jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
quarta-feira, 15 de junho de 2016
segunda-feira, 13 de junho de 2016
“Leva muito tempo tornarmo-nos jovens”
Picasso é um dos
pintores mais conhecidos do séc. XX, estando algumas das suas pinturas entre as
obras de arte mais significativas da História da Humanidade. O seu génio como
pintor revelou-se muito cedo, tendo sido orientado nos primeiros anos pelo pai,
ele próprio pintor, mas convencional e sem rasgo. Conta-se que, com menos de
catorze anos, entrou directamente para o último ano de uma escola de pintura,
tendo terminado num único dia um estudo sobre um nu que normalmente seria
trabalho para um mês.
São conhecidos e
sempre referidos os seus diversos períodos na pintura, como o azul, o cor-de-rosa
ou o cubista. No entanto, há outros aspectos da sua vida artística que merecem
atenção. A sua admiração pelos grandes pintores espanhóis é evidente. Não foi
por acaso que pintou uma extraordinária versão de “Las meninas” de Velasquez.
Tal como, ao observarmos a “”Guernica”, não podemos deixar de lembrar Goya e o
seu “fuzilamento de Maio de 1808”. Quanto a El Greco, Picasso manteve uma
admiração constante ao longo de toda a sua vida, com inúmeras obras inspiradas
em quadros do extraordinário pintor nascido em Creta, mas que desenvolveu
grande parte da sua vida artística em Espanha, depois de ter passado por Veneza
e Roma.
Há poucas semanas
tive a oportunidade de, mais uma vez, visitar o museu Picasso em Barcelona.
Para nosso deleite lá está o seu “Las Meninas”, bem como muitos dos estudos que
fez para esse quadro, além de outras obras-primas. Mas há algo que chama a
atenção naquele museu e que é essencial para perceber como se desenvolveu a
obra moderna de Picasso. Antes de se tornar no pintor vanguardista que tanto
influenciou a pintura moderna do século XX, Picasso passou por todo um processo
de aprendizagem, tendo retratos, paisagens e naturezas-mortas de uma qualidade
clássica irrepreensível, como o comprovam as obras existentes no museu. Sentiu
depois a necessidade de se libertar do academismo representativo da realidade
como a vemos exteriormente, como que passando para dentro dessa mesma realidade
e dando-nos a conhecê-la pelos diversos elementos que a constituem. A beleza da
pintura deixou de ser estática, interpelando intimamente e de forma inquietante
quem a observa e aí está o génio de Picasso. Da complexidade estrutural da
pintura representativa clássica, evoluiu para uma “aparente” simplicidade quase
infantil resultante da “explosão” dos diversos elementos integrantes do motivo
do quadro e transformando-os em simples objectos geométricos.
Por isso Picasso
brincava dizendo o que aparece no título desta crónica. Conta-se, a este
propósito, a história de uma senhora que lhe pediu um retrato que o pintor
executou com meia dúzia de traços e em poucos minutos. Quando lhe pediu a
conta, a senhora exclamou que era muito dinheiro para tão pouco tempo de
trabalho ao que o pintor respondeu que aquilo era o resultado do trabalho de
uma vida inteira, pelo que até era barato.
Além do tempo que
demora a ficarmos jovens, aqueles que ficamos, claro, é preciso reconhecer que
isso dá muito trabalho. E, como é evidente, tal não sucede apenas na arte mas
também na nossa vida. A simplicidade que advém do conhecimento interior da
sociedade e das pessoas permite distinguir o que é essencial do que é acessório
e o que é apenas revestimento artificial da realidade, escolhendo a verdade e
excluindo a mentira.
Pablo Picasso
deixou-nos no fatídico ano de 1973, em que a Humanidade perdeu três dos maiores
artistas do século XX, todos chamados Pablo.
