para as diversas funções e tarefas, já que serão os responsáveis pelas inerentes consequências eleitorais. Conforme as suas próprias convicções e maneiras próprias de gerir, as lideranças podem ser inclusivas ou exclusivas na elaboração das listas que propõem ao eleitorado.
Perante a previsibilidade de grandes dificuldades como é hoje o caso dos dois grandes partidos, é fácil cair na tentação de contar apenas com aqueles com quem não haverá grande necessidade de discutir opções por estarem de acordo ou simplesmente por não terem opinião própria.
É a táctica do “ou tudo ou nada” que facilita a tarefa futura dos que são agora excluídos quando por sua vez estiverem na mó de cima, pela volta da roda da História. E isso vai suceder mais cedo ou mais tarde num dos dois grandes partidos, porque só um deles ganhará, parecendo não haver grandes condições para um “bloco central”.
Neste Verão tivemos ainda a oportunidade de apreciar a repetição de velhas histórias com novas roupagens, que nestas coisas da política não há nada de novo, apenas repetições que ora são tragédias, ora dão em comédias, como é bem conhecido.
Por estes dias os tribunais vieram dar uma nova consistência a um neologismo que por aí anda que é “isaltinar”. Resta saber se a condenação da personagem que lhe deu origem é suficiente para evitar a repetição do sucesso dos seus pares que têm conseguido convencer os eleitores de que o que é preciso é fazer obra, independentemente de considerações éticas.
Para amenizar os calores de Verão, tivemos ainda a já habitual “pesca à linha” que os partidos tanto gostam de fazer, particularmente quando ocupam o poder e podem assim oferecer algo mais.
Desta vez o gosto de alguns dos protagonistas pela exposição mediática proporcionou momentos de invasão da política pela literatura de cordel que teve o raro condão de nos animar e bem dispor a todos, exceptuando claro está os próprios intervenientes.
A todos os leitores os meus votos de um bom Verão que retempere as forças permitindo que ganhem energia para ultrapassar com sucesso os rigores invernais que obrigatoriamente se seguirão ao Outono que se aproxima a passos largos com a gripe A e crises pós eleitorais.

Publicado no Diário de Coimbra de 10 de Agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O DOMÍNIO DA TECNOCRACIA


A relação entre a técnica e a política é uma velha questão que esteve na moda há uns anos, mas que deveria estar sempre presente, dada a facilidade com que, entre nós, a tecnocracia ocupa o lugar da política.

De facto, de uma forma quase subliminar, tem vingado entre nós o velho espírito iluminista de que os problemas da nossa sociedade se resolvem de uma forma científica. Isto passa-se nas mais diversas áreas, nos mais diversos níveis.

Na Educação, por exemplo, já há mais de vinte anos que as teorias da pedagogia fazem escola, com os tristes resultados que se têm visto. A aplicação daquelas teorias oriundas das Escolas Superiores de Educação não tem sido contraditada, porque estas são apresentadas como científicas, e portanto fora do alcance da discussão comum. Na realidade, muitas delas já foram antes experimentadas noutros países, tendo sido abandonadas devido aos maus resultados obtidos.

Os apoios tecnológicos como os computadores e quadros interactivos são igualmente apresentados como sendo cruciais para o sucesso escolar. Ora, tal não é verdade, estando mesmo por provar a sua utilidade para a aprendizagem das matérias fundamentais nos primeiros anos da escolaridade.

Na Justiça, assistimos a um fenómeno semelhante. Enquanto se fala em edifícios, novas tecnologias e reorganizações de mapas judiciários, está à vista de todos o peso sobre a sociedade e a economia em particular, que constitui a falta de resposta do sistema judicial em tempo útil: basta referir, para além da Operação Furacão (entretanto, Madoff já foi julgado e condenado), o julgamento da Casa Pia, que nos faz corar a todos de vergonha. Não são os edifícios, nem a “desmaterialização” dos processos que resolverão os problemas.

Há um espírito tecnocrático no ar que tenta convencer as pessoas de que a técnica resolverá os nossos problemas. Nada de mais errado. A maioria dos nossos problemas precisa de soluções políticas, não técnicas. Veja-se, por exemplo, a falta de competitividade nacional, porventura o maior problema de todos, e que nos está a empobrecer rapidamente e de forma contínua.

O exemplo mais gritante - e caricato - da nossa falta de política é o novo aeroporto internacional de Lisboa. Quer a opção pela anterior localização na Ota, quer a actual opção (que espero que nunca se concretize) em Alenquer, foram justificadas a seu tempo com todos os argumentos técnicos. A opção política clarividente e assumida foi sempre sacrificada às modas técnicas do momento.

Outro exemplo é o da “devolução dos centros urbanos aos peões”. A sujeição das opções políticas a modas urbanísticas como aquela, ditou em muitas das nossas cidades o abandono dos centros pelos residentes, a desgraça económica dos comerciantes lá instalados e a desvalorização do património edificado.

A governação do “bem comum” não se deve fazer em nome da técnica. Do que precisamos é de políticos bem formados, com experiência e capacidade de diálogo e de decisão, que assumam as suas opções políticas sem se esconder atrás dos biombos da técnica.


Publicado no Diário de Coimbra em 3 de Agosto de 2009