Em 7 de Maio de 1945, o almirante Karl Donitz assinou a capitulação alemã
Acabava a barbárie nazi.
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
terça-feira, 8 de maio de 2012
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Europa: um descaminho
O
Euro foi criado à imagem e semelhança do antigo Marco alemão: ou era assim, ou
a Alemanha não entrava na moeda única. Segundo muitos, radica aqui a origem de
muitos dos nossos males de hoje. Acredito que haja alguma razão nisso, embora
não explique tudo. De facto, a Alemanha tem um passado histórico difícil de
gerir, desde as grandes guerras a que deu origem, até ao conturbado processo de
integração da ex-Alemanha Oriental. Daí advém uma extrema ortodoxia na sua
organização interna, em particular na gestão das contas públicas: são ainda
demasiado frescas as consequências dos desvarios dos primeiros decénios do
século XX alemão e existe um autêntico pavor de inflação elevada.
Tudo
isto era conhecido aquando da criação da moeda única europeia. E, apesar disso,
os dirigentes europeus, nacionais e comunitários, deixaram-se levar pela doce
ilusão das baixas taxas de juro e da conversa sobre o orgulho de terem uma
moeda forte. Andaram anos a deixar acumular dívida, a gastar e criar défices
excessivos e a discutir autênticas aberrações como a decantada “estratégia de
Lisboa”, a “Constituição Europeia” e assuntos do género, para não falar da
regulação do tamanho da banana, das condições das gaiolas das galinhas, etc.
Por
discutir e por aplicar a sério ficaram assuntos verdadeiramente importantes
como o aprofundamento da federação europeia, absolutamente necessário a partir
do momento em que se adoptou uma moeda comum. Assunto quase tabu, para não
ferir susceptibilidades nacionalistas, que o próprio nome assusta muita gente.
Isto depois de se terem transferido para a União algumas das principais
soberanias nacionais. O resultado foi que ficou toda a gente de mãos atadas. Os
diversos países do Euro, porque entregaram a política cambial e definição de
taxas de juro à União; esta, porque os países continuaram com as suas políticas
orçamentais e fiscais próprias. A Europa continua a ser uma grande potência
económica, mas porta-se como alguém que na guerra possui uma arma poderosa, mas
com o gatilho atado com um cadeado, sem a chave para o abrir.
Num
mundo em que a globalização veio alterar todo o funcionamento económico e
financeiro, a Europa tem-se portado como um autêntico “pato sentado”, ficando à
mercê das consequências da desregulação dos fluxos financeiros, das tecnologias
de informação, dos proteccionismos de muitos países outrora classificados como
emergentes mas que são hoje “players” cada vez mais importantes como a China e
o Brasil. Refém, acima de tudo, dos seus próprios fantasmas e de políticos sem
capacidade para lidar com problemas novos, desconhecidos até dos estudiosos de
economia que tateiam no escuro, acenando com fórmulas e respostas de outras
épocas e outros mundos que não são os nossos de hoje
É
neste contexto que Ângela Merkel age como se o Euro fosse acabar amanhã e
tivesse de voltar ao antigo Marco, defendendo-se e fechando-se nas antigas
políticas de segurança orçamental e anti inflacionista. Por isso exige a todos
os outros “austeridade e reformas estruturais”, negando-se a considerar a
hipótese de alterar o “pacto orçamental” com vista a partilhar os custos das
dívidas e de défices dos outros países. Claro que estes têm todas as culpas do
mundo sobre a situação em que se encontram, pelo descontrole das suas contas.
Mas hoje torna-se evidente que a Alemanha está já a lucrar com os problemas dos
outros. Numa altura em que a inflação anda acima dos 2,5%, a Alemanha coloca
dívida pública a dez anos à taxa de 1,7%. Os fluxos do dinheiro europeu estão
apenas com um sentido, ainda que a perder juros e que é o de ir para a
segurança da Alemanha.
A
injustiça de ser a Alemanha a pagar pelos disparates dos outros está-se a
transformar numa injustiça inversa, que é a dos aflitos pagarem o bem-estar
alemão, o que muda tudo. E mais uma vez convém ter uma visão histórica das
coisas. A própria Alemanha que hoje é governada por tantos políticos crescidos
na Alemanha de Leste se deve lembrar das dificuldades da integração alemã que
se seguiu à queda do Muro de Berlim, tendo sido ajudada pelo resto da Europa,
isto para não ir mais longe. E que a participação numa União exige cedências de
todos para o Bem Comum, levando quase sempre a arrogância e o isolacionismo a
maus caminhos de grande dor e sofrimento de todos, incluindo os que se acham
donos da razão.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 7 de Maio de 2012
domingo, 6 de maio de 2012
sábado, 5 de maio de 2012
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Ora bem.