Felizmente nos dias de hoje
podemos dizer que os artistas ficam para sempre connosco. Através das gravações
podemos continuar a ouvir Pablo Casals a tocar as suites de Bach no seu
violoncelo e pelos livros lemos os poemas eternos de Pablo Neruda.
Ambos com
uma vantagem sobre Picasso: é que para apreciar verdadeiramente as pinturas de
Picasso temos que nos deslocar perante elas como já fiz várias vezes com a
Guernica, o que não sucede com a audição de Casals e a leitura de Neruda que
podemos apreciar em casa.
segunda-feira, 6 de junho de 2016
A crítica gestão de territórios urbanos
É hoje pacífico
reconhecer que, se o choque político, cultural, económico e social do fim dos
anos 70 e inícios dos anos 80 no nosso país teve aspectos muito positivos,
outros houve com uma enorme carga negativa que ainda hoje estamos a pagar. Um
deles foi certamente a ocupação do território e a evolução das cidades.
A súbita libertação
de forças sociais que se encontravam abafadas aliada a um esvaziamento
temporário da capacidade de intervenção da autoridade do Estado nos seus
diversos níveis, desde o nacional ao local, levou a uma explosão da actividade
urbanística que demorou muito tempo a ser controlada por legislação adequada.
Não estou tanto a falar da construção clandestina que se desenvolveu
principalmente junto das maiores cidades e também nas praias de maior procura,
como foi o caso do Algarve e que obrigou a programas governamentais específicos
para resolução desse problema.
Refiro-me mais ao crescimento das cidades em
mancha, muito por culpa de uma figura legislativa que vinha dos anos sessenta,
utilizada e aprovada sistematicamente pelos municípios de forma abastardada
relativamente aos seus princípios, que dá ainda pelo nome de loteamento e que
permite a transformação do uso do solo, gerando mais-valias privadas de forma
absurda.
Tudo isto é hoje uma
evidência reconhecida por todos, não carecendo de prova, para além do que se
encontra à vista de todos.
Só bem dentro da
década de oitenta começaram a surgir respostas de planeamento urbanístico,
definindo princípios gerais de ocupação do solo. Foi a época dos Planos
Directores Municipais, que todos os municípios foram obrigados a elaborar para
os seus territórios, muitas vezes sob a ameaça de que, se não o fizessem,
ficariam impedidos de aceder a determinadas verbas. Muitos PDM´s tipo copy/past
se fizeram nessa altura mudando só o nome do município, com a agravante de
serem feitos sem qualquer relação com os dos municípios vizinhos, anulando toda
a possibilidade de economia de escala, e levando à existência de equipamentos
redundantes a poucos quilómetros uns dos outros. Mais tarde, muito mais tarde,
também esse problema foi objecto de solução através de planos regionais e mesmo
nacional, numa altura em que praticamente todo o mal (custos desnecessários) já
estava feito.
Mas o pior ainda
está por aí a acontecer. Os PDM’s, que entretanto já foram todos eles objecto
de revisão, dadas as novas condicionantes técnicas, ambientais e mesmo de
princípios políticos orientadores, continuam em muitos municípios a servir para
aquilo para que não foram feitos. São destinados ao planeamento do território a
nível municipal e não à gestão urbanística que todos os dias é praticada pelos
municípios e que tem a ver com as operações urbanísticas de “licenciamento de
obras particulares” que exige uma escala completamente diferente. Quando surgiu
a necessidade que acima referi de controlar de forma sistemática e com algum
critério mínimo as operações urbanísticas edifício a edifício no interior das
cidades, os urbanistas lançaram mão de um instrumento que poderia ser usado de
imediato, o “índice de construção”. Só por si ou associado a outros conceitos
como a profundidade do terreno, a sua frente de rua ou até o limite de
impermeabilização do solo, servia para limitar a ocupação do território,
evitando excessos volumétricos desadequados. Trata-se, como é bom de ver, de um
instrumento claramente provisório, a utilizar apenas enquanto não avançassem
outros instrumentos urbanísticos mais adequados, com o Plano de Urbanização da
cidade à cabeça e outros planos mais restritos e ainda mais agarrados à
realidade concreta do território, como os Planos de Pormenor.
