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terça-feira, 5 de janeiro de 2010
SCUTs
Serviço público
http://www.isp.pt/NR/exeres/019EEB91-E357-4A7C-8BD2-B62293701692.htm
A ESQUERDA TEM MEDO DO POVO?
Já sabíamos que as vanguardas se afastam muitas vezes do povo, agora que sequestrem todo um povo, sem sequer terem que recorrer a armas, isso já é novidade. Este tipo de atitudes dá normalmente maus resultados.
DESILUSÃO
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
As Cidades
Viver na cidade é hoje a situação mais comum para a maioria da população. Tal facto deve-se a causas positivas, mas também a negativas. É bom, porque significa que um cada vez maior número de pessoas tem acesso a ofertas (de bens e serviços) que não estão disponíveis em zonas rurais, o que lhes possibilita um maior leque de escolhas profissionais, mas também culturais e de desenvolvimento pessoal.
Mas há aspectos negativos. Desde logo, porque a deslocação se faz primordialmente para as áreas metropolitanas, principalmente Lisboa, não se verificando um aumento populacional nas chamadas cidades médias. Esta situação de uma metrópole hiper-dimensionada relativamente ao resto do país significa que não se verifica um desenvolvimento harmonioso do país, o que origina problemas graves. Traz consigo um desenraizamento muito forte com uma acentuada falta de integração no contexto urbano e os inerentes problemas sub-urbanos de falta de segurança e instabilidade pessoal e familiar. Por outro lado, há um movimento de deslocação das populações do interior para o litoral, como já aqui salientei há poucas semanas. Na realidade, este fenómeno significa uma litoralização crescente da população portuguesa, da qual mais de 80% já vive nos concelhos do litoral e vizinhos, isto é, na prática, entre a costa e a A1.
Com a mudança das populações, as cidades têm que dar novas respostas, não sendo suficiente a gestão urbanística clássica, que se traduzia por um planeamento do território a régua e esquadro e pela aplicação de um grande número de normas muitas teóricas e com frequência desadaptadas da realidade.
Hoje em dia, é particularmente claro que as cidades competem entre si. Não só as populações com maiores recursos profissionais e financeiros podem escolher onde querem viver e exercer as suas actividades, como muitas empresas escolhem a localização para laborar que lhes é mais favorável. Isso depende do “ambiente económico” local, que tem a ver com acessibilidades, terrenos disponíveis e licenciamentos em tempo útil, mas também com a existência de mão-de-obra qualificada para a sua especificidade, existência de infra-estruturas urbanas para as famílias dos trabalhadores e a possibilidade de acesso a laboratórios de investigação de que eventualmente necessitem para a sua competitividade.
Evidentemente que as cidades deverão previamente ter o trabalho de detectar as suas linhas de força internas que lhes dão à partida vantagens comparativas e a capacidade de escolher os investimentos que, em termos de futuro, lhes amplifiquem essas vantagens. Isto é, para além de prepararem ofertas físicas adequadas, deverão ter uma visão estratégica do que são e daquilo que querem ser.
E o que querem ser passará obrigatoriamente pelos actuais vectores de desenvolvimento. De facto, é nas cidades que se juntam, num espaço limitado, capacidades produtivas, trocas de valor e acumulação de saber e criatividade que produz inovação.
Coimbra está neste caminho, bastando ter capacidade de observação crítica para se tirar esta conclusão. A actual atitude da Universidade, virada para o apoio à inovação criativa do ponto de vista económico bem como para o diálogo com as empresas, o investimento municipal massivo em espaços devidamente infraestruturados para acolhimento de empresas de base tecnológica (Coimbra iParque) e o aprofundamento do Plano Estratégico e de Urbanização mostram-no claramente.
Em épocas de crise generalizada, em que parece que todos ralham e todos têm razão, é ainda mais evidente a necessidade de visão estratégica que permita encontrar os caminhos que no futuro ditarão a diferença pela criação de riqueza e bem-estar. Isto tem muito a ver com capacidade de gerar consensos e unir esforços no Desenvolvimento da Cidade do século XXI.
