terça-feira, 27 de abril de 2010

Bolsa perde 5,36% após descida do rating


via Expresso em 27/04/10
A agência de rating Standard & Poor's desceu a notação de risco de Portugal, com receios de que o país não consiga pagar a sua dívida. O risco de incumprimento aumentou para o nível mais elevado de sempre.


DE MAL A PIOR

Do Diário Económico:

Tal como Económico antecipou em primeira mão, a S&P acaba de reduzir a notação da dívida portuguesa em dois níveis, de 'A+' para 'A-'.

Trata-se da pior classificação desde a primeira classificação da S&P para Portugal, em 1992, ainda no tempo do escudo, segundo dados da Bloomberg.

Tão negativo quanto isso é o aviso da agência de notação financeira de quer poderá voltar a cortar a classificação da dívida portuguesa se o défice e a dívida nacional derem sinais de descontrolo.

"O 'downgrade' de dois níveis reflecte o nosso entendimento de que Portugal enfrenta riscos orçamentais acrescidos", justifica Kai Stukenbrock, da S&P, uma das mais poderosas agências de notação financeira.

A nova classificação da dívida portuguesa, de 'A-' significa que Portugal é tido como segundo país mais arriscado pela zona euro, deixando de estar ao mesmo nível de Chipre, Itália e Eslováquia. Pior que Portugal só a Grécia, que tem um 'rating' de 'BBB+'.

O 'rating' funciona como uma espécie de cartão de visita quando um Estado ou uma empresa procura financiamento nos mercados internacionais. Quando mais baixo for a classificação atribuída pelas agências, mais caro sairá a emissão de dívida.

Conjuntura: Custo dos 'credit default swaps' já sobe 40,7 pontos e atinge no...


via Expresso em 27/04/10
Lisboa, 27 abr (Lusa) - O preço para segurar a dívida portuguesa, os 'credit default swaps' (CDS), subiu para 351.9 pontos base, atingindo novos máximos históricos pelo décimo primeiro dia consecutivo, de acordo com os números da CMA Datavision.


Portugal sobe para 6º lugar

Ai ai ai


via Expresso em 27/04/10
No monitor de risco disponível para as 12,30h, o país ultrapassou o Dubai e o Iraque, e subiu ao 6º lugar, com mais de 26% de risco de bancarrora. Grécia mantém-se em 1º lugar e risco de Irlanda e Espanha continua a subir


segunda-feira, 26 de abril de 2010

TEMOS SARILHOS

Bolsa de Lisboa é a que mais cai no mundo, PSI 20 tomba 3% (DE)

Num dia em que as principais praças europeias até protagonizaram ganhos, o PSI 20 fechou a perder mais de 3%, acompanhado pela bolsa grega.


COIMBRA NO SEU MELHOR

Como alguns dos meus leitores já terão certamente reparado, reservo a subtítulo “Coimbra no seu melhor” para aquilo que na nossa Cidade me surpreende pela positiva e que merece ser divulgado. O espírito geral destes escritos é o de relevar o que há de bom e de apontar o que me parece negativo, mas sempre numa perspectiva construtiva, tentando apontar alternativas ou caminhos diferentes. Mas não há nada que me satisfaça mais que mostrar o que é feito e melhora a nossa cidade, aquilo que demonstra espírito empreendedor, aquilo que claramente fazemos melhor.

A Feira do Livro de Coimbra já vai na sua 33.ª edição, tendo portanto uma longa tradição. Lembro-me bem que muitas vezes foi criticada, justa ou injustamente, lamentando-se a falta de iniciativas.

A Feira do Livro deste ano ultrapassa tudo isso. Poder-se-á mesmo falar de uma reinvenção da Feira. De facto hoje em dia, compram-se livros com desconto durante todo o ano nas livrarias. Mas a Feira do Livro deste ano é muito mais que uma feira de livros desse tipo. À exposição e venda de obras, ainda assim com descontos superiores aos habitualmente praticados pelas livrarias, a organização acrescentou muitas outras actividades científicas, culturais e artísticas.

Do programa, retiro:

As oficinas de encadernação e douramento de livros e também a formação em restauro do livro antigo;

Os diversos concertos e recitais de música de variados géneros, bem como workshop de dança;

As sessões de leitura para diferentes públicos-alvo;

As tertúlias com Professores convidados bem conhecidos de todos nós, como Marcelo Rebelo de Sousa, Luís dos Reis Torgal, Manuela Delille, Sá Furtado, José Carlos Seabra Pereira, Manuel Portela, Rui Bebiano e Carlos Fiolhais, entre outros.