E é por esta razão,
caro leitor, que na actualidade ainda é possível encontrar edifícios
completamente desgarrados volumetricamente e fora da “moda local” em construção
na nossa cidade. De forma inteiramente legal e sem que a Autarquia o possa
impedir porque não se apetrechou, ao longo destas dezenas de anos, com os
necessários instrumentos para uma gestão urbanística moderna e eficaz.
sexta-feira, 3 de junho de 2016
quinta-feira, 2 de junho de 2016
Inacreditável
PM sobre PR:
“Vejo com satisfação que a senhora Merkel confortou o Presidente da República naquilo que tem sido a mensagem que o Governo tem transmitido ao senhor presidente da República…”
Isto vai fino, vai.
PS: Entretanto o PR respondeu dizendo que o programa deste governo não é muito diferente do governo anterior. Isto é, cá se fazem, cá se pagam. Isto continua fino, sim sr.
“Vejo com satisfação que a senhora Merkel confortou o Presidente da República naquilo que tem sido a mensagem que o Governo tem transmitido ao senhor presidente da República…”
Isto vai fino, vai.
PS: Entretanto o PR respondeu dizendo que o programa deste governo não é muito diferente do governo anterior. Isto é, cá se fazem, cá se pagam. Isto continua fino, sim sr.
segunda-feira, 30 de maio de 2016
“Afundem o Bismarck”
Na semana passada
deu-se o momento final de uma das mais impressivas batalhas da II Guerra
Mundial. Em Portsmouth, cidade inglesa onde se localiza o museu nacional da
Royal Navy, ouviu-se o sino do navio HMS Hood a ser tocado pela primeira vez
desde há 75 anos.
O couraçado Hood era
o maior navio da Marinha Britânica e, em Maio de 1941, participava numa
gigantesca operação naval que visava impedir que o couraçado alemão Bismarck
passasse do Báltico para o Atlântico onde poderia impedir todos os abastecimentos
à Grã Bretanha. O Bismarck era um navio de guerra impressionante construído na década
de 30 nos estaleiros Blohm & Voss em Hamburgo, com uma artilharia
poderosíssima, grande velocidade e uma blindagem resistente a quase todo o fogo
inimigo, sendo o orgulho da marinha alemã e um perigo para a armada inglesa.
Nessa altura, a
Europa estava praticamente toda ocupada pelas tropas nazis, Dunquerque tinha
acontecido há um ano, os EUA permaneciam no seu isolamento, a União Soviética
ainda não tinha sido invadida e apenas a Grã-Bretanha resistia corajosamente à
vontade de Hitler estabelecer o seu Reich de mil anos. Depois do Bismarck, juntamente
com outro couraçado alemão, o Prinz Eugen, terem conseguido passar pelo
estreito da Dinamarca sem serem detectados, foram vistos já a navegar em pleno
Atlântico, tendo vários navios ingleses seguido no seu encalço para lhe darem
batalha. No dia 24 de Maio de 1941 o Hood afrontou o Bismarck de proa para lhe
oferecer alvo mais reduzido mas a primeira salva do Bismarck atingiu-o em cheio,
afundando-o de imediato e levando para o fundo os mais de 1.400 homens da sua
guarnição. Perante o desastre, os outros navios ingleses, com menor poder de
fogo, afastaram-se e o Bismarck continuou a sua rota no Atlântico, para cumprir
a sua missão de afundar todos os navios que se dirigissem para as ilhas
britânicas, seguindo a estratégia de Hitler de as isolar completamente,
enquanto o Prinz Eugen se dirigiu para a França ocupada.
