Desde há uns trinta anos que não me lembro de ver um Verão tão quente. Politicamente, claro está, que a evolução climática só nos deixa ter breves vislumbres dos antigos verões de canícula de meses seguidos. Isto porque por vontade própria não sou frequentador das nossas paragens mais próximas dos calores africanos e portanto mais quentes, preferindo antes as praias da costa atlântica mais próximas de nós.
Naquele Verão quente de há quase trinta anos todo o país seguiu alvoroçado as aventuras e desventuras de mais um governo de iniciativa presidencial, na altura chefiado pelo Eng. Nobre da Costa.
Neste Verão que agora vivemos, os partidos preparam-se para as duas eleições que vão marcar o início do Outono e as peripécias mais ou menos empoladas pela comunicação social vão-se sucedendo em catadupa.
A própria comunicação social aparece também como causa de notícias, em vez de ser apenas transmissora delas. Ele é a venda da TVI a uma “barriga de aluguer” que a poderá por sua vez vender à PT distribuindo pelo caminho boas indemnizações; ele é a própria Entidade Reguladora da Comunicação Social a ser notícia pelas razões mais inacreditáveis, como a tentativa de obrigar os órgãos de comunicação social a darem a mesma visibilidade a todos os partidos concorrentes ou a impedir os habituais interventores na comunicação social de o continuarem a fazer se forem candidatos nem que seja à sua freguesia.
Os partidos ultimam as suas listas para a Assembleia da República, o que é sempre motivo das maiores discussões e manifestações de melindre. As escolhas de candidatos a deputados têm levado a situações de desvario que atingem o ridículo.
Entendamo-nos. Por um lado, toda a gente passa a vida a criticar e a meu ver bem, os regulamentos internos dos grupos parlamentares que limitam as intervenções pessoais dos deputados e os transformam, na sua grande maioria, em simples correias de transmissão das direcções partidárias. Isto é, devemos reconhecer que ser deputado não é hoje uma tarefa muito exaltante. Mas claro, para muita gente a estabilidade do lugar e a possibilidade de contactos tornam um lugar na AR muito apetecível, pelo que quando as expectativas são defraudadas por não serem escolhidos para as listas, há sempre choro e ranger de dentes.
A decisão definitiva para a escolha final e nominal das listas cabe maioritariamente a quem foi escolhido pelos militantes para determinar o futuro dos partidos. É tarefa das lideranças proceder às escolhas para as diversas funções e tarefas, já que serão os responsáveis pelas inerentes consequências eleitorais. Conforme as suas próprias convicções e maneiras próprias de gerir, as lideranças podem ser inclusivas ou exclusivas na elaboração das listas que propõem ao eleitorado.
Perante a previsibilidade de grandes dificuldades como é hoje o caso dos dois grandes partidos, é fácil cair na tentação de contar apenas com aqueles com quem não haverá grande necessidade de discutir opções por estarem de acordo ou simplesmente por não terem opinião própria.
É a táctica do “ou tudo ou nada” que facilita a tarefa futura dos que são agora excluídos quando por sua vez estiverem na mó de cima, pela volta da roda da História. E isso vai suceder mais cedo ou mais tarde num dos dois grandes partidos, porque só um deles ganhará, parecendo não haver grandes condições para um “bloco central”.
Neste Verão tivemos ainda a oportunidade de apreciar a repetição de velhas histórias com novas roupagens, que nestas coisas da política não há nada de novo, apenas repetições que ora são tragédias, ora dão em comédias, como é bem conhecido.
Por estes dias os tribunais vieram dar uma nova consistência a um neologismo que por aí anda que é “isaltinar”. Resta saber se a condenação da personagem que lhe deu origem é suficiente para evitar a repetição do sucesso dos seus pares que têm conseguido convencer os eleitores de que o que é preciso é fazer obra, independentemente de considerações éticas.
Para amenizar os calores de Verão, tivemos ainda a já habitual “pesca à linha” que os partidos tanto gostam de fazer, particularmente quando ocupam o poder e podem assim oferecer algo mais.
Desta vez o gosto de alguns dos protagonistas pela exposição mediática proporcionou momentos de invasão da política pela literatura de cordel que teve o raro condão de nos animar e bem dispor a todos, exceptuando claro está os próprios intervenientes.
A todos os leitores os meus votos de um bom Verão que retempere as forças permitindo que ganhem energia para ultrapassar com sucesso os rigores invernais que obrigatoriamente se seguirão ao Outono que se aproxima a passos largos com a gripe A e crises pós eleitorais.
Publicado no Diário de Coimbra de 10 de Agosto de 2009
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