São quinze dias em que os livros, para além de peça central, constituem pretexto para que os conimbricenses se desloquem à Praça da República até ao próximo domingo dia 2 de Maio, a fim de participar ou apenas assistir aos mais diversos acontecimentos ou eventos, como agora se costuma dizer. Até ao próximo fim-de-semana, o leitor ainda terá a oportunidade de conhecer melhor Aquilino Ribeiro, ouvir declamar poesia de Miguel Torga e José Régio, recordar a figura de Fernão Mendes Pinto, discutir o futuro do livro ou aprender a ter “cuidado com a língua”. Hoje mesmo, será inaugurada a exposição Ex-Libris, “ESTE LIVRO É MEU E DOS MEUS AMIGOS”.

A sua designação oficial é 33ª Feira do Livro de Coimbra. Na realidade, trata-se de uma verdadeira Festa Cultural à Volta dos Livros. Parabéns aos organizadores que, com dedicação e certamente muito trabalho, conseguiram “dar a volta” a um acontecimento rotineiro e fazer dele uma novidade de grande qualidade e que assim ajuda ao prestígio de Coimbra na área cultural.

Verdadeiramente Coimbra no seu melhor.

Publicado no Diário de Coimbra em 26 de Abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

QUESTÕES DE DEMOGRAFIA

Não é a primeira vez que abordo a questão da demografia em Portugal, e não será certamente a última, dada a gravidade de que se reveste e das consequências trágicas que pode vir a provocar na sociedade nas próximas décadas.

As análises da evolução demográfica indicam que os portugueses se estão a transformar num povo em risco de extinção a curto prazo. Em 1960, nasciam 214.000 portugueses e morriam 95.000. Em 1980, já só nasceram 158.000 para 94.000 óbitos. Em 2008, nasceram 104.500, tendo falecido 104.200. Embora ainda não haja dados oficiais, no ano passado o n.º de nascimentos terá sido inferior a 100.000, tendo morrido mais pessoas do que aquelas que nasceram, pela primeira vez. Chegámos verdadeiramente ao inverno demográfico.

Como resultado desta evolução, verifica-se que o índice sintético de fecundidade diminui em Portugal para valores à volta de 1,3, quando o valor que garante a renovação é de 2,1. As mulheres portuguesas têm cada vez menos filhos, e mais tarde. A descida da natalidade é acompanhada por um aumento da longevidade da população portuguesa, tendo, em escassos dez anos, duplicado a importância relativa da população com 80 ou mais anos de idade, enquanto o n.º de pessoas com 65 ou mais anos de idade por cada 100 pessoas em idade activa passou de 19 para 26. Estima-se que nos próximos 25 anos o número de idosos poderá ultrapassar o dobro do número de jovens.

As consequências desta evolução demográfica que acompanha, aliás, o que se passa no resto dos países desenvolvidos, são muitas e variadas.

Os custos da segurança social disparam, colocando claramente em risco a sua sustentabilidade e o próprio modelo social, por falta de contribuintes líquidos face ao elevado número de reformados.

Os custos da saúde aumentam também de forma acentuada: os custos de saúde de uma pessoa com 65 anos são, em média, cerca de três vezes os custos com pessoas entre os 30 e os 50 anos.

O número de alunos nas escolas diminui, eliminando muitos postos de trabalho ligados à Educação.

A própria competitividade das nossas sociedades, face aos países emergentes em época de globalização, é colocada permanentemente em causa: esses países são muito mais jovens, com as vantagens inerentes. No mundo do trabalho, as consequências são também importantes. O aumento da esperança de vida vai adiando o momento da reforma, com implicações na produtividade das empresas. Mas, como acontece muitas vezes, são as próprias empresas que mostram ter capacidade de adaptação às diferentes condições que estão a desenvolver-se com o aumento da idade média dos trabalhadores. Muitas empresas pelo mundo inteiro estão preocupadas com este assunto, e desenvolvem estratégias para o enfrentar.

A HBR (Harvard Business Review) de Março conta-nos como o fabricante de automóveis alemão BMW se prepara activamente para enfrentar o facto de que, enquanto hoje a média de idade dos seus trabalhadores é de 39 anos, daqui a escassos dez anos será superior a 47 anos. Foi constituída uma unidade piloto, com a média de idades prevista de acordo com esta previsão e dando atenção a cinco factores: gestão de saúde, competências, ambiente do posto de trabalho, políticas de reforma e mudança de processos de laboração. O sucesso da experiência, levada a cabo com a participação dos trabalhadores que propuseram mais de 70 pequenas alterações aprovadas foi de tal ordem que a própria produtividade da unidade subiu 7% num ano. Isto é, para além de promover a integração de trabalhadores mais velhos, ainda se obtiveram ganhos produtivos. A empresa está neste momento a promover alterações semelhantes nas suas fábricas pelo mundo inteiro.