As ordens do
governo britânico chefiado por Winston Churchill foram claras: “Afundem o
Bismarck”. Seguiu-se uma gigantesca operação de caça pelo mar do Norte, com uma
frota de navios britânicos a procurar o Bismarck que apenas terminou no dia 27
de Maio quando foi cercado e alvo da artilharia naval e torpedos, já que um
ataque aéreo na noite anterior lhe avariara o leme e o colocara em situação de
inferioridade. O Bismarck, depois de ter sido atingido com gravidade, acabou
por ser afundado pela sua própria guarnição.
O afundamento do
Hood e posterior caça ao Bismarck ficou como um marco na História da Royal Navy
e da capacidade de resistência e sacrifício britânicos perante um inimigo
poderoso que destruía de forma selvagem tudo aquilo que pudesse impedir os seus
objectivos de poder total e absoluto.
No ano passado, foi
finalmente resgatado o sino do HMS Hood dos seus restos que jazem no fundo do
Atlântico norte.
Foi assim possível
realizar a cerimónia no dia 24 de Maio da semana passada, em memória dos
marinheiros do Hood afundado naquele mesmo dia, 75 anos antes. Os familiares
dos marinheiros desaparecidos naquele dia trágico em luta crucial e decisiva pela
Liberdade da Humanidade puderam assim recordá-los e prestar-lhes homenagem, com
o toque do sino que eles mesmos ouviam a bordo nas suas fainas.
Estes
acontecimentos mostram como a guerra é algo terrível a evitar com todas as
forças pelas consequências trágicas para tantos que nela combatem e para as
suas famílias. Mas são também a prova de que muitas vezes não é possível fugir
dela e de que o heroísmo também faz parte da condição humana e, muitas vezes, é
dele que depende o futuro digno de muitos. E os que assim caem devem ser
lembrados e homenageados, como agora aconteceu em Portsmouth de forma simbólica
tão cara aos marinheiros.
segunda-feira, 23 de maio de 2016
Leicester City Football Club, campeão.
As cidades são seres vivos que evoluem ao longo do tempo. Em certos
períodos da sua história surgem pujantes de vida, afirmando-se em áreas em que
não encontram competidor. Aos quais se podem seguir períodos de apagamento ou
mesmo definhamento mortal que as apaga de qualquer papel relevante. Eventualmente
podem renascer e voltar a afirmar-se de uma forma que nada tem a ver com o seu
antigo sucesso. Tudo isso porque são as pessoas e as suas relações, capacidade
de inovação e espírito empreendedor tantas vezes visionário, que definem
verdadeiramente as Cidades e o seu papel no tecido envolvente.
A cidade inglesa de Leicester apareceu nas notícias há três anos pela
descoberta dos restos mortais do Rei Ricardo III, que estavam desaparecidos há mais
de quinhentos anos depois de ter morrido na batalha de Bosworth Field. Após a
sua identificação sem quaisquer dúvidas, os restos mortais do rei foram levados
para a Catedral de Leicester em Março de 2015, onde finalmente descansam.
O
túmulo chama visitantes de toda a Grã-Bretanha pela notoriedade da personagem
histórica muito ampliada por Shakespeare na sua obra que leva o nome do rei e
que ainda hoje é motivo de acesas controvérsias.
Leicester é uma cidade de dimensão média com pouco mais de trezentos mil
habitantes. Nos anos 30 do século XX era tida como uma das cidades mais ricas
da Europa, devido às suas fábricas de vestuário e calçado, dizendo a
publicidade da altura que “Leicester vestia o mundo”. Entretanto, com a
deslocalização dessas indústrias para outras paragens, a força económica da
cidade praticamente desapareceu. Mas hoje esse passado é história e a
recuperação de Leicester é um facto. A revista Economist abordou o que entretanto
se passou e informa-nos que, na actualidade, para além de Londres, Leicester é
a cidade inglesa com a taxa mais rápida de crescimento, tendo o seu produto
crescido 22% entre 2009 e 2014, criando emprego e atraindo mais moradores,
fazendo crescer a população em 17% em dez anos. Há um afinar de objectivos e
estratégias entre as autoridades locais e as universidades da cidade.
