segunda-feira, 24 de agosto de 2009

OBAMACARE, POR EXEMPLO


Nas últimas semanas tem-se assistido a um intenso debate nos EUA, enquanto o Presidente Obama tenta levar a cabo a sua reforma do sistema nacional de saúde americano, uma das bandeiras da sua campanha presidencial.

No entanto, à medida que vai tentando explicar as linhas da reforma, vai encontrando resistências cada vez maiores da parte de sectores da sociedade que à partida consideraria como seus apoiantes. A situação chegou mesmo ao ponto de os congressistas e senadores democratas terem utilizado as férias oficiais para promoverem encontros directos de divulgação com a população em inúmeros locais como câmaras municipais, escolas, etc. O problema é que quanto mais explicações dão, mais questões e dúvidas se levantam entre os cidadãos. Assinale-se no entanto, que mesmo depois da sua eleição em que propunha a reforma em causa, Obama sentiu necessidade de a explicar exaustivamente, ouvindo as pessoas e introduzindo as alterações sentidas como mais consistentes, não a impondo a qualquer custo.

O que está em causa?

Os países desenvolvidos que possuem sistemas de apoio de saúde generalizado aos seus cidadãos adoptaram, em geral, um de três tipos essenciais de organização. O economista Paul Krugman, prémio Nobel de economia do ano passado, explicou em artigo recente publicado no Herald Tribune as diferenças essenciais entre eles. Existem países, como a Inglaterra, em que o Estado possui e gere ele mesmo os estabelecimentos de saúde e emprega os médicos. Há outros, como o Canadá ou a França, em que os cuidados de saúde são dispensados por entidades privadas que apresentam depois a conta ao Estado. Ainda em outros países como os EUA, o sistema baseia-se em seguros de saúde privados pagos pelas entidades empregadoras. Há outros países, como a Suíça, que adoptaram os seguros de saúde, usando no entanto uma mistura de regulação e subsídio que garante que ninguém fica desprotegido, ao contrário do que acontece no sistema americano em que os desempregados não podem ficar doentes.

Básicamente, o que Obama tenta fazer é misturar o actual sistema americano com o suíço, obrigando as seguradoras a determinadas regras e pagando os excedentes. Há que reconhecer que não é tarefa fácil para um país com a dimensão dos EUA, mantendo a prestação de serviços na esfera privada, como pretende Obama, contrariando os gostos da nossa Esquerda.

Outro dado curioso, é a comparação das despesas de saúde de vários países, em função do rendimento (PIB):

Reino Unido: 8,2%

Canadá: 9,7%

França: 11,1%

Suíça: 11,4%

EUA: 15,9%

Isto é, apesar de todos os seus problemas, os EUA gastam muito mais com a saúde dos seus cidadãos do que qualquer outro país desenvolvido.

Curiosamente, Portugal gasta um pouco mais de 10%, sendo que há a consciência, como o Prof. Manuel Antunes tem explicado, que 25% daquela verba corresponde a desperdícios que poderiam ser aplicados noutros sectores ou em benefício da qualidade e eficácia do próprio SNS.

Em época pré-eleitoral, esperemos que os próximos debates políticos possam esclarecer os portugueses sobre o futuro do SNS, em função dos interesses dos utentes e dos cidadãos que o pagam com os seus impostos.


Publicado no Diário de Coimbra em 24 de Agosto de 2009

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