Publicado no Diário de Coimbra em 4 de Janeiro de 2010
domingo, 3 de janeiro de 2010
Gripe A
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
PAÍS A DUAS VELOCIDADES
Fala-se muito por aí da necessidade de escolher um novo modelo de desenvolvimento para Portugal, como se tivéssemos um. Na verdade, o que hoje temos é o resultado da soma de voluntarismos governamentais diversos e da tomada do Estado por interesses corporativos e grupos de pressão.
Uma das características deste estado de coisas é uma evidente falta de coerência espacial e temporal do suposto modelo de desenvolvimento. Os voluntarismos descoordenados levaram a que se verifique uma coexistência de vários ritmos no mesmo espaço geográfico, isto é, realidades dentro de um mesmo país a circular a velocidades muito diferentes. Vemos essa disparidade nas nossas estradas, para dar um exemplo simples do quotidiano para todos os cidadãos. A melhoria da rede viária e a evolução tecnológica dos automóveis não foi acompanhada por uma adequada preparação da formação de grande número dos automobilistas. Como resultado, assiste-se permanentemente a situações que se poderiam considerar caricatas, se não fossem sempre potencialmente perigosas pelo meio em que se verificam: automobilistas que entram em sentido contrário nas auto-estradas, que param no meio da via sem qualquer sinalização, que andam perdidos pelas rotundas, etc.
Mas, de vez em quando, situações muito mais graves vêm denunciar o tal país a várias velocidades. Há poucos dias, um deslizamento de terras encerrou ao trânsito uma auto-estrada junto de Lisboa, a chamada CREL, provocando uma situação que se prevê durar várias semanas. A empreitada é simples: estima-se que seja necessário retirar de 500 a 600 mil metros cúbicos de terras, o que está a ser feito por 60 camiões a trabalhar 24 horas por dia. Isto é, enquanto uma moderna infra-estrutura era aberta à circulação viária, assegurando o escoamento de mais de 40.000 veículos por dia, ao lado foi-se fazendo um aterro sem qualquer controlo. O tal outro país, meio subterrâneo e eventualmente clandestino embora à vista de toda a gente, mais uma vez invadiu e ocupou espaço do país que circula à velocidade europeia.
A troca pública de acusações e de atribuição de responsabilidades entre as diversas entidades envolvidas é lamentável, pondo a nu as fragilidades do Estado perante as “espertezas” de alguns. E não se diga que a culpa é da falta de regulamentações: a execução de aterros é das actividades mais exaustivamente reguladas, e existem diversas entidades com competências sobre a matéria. Evidentemente que quem não tem culpa nenhuma são os automobilistas, que se vêem privados da utilização de uma estrada importante e diariamente arcam com mais custos em tempo e distância percorrida entre as suas casas e o trabalho.
Claro que se pode olhar para este caso como apenas mais uma consequência de um inverno rigoroso, como alguns tentam "vender" o sucedido. Não nos deixemos enganar. Há um país subterrâneo que vive e muitas vezes sobrevive sob uma capa fina de modernidade que se rompe à menor contrariedade: não nos esqueçamos da ponte de Entre-os Rios, desastre que acabou por não ter quaisquer responsáveis.
Com estes exemplos, uma pessoa fica a pensar que, realmente, mais valia sermos capazes de construir um país coerente e sem desfasamentos físicos e temporais, embora eventualmente a uma velocidade um pouco mais baixa, mas em segurança, isto é, em que as infra-estruturas construídas são fiáveis, não passíveis de invasões externas e com custos de manutenção perfeitamente garantidos durante toda a sua vida útilquinta-feira, 31 de dezembro de 2009
BOM ANO
Evangelho do dia: (Jo 1, 1-18) No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo se fez por meio d'Ele e sem Ele nada foi feito. N'Ele estava a vida e a vida era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam. Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era seu e os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho d'Ele, exclamando: «Era deste que eu dizia: 'O que vem depois de mim passou à minha frente, porque existia antes de mim'». Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça. Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer.