Este é um exemplo a estudar com atenção e a replicar onde for possível. É socialmente muito mais justo do que mandar os trabalhadores para casa só por causa da idade, ou mesmo mudar em massa trabalhadores para trabalhos mais leves, dentro das unidades produtivas.

Publicado no Diário de Coimbra em 19 de Abril de 2010

segunda-feira, 12 de abril de 2010

OS CIDADÃOS FACE À POLÍTICA

Nos últimos tempos temos assistido a uma violenta alteração do ambiente político em Portugal. Nada que nos deva surpreender, porque as crises económicas profundas e prologadas trazem sempre dentro de si o fermento para mudanças políticas significativas. O contrário, isto é, a manutenção do “status quo” que muitas vezes provocou ou potenciou a crise económica é que seria de espantar.

Não estou a falar das alterações de liderança no interior dos partidos, necessárias como resposta às insatisfações e anseios de mudança da população, mas da forma como o próprio sistema político funciona.

Os resultados das últimas eleições legislativas que retiraram a maioria absoluta ao partido do Governo poderão explicar muito do que se passa. Mas a actual situação vai muito para além disso.

Primeiro, temos uma chocante mistura entre política e Justiça, que só pode dar maus resultados, se não for travada rapidamente. Infelizmente, os principais responsáveis pelas diversas instituições que têm a ver com a aplicação da justiça parecem apostados em convencer toda a gente de que têm uma agenda política própria ou, no mínimo, que não têm suficiente independência relativamente a outros poderes.

Os casos “alegadamente” relacionados com corrupção ligada a decisões políticas surgem com uma regularidade impressionante. Sugestivamente, e certamente não por acaso, a tentação de culpar os portadores de más notícias isto é, a comunicação social, é algo em que muitos dos decisores políticos caem hoje em dia de forma clara e evidente.

Como consequência, a população tende a olhar para todos os políticos com doses cada vez maiores de desconfiança. O facto de os vencimentos dos gestores das principais empresas participadas pelo Estado serem obviamente exagerados face à economia nacional, o que, aliás, foi vincado pelo Sr. Presidente da República há uns dois anos, está a envenenar todo o ambiente político. A isso não será alheia a evidência para toda a gente de que esses responsáveis já passaram praticamente todos pelas cadeiras dos governos de diversas cores políticas.

Os custos associados ao funcionamento da Assembleia da República circulam por toda a internet, com os comentários mais díspares, mas manifestando sempre choque e muitas vezes repulsa pelos números envolvidos, como se a Democracia não tivesse custos. O que se deve colocar em questão não são os custos em si mesmos. De facto o número de deputados é que é excessivo. E diga-se também que o processo interno de escolha dos candidatos a deputados por parte dos partidos é muitas vezes obscuro e utilizando critérios no mínimo facciosos, para não ser demasiado antipático. Isso reflecte-se posteriormente na constituição da Assembleia, como é patente nos dias de hoje quando olhamos para boa parte dos diversos grupos parlamentares. Digo olhar, porque quanto a ouvi-los bem, nem vale a pena comentar. A consequência desta prática dos partidos é a difusão da ideia de que os deputados só servem para gastar dinheiro, já que não produzem nada, o que é inteiramente errado e mesmo perigoso.

Mas em relação à Assembleia da República há uma alteração mais significativa e importante. Uma das suas funções constitucionais é a fiscalização da actividade governativa, para além da actividade legislativa. Ao longo dos anos, essa função tem sido claramente relegada para segundo plano. Essa prática e esses hábitos estão hoje a sofrer uma mudança radical, com o surgimento de duas Comissões Eventuais de Inquérito e a possibilidade de surgir ainda mais alguma a curto prazo. A consequência é que a actividade dos Deputados que nos entra todos os dias em casa através da TV, é quase exclusivamente a de inquirirem as mais diversas personalidades da vida política e económica. Isto nada tem de mal, é algo que se passa nos parlamentos de todas as democracias. Mas entre nós ainda se reveste de alguma novidade, e é bom que nos vamos habituando, porque vai contribuir para dessacralizar boa parte da actividade governativa do país e isso tem consequências.

Publicado no Diário de Coimbra em 12 de Abril de 2010