Confesso que estou farto desta conversa: o terrorista
tal foi radicalizado na mesquita tal em Londres, Nova Iorque ou Berlim não
interessa; o assassino não sei quantos foi radicalizado por se sentir
perseguido pela polícia; jovens rapazes ou raparigas sempre ligados à internet
nos seus quartos, radicalizaram-se e resolveram ir juntar-se ao dito estado
islâmico na Síria. As notícias em si criaram uma imagem que se substituiu à
realidade. Se formos procurar o significado de “radical” encontraremos que é
aquele que regressou às origens, à raiz, por oposição à modernidade, o que não
sucede com nenhum dos jovens ocidentais que resolve ir juntar-se ao dito estado
islâmico. Será, no entanto, isso sim, o que acontece com os religiosos
islamitas que adoptaram o fundamentalismo religioso, pretendendo que toda a
sociedade obedeça à sua lei religiosa, em substituição das leis civis e que, de
uma forma ou de outra, encontram um discurso que, pelo engano, consegue cativar
jovens em processo de dificuldade de afirmação.
Contam, para atingirem os seus objectivos, com a paralisação
provocada por processos de auto-culpabilização ou relativismo do ocidente não
islamita ou mesmo cristão e a verdade é que têm conseguido até agora levar a
sua avante, como se pode ver pela própria linguagem com que são referenciados
na comunicação social.
Mas basta de complexos de culpa histórica. Claro
que há umas centenas de anos houve a Inquisição e há mil anos houve as
Cruzadas. Mas também houve a Revolução Francesa, origem do moderno liberalismo,
que inventou a guilhotina e em menos de dez anos cortou a cabeça a mais pessoas
do que as Inquisições conseguiram matar durante séculos. E, antes das Cruzadas,
foram os próprios muçulmanos que, a golpes de cimitarras, instauraram um império/califado
desde a Arábia até à Península Ibérica.
Apesar de tudo isto, o Ocidente
desenvolveu uma civilização de direitos humanos e de respeito pelas minorias
como nunca houve antes. Uma civilização que respeita o passado e o seu legado
histórico, social, mas também patrimonial e que deseja que os seus descendentes
venham igualmente a desfrutar desse mesmo legado em liberdade.
O que se passa no dito estado islâmico é a negação
de todo um património civilizacional da humanidade e é assim que tem de ser
denunciado e combatido.
O auto denominado “estado islâmico” adoptou
práticas infames e autenticamente selvagens contra todos os que define como inimigos
do Islão. Pior ainda, tornou as suas acções contra pessoas tais como
lapidações, decapitações com facas pequenas, flagelações, queima de
prisioneiros em jaulas, lançamentos de pessoas do alto de prédios, assassínios
na rua, crucificações, execuções colectivas de dezenas ou centenas de pessoas
etc. em actos de propaganda, pela sua filmagem e publicação na internet, algo
que nunca antes havia sido feito.
Nos últimos dias, aos crimes contra pessoas
resolveram acrescentar a destruição de património histórico-cultural da
humanidade. Assim, queimaram milhares de livros e manuscritos raros da
biblioteca de Mossul, fazendo uma fogueira com livros culturais, científicos,
infantis e religiosos. Destruíram ainda uma igreja e o teatro da universidade
local. Não contentes, destruíram ainda estátuas com valor incalculável para a
História da Humanidade e, como habitualmente, filmaram tudo e publicaram na
internet, explicando que Maomé fez o mesmo no seu tempo e que ele próprio
enterrou ídolos com as suas mãos, dando-lhes o exemplo para o que devem fazer.
A barbárie continua à solta. Para se financiar, o
dito “estado islâmico” retira para vender órgãos aos seus prisioneiros, que a seguir
enterra em valas comuns.
Para além de uns bombardeamentos aéreos de meia
dúzia de países directamente afectados, normalmente pelo homicídio em directo
de cidadãos seus, não se vê a comunidade internacional a tomar medidas para
acabar com este estado de coisas. Designadamente, a ONU, o que está a fazer? Na
verdade, a notória incapacidade internacional para lidar com o chamado “estado
islâmico” montado por umas escassas dezenas de milhares de homens impressiona
tanto como a sua barbárie.