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
2010, um ano de centenários
O correr inexorável do tempo trouxe-nos o fim do ano de 2009. Como sabemos, a numeração dos anos corresponde a uma pura convenção, sendo em quase todo o mundo seguido o calendário gregoriano que em 1582 aperfeiçoou e substituiu o calendário juliano que vinha desde os tempos do império romano.
Já a duração dos anos não tem nada de convencional, correspondendo à duração de uma translação da Terra à volta do Sol. Embora o esqueçamos com alguma frequência, todos nós vivemos em ritmos impostos pela Natureza que não está nas nossas mãos mudar.
Nas passagens de ano é frequente recordar as efemérides que ocorrem no ano que vai começar. Trazem-se assim à lembrança factos do passado que marcaram a nossa história colectiva, definindo boa parte daquilo que somos hoje.
No ano que começa esta semana ocorrem dois centenários muito importantes para o Portugal actual: os duzentos anos das invasões francesas e os cem anos da instauração da República.
Não sendo um facto muito conhecido, passam no próximo dia 1 de Outubro duzentos anos sobre a data em que o exército francês de Massena ocupou e saqueou Coimbra durante vários dias. A batalha do Buçaco em que os exércitos portugueses e ingleses comandados por Wellington derrotaram os invasores, tinha ocorrido pouco antes, em 27 de Setembro. Após a batalha, os exércitos aliados retiraram para sul, na sua estratégia de ir dando luta aos franceses até às Linhas de Torres Vedras que protegiam a capital. Foi assim que Coimbra ficou à mercê dos soldados derrotados de Napoleão, famintos e maltratados. A quase totalidade dos cerca de 40.000 habitantes da nossa cidade fugiu enchendo as estradas atrás dos soldados portugueses e ingleses. Os soldados franceses destruíram e pilharam tudo o que puderam e não tinha sido escondido não escapando nada, nem sequer laboratórios da Universidade. Muitos habitantes terão sido mortos, sem distinção de sexo nem idade. Antes que as milícias portuguesas comandadas pelo coronel inglês Trent tivessem recuperado a Cidade em 7 de Outubro, centenas de edifícios haviam sido incendiados. As Guerras Peninsulares marcam o início de um definhamento da economia portuguesa que nunca mais recuperou totalmente em relação ao resto da Europa.
Igualmente em Outubro, comemoram-se os cem anos da República. Dois anos depois do regicídio, uma revolta em Lisboa deu origem ao fim da Monarquia, velha de oitocentos anos. O regime estava de tal forma apodrecido, que nem se defendeu. Já D. Carlos costumava dizer que era rei numa monarquia sem monárquicos. Não vale a pena estarmos hoje a branquear o que foi a 1ª República. Claro que teve alguns aspectos positivos. Mas os negativos foram tantos e tão graves, que criaram um fosso entre a esmagadora maioria da população e a reduzida clique do PRP que governou Portugal como se fosse sua propriedade. Em poucos anos conseguiu criar uma reacção que levou ao 28 de Maio de 1926. Aliás, nem republicanos escaparam à desgraça que foram esses tempos, como o chefe do governo António Granjo morto pela carbonária na tristemente célebre noite de 21 de Outubro de 1921, tal como sucedeu com outras figuras de relevo. Nem se diga que a 1ª República trouxe mais democracia a Portugal do que o regime que derrubou. Após o 5 de Outubro de 1910, o número de recenseados desceu mais de 50%, já que a nova república tinha medo dos votos do povo. Em 1926, Portugal era mesmo o único país europeu sem sufrágio universal, como lembra Rui Ramos na sua recente História de Portugal.
A História pode ajudar a criar um espírito colectivo de pertença a uma comunidade, mas deve servir também e sobretudo, para evitarmos erros do passado e sermos capazes de preparar um melhor futuro para os que nos sucederão.
Bom ano de 2010 para todos os leitores.
Publicado no Diário de Coimbra em 28 de Dezembro de 2009