As
universidades apoiam directamente a formação de “start-ups” quer tecnica, quer mesmo
financeiramente com injecção de capital inicial. As autoridades locais agem
rapidamente sempre que surge uma oportunidade de investimento na Cidade; criaram
um quarteirão cultural para desenvolver o centro urbano e entregam terrenos
para facilitar o desenvolvimento de pequenas e médias empresas. A novidade do
novo túmulo de Ricardo III é explorada ao máximo pela autarquia para atrair
turistas, através de excelentes operações de marketing.
Foi neste caldo que o relativamente pequeno clube de futebol de Leicester
conseguiu agigantar-se e vencer a Primeira Liga Inglesa onde pontuam clubes
milionários como o Manchester United, o Chelsea ou o Liverpool, só para citar
alguns. O sucesso das “raposas”, como é conhecido o clube de futebol de
Leicester, não apareceu do nada, antes foi fruto de trabalho profícuo do clube
com o treinador Claudio Ranieri que trouxe os seus 30 anos de experiência em
futebol e gestão profissional para um clube que não tinha historicamente os
meios e a organização necessários para se afirmar.
Claro que o facto de o clube
ter sido comprado há seis anos por um multimilionário tailandês ajuda, mas a
atração desse investidor não surgiu por acaso e a decisão de investir a longo
prazo em vez de optar por compras caras de jogadores famosos veio a mostrar-se
decisiva e vitoriosa.
Mas, em termos desportivos, Leicester não se vem afirmando apenas no
futebol. O seu clube de rugby é também dos melhores de Inglaterra.
Leicester surge hoje como um exemplo para muitas outras cidades e não
apenas inglesas. Depois de um período de afundamento económico, detectou quais as
suas capacidades e potenciais e reagiu conseguindo-as utilizar da melhor
maneira. Ao fim de trinta anos de esforço, Leicester é um exemplo de
recuperação e fulgor económico que se reflecte em diversas áreas como o
desporto e a cultura.
segunda-feira, 16 de maio de 2016
LIBERDADE DE IMPRENSA
A propósito da publicação do relatório mundial de 2016 sobre a liberdade de
imprensa no mundo, a campanha da organização RSF (Repórteres Sem Fronteiras)
veio chamar a atenção para a realidade de uma forma apelativa e irónica,
classificando 2015 como um “ano excepcional para a censura”.
De acordo com a RSF, “os líderes mundiais estão “paranoicos” em relação aos
meios de comunicação e estão a limitar cada vez mais a liberdade de imprensa”.
Esta é uma conclusão que, à primeira vista, até poderá ser uma surpresa nestes
tempos em que nos habituámos a ter disponível nos nossos computadores e
telemóveis uma quantidade de informação antes impensável. E, no entanto…
A campanha da RSF colocou na mira doze Chefes de Estado que, de copo na mão
parecem festejar as suas vitórias contra a liberdade de imprensa, participando
na chamada “Festa Errada”. Desde o Burundi à Eritreia, passando pela China,
Rússia, Turquia, Arábia Saudita, Coreia do Norte, Venezuela, Azerbaijão ou
Tailândia, entre outros, vários países possuem lideranças políticas que
despedem jornalistas, mandam-nos para a cadeia e para campos militares ou
sujeitam-nos a açoites públicos, quando não promovem o seu assassínio. As
conclusões do relatório são preocupantes e devem-nos fazer pensar sobre o que
se passa no mundo nos dias de hoje já que, sem liberdade de imprensa pura e
simplesmente não existe Liberdade.