Do diário da república de hoje:
"resolução da assembleia da república n 61/2012"
Por um envelhecimento ativo
quinta-feira, 3 de maio de 2012
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Uma cidade não pode ser bipolar
Coimbra
tem a grande sorte de ter a Universidade com o seu nome. Mas não podemos deixar
que esse seja também o seu azar.
Durante
séculos, Coimbra confundiu-se com a sua escola de ensino universitário. A sua própria
organização urbanística reflectia a extraordinária importância da Universidade.
A construção da Rua da Sofia a partir de 1535 por ordem de D. João III teve
como objectivo albergar os Colégios que deveriam constituir a Universidade
finalmente devolvida a Coimbra. Ainda hoje a Rua da Sofia (ou da Sabedoria)
impressiona pelas suas dimensões e grandiosidade dos edifícios, apesar do
generalizado estado de abandono a que tem sido sujeita.
Mas
em 1537 o Rei decidiu que a Universidade iria para a Alta, ficando a Rua da
Sofia destinada a fins habitacionais e religiosos. Coimbra ficou assim
estratificada: a Alta para os Doutores e a Baixa para os “Futricas”. Desde
tempos muito anteriores que a Alta estava protegida no interior do castelo, enquanto
a Baixa se foi construindo a partir dos edifícios encostados ao exterior das
muralhas e à volta de Santa Cruz, com problemas de inundações e instabilidade
crónica de terrenos acompanhando a subida das águas do rio devida ao
assoreamento. Desde a Idade Média que a Baixa foi crescendo de forma orgânica,
através do emaranhado de ruas estreitas de comércio que ainda hoje lhe dão um
encanto especial.
Cidade
de Doutores e Futricas, de facto. Esse carácter bipolar está hoje mitigado, mas
tem ainda grande importância na sociedade conimbricense. De facto, mais
facilmente os Doutores descem ao resto da Cidade, do que os Futricas sobem a
colina da Universidade. A estátua da Varina (lindíssima) colocada recentemente
no Quebra-Costas não perdeu ainda um certo aspecto invasor simbólico da
necessária mudança dos tempos.
Nas
últimas décadas a relação entre a Cidade e a Universidade alterou-se
profundamente. A explosão escolar, também a nível de ensino superior, levou
Universidades e Institutos Superiores a quase todas as cidades do país. Coimbra
deixou de ser o destino dos filhos das elites nacionais para fazerem os seus
estudos. A Universidade de Coimbra tremeu durante anos perante as novas
ofertas, adaptando-se com muita dificuldade à modernidade, mas acabou por fazer
por si como devia.
Hoje,
é da Universidade que emanam as actividades económicas mais notórias de
Coimbra, projectando o nome da Cidade pelo mundo inteiro, através da exportação
de produtos e serviços ao mais alto nível tecnológico. São várias as áreas de
investigação universitária que marcam o melhor de Portugal, desde a Saúde à
Informática, à Biologia, à Química, à Telemática, etc. que promovem da melhor
forma a economia regional e nacional.
Mas
a Universidade ainda projecta uma sombra sobre a Cidade que urge limpar para que
se possa enfim considerar que há uma perfeita integração da escola da velha
Torre na Cidade que a acolhe, certamente com proveitos mútuos. A famosa
“doutorice” que de forma tão negativa caracterizava a velha (e não só de idade)
Universidade tarda em desaparecer. Ainda é possível ver a Cátedra ser usada
como cartão-de-visita social. Historicamente, a “doutorice” tinha o seu reverso
que era a subserviência “futrica” que levava o resto da Cidade a tratar por sr.
dr. toda e qualquer pessoa que aparecesse vestida de um modo menos popular, o
que felizmente, está quase desaparecido.
Claro
que aquela arrogância já não é hoje em dia a regra na nossa Universidade, sendo
provavelmente um resquício de outros tempos que, espera-se, virá a desaparecer.
Mas que existe, existe e tem consequências na própria Cidade. As paredes da antiga
muralha que separava a Alta da Baixa foram demolidas pelo Marquês de Pombal,
aquando da sua Reforma da Universidade. Que os muros interiores, que se sabe
serem por vezes bem mais difíceis de deitar abaixo, desapareçam também um dia
destes, a bem do respeito pela Igualdade e da modernidade de Coimbra e da sua
Universidade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 30 de Abril de 2012
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 30 de Abril de 2012
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