A relação entre a técnica e a política é uma velha questão que esteve na moda há uns anos, mas que deveria estar sempre presente, dada a facilidade com que, entre nós, a tecnocracia ocupa o lugar da política.
De facto, de uma forma quase subliminar, tem vingado entre nós o velho espírito iluminista de que os problemas da nossa sociedade se resolvem de uma forma científica. Isto passa-se nas mais diversas áreas, nos mais diversos níveis.
Na Educação, por exemplo, já há mais de vinte anos que as teorias da pedagogia fazem escola, com os tristes resultados que se têm visto. A aplicação daquelas teorias oriundas das Escolas Superiores de Educação não tem sido contraditada, porque estas são apresentadas como científicas, e portanto fora do alcance da discussão comum. Na realidade, muitas delas já foram antes experimentadas noutros países, tendo sido abandonadas devido aos maus resultados obtidos.
Os apoios tecnológicos como os computadores e quadros interactivos são igualmente apresentados como sendo cruciais para o sucesso escolar. Ora, tal não é verdade, estando mesmo por provar a sua utilidade para a aprendizagem das matérias fundamentais nos primeiros anos da escolaridade.
Na Justiça, assistimos a um fenómeno semelhante. Enquanto se fala em edifícios, novas tecnologias e reorganizações de mapas judiciários, está à vista de todos o peso sobre a sociedade e a economia em particular, que constitui a falta de resposta do sistema judicial em tempo útil: basta referir, para além da Operação Furacão (entretanto, Madoff já foi julgado e condenado), o julgamento da Casa Pia, que nos faz corar a todos de vergonha. Não são os edifícios, nem a “desmaterialização” dos processos que resolverão os problemas.
Há um espírito tecnocrático no ar que tenta convencer as pessoas de que a técnica resolverá os nossos problemas. Nada de mais errado. A maioria dos nossos problemas precisa de soluções políticas, não técnicas. Veja-se, por exemplo, a falta de competitividade nacional, porventura o maior problema de todos, e que nos está a empobrecer rapidamente e de forma contínua.
O exemplo mais gritante - e caricato - da nossa falta de política é o novo aeroporto internacional de Lisboa. Quer a opção pela anterior localização na Ota, quer a actual opção (que espero que nunca se concretize) em Alenquer, foram justificadas a seu tempo com todos os argumentos técnicos. A opção política clarividente e assumida foi sempre sacrificada às modas técnicas do momento.
Outro exemplo é o da “devolução dos centros urbanos aos peões”. A sujeição das opções políticas a modas urbanísticas como aquela, ditou em muitas das nossas cidades o abandono dos centros pelos residentes, a desgraça económica dos comerciantes lá instalados e a desvalorização do património edificado.
A governação do “bem comum” não se deve fazer em nome da técnica. Do que precisamos é de políticos bem formados, com experiência e capacidade de diálogo e de decisão, que assumam as suas opções políticas sem se esconder atrás dos biombos da técnica.
Publicado no Diário de Coimbra em 3 de Agosto de 2009
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