Nos últimos lugares da classificação estão o Turquemenistão, a Coreia do
Norte e a Eritreia, mas a China está logo a seguir a estes, o que nos deverá
colocar em alerta, atendendo à sua expansão económica no Ocidente onde compra
empresas estratégicas, como é o caso de Portugal. Não será uma novidade que as
piores zonas do mundo no que se refere à Liberdade de Imprensa sejam o Norte de
África e o Médio Oriente onde os jornalistas têm a sua actividade dificultada
ao máximo. Também não nos admiraremos ao constatar que, no cimo da tabela,
estão a Finlândia, a Holanda e a Noruega, países há muito praticantes da
liberdade de imprensa e onde o jornalismo de investigação é particularmente
respeitado e defendido.
No entanto, algo se passa mesmo na Europa onde hoje damos como adquiridos
determinados direitos como o da liberdade de informação. No ano de 2015 o
Governo polaco passou a ter completo controlo sobre a nomeação e afastamento
dos directores da rádio e da televisão pública. Mas também em França há
problemas, neste caso pela excessiva concentração da propriedade dos media o
que ameaça directamente o trabalho independente dos jornalistas.
Portugal aparece neste relatório na 23ª posição o que, não sendo
particularmente brilhante, também não nos envergonhará por aí além.
Nós portugueses deveríamos mesmo ser muito sensíveis a este tema, porque o
nosso tempo de fruição de liberdade de imprensa é ainda muito curto. Passámos
demasiados anos (centenas, mesmo) com uma censura religiosa férrea e durante
todo o Estado Novo houve igualmente Censura, desta vez por parte do estado.
E
só não passámos a ter outra censura pouco depois do 25 de Abril porque muitos
se levantaram contra essa tentativa por parte de forças políticas a coberto de
militares radicais do MFA.
A vontade de “matar o mensageiro das más notícias” como se costuma dizer
lembrando hábitos muito antigos, persiste ainda hoje de uma forma muito
evidente, mesmo entre nós. Há por aí políticos que parece não terem mesmo outro
“leitmotiv” do que acusar a comunicação social de todos os males e outros que
ficam doentes quando verdades incómodas são transmitidas. Melhor seria que
respeitassem quem transmite as notícias e olhassem com alguma réstea de
humildade para as suas fraquezas e mesmo fracassos que, esses sim, dão tantas
vezes cabo da vida das pessoas.
segunda-feira, 9 de maio de 2016
NUCLEAR? NÃO, OBRIGADO.
Era este o slogan
dos activistas contra a energia nuclear nos anos 70 e 80. Era um tempo em que a
produção de energia eléctrica através das centrais nucleares avançava um pouco
por todo o mundo, quando a alternativa energética se ficava pelas centrais a
carvão e produtos derivados do petróleo. A produção de energia que hoje se
chama sustentável ficava-se pelas barragens. O aumento do custo dos derivados do
petróleo depois dos choques petrolíferos levava os países a procurar
alternativas e o nuclear aparecia como muito viável dado que, embora o custo
inicial de instalação fosse muito elevado, o custo unitário da energia produzida
era muito reduzido. Claro que persistia a questão dos resíduos produzidos
altamente radioactivos e de como os guardar, para além da própria segurança das
centrais, questões ambientais muito fortes, desde sempre levantadas pelos
ambientalistas de todo o mundo.
Para quem na altura
pensasse com racionalidade e acreditasse nas garantias prestadas por cientistas
do mais alto nível, pareceria que os ambientalistas estavam errados e que as
suas lutas não tinham razão de ser. Nada de mais errado, veio a descobrir-se da
pior maneira.
Em 28 de Março de
1979, houve várias falhas técnicas e erros humanos que provocaram uma perda de
líquido de arrefecimento e libertação de radiação na central de Three Mile
Island, nos EUA. Apesar da comoção que provocou, esse acidente foi sustido e as
consequências foram relativamente diminutas. A opinião pública ficou, no
entanto, alertada para a falta de segurança das centrais nucleares, por mais
esforços que se fizessem nesse sentido.
Em 26 de Abril de
1986, fez agora trinta anos, viria a suceder na central nuclear de Chernobyl,
na cidade de Pripyat, na antiga União Soviética (hoje Ucrânia) aquilo
que todo o mundo temia. Uma série de erros humanos associada a defeitos de
concepção provocou uma violenta explosão num dos reatores que arrancou o tecto
e fez espalhar material radioactivo pela região e por grande parte da URSS e da
Europa Ocidental. As autoridades soviéticas tentaram manter o sucedido em
segredo, o que só piorou as coisas. Enquanto bombeiros da região tentavam
controlar o violento incêndio que se seguiu, a vida continuou a correr
normalmente na cidade vizinha, debaixo de uma autêntica nuvem de material
radioactivo. Com o resto do país mantido na absoluta ignorância do sucedido, só
mais de 36 horas depois do acidente Pripyat foi evacuada tornando-se na cidade
fantasma que ainda hoje é. E só depois de sensores localizados na Suécia terem
detectado a subida anormal de índices radiactivos na atmosfera é que o resto do
mundo tomou conhecimento de que algo de muito grave tinha acontecido. No dia 1
de Maio, os responsáveis comunistas de Kiev tratavam de evacuar as suas
famílias, mas as celebrações do dia do trabalhador continuavam na rua com
milhares de pessoas, incluindo crianças em calções, desconhecendo que estavam a
ser expostas a radiações muitas vezes superiores ao normal.
Mais tarde
Gorbachev, o último líder soviético, viria a reconhecer a importância do
desastre de Chernobyl, bem como todo o processo de ocultação e de falta de
respeito pelas populações que se lhe seguiram como uma das principais causas da
extinção do mundo soviético.
Em 11 de Março de
2011, foi a vez de o Japão sofrer um acidente de gravidade semelhante a
Chernobyl. Um tsunami atingiu a costa nordeste do Japão, causando a inundação
de um enorme território e 19.000 mortos. No caminho foi atingida a central
nuclear de Fukushima que não resistiu ao choque das águas, tendo acontecido uma
fuga de águas radioactivas para a área circundante e para o mar. Mais de
160.000 pessoas foram evacuadas e cinco anos depois há ainda dezenas de
milhares de pessoas a viver em abrigos.
Em consequência
destes acidentes, a opção pelo nuclear tem vindo a ser abandonada por vários
países, como por exemplo a Alemanha que decidiu fechar as suas 8 centrais até
2022. A França pretende diminuir a percentagem do nuclear na energia que produz
dos actuais 75% para 50% em dez anos.
Trinta anos depois
de Chernobyl é caso para dizer que os ecologistas tinham carradas de razão
quando rejeitavam a energia nuclear.
FUTEBOL E POLÍTICA
O maior problema da "futebolização" da política é aquele que não se vê, para além dos impropérios e atitudes sectárias na defesa do seu clube.
No futebol, acaba o campeonato, uns festejam, outros choram e insultam árbitros, a corrupção e o sistema. Mas daqui a uns meses começa tudo de novo, como se não tivesse acontecido nada. É um reboot completo do sistema.
Mas na política não é assim. As consequências do que se faz na governação, bem ou mal, perduram durante muito tempo, particularmente estas ultimas, já as coisas boas estragam-se num momento e as más demoram muito tempo a reparar.
E cada vez se tem menos consciência disto.
No futebol, acaba o campeonato, uns festejam, outros choram e insultam árbitros, a corrupção e o sistema. Mas daqui a uns meses começa tudo de novo, como se não tivesse acontecido nada. É um reboot completo do sistema.
Mas na política não é assim. As consequências do que se faz na governação, bem ou mal, perduram durante muito tempo, particularmente estas ultimas, já as coisas boas estragam-se num momento e as más demoram muito tempo a reparar.
E cada vez se tem menos consciência disto.
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