A história da
evolução do Homem encontra-se intrinsecamente ligada à guerra (quer se goste,
ou não). Desde os primórdios da Humanidade que, quando algum grupo humano
conseguia alguma vantagem tecnológica, logo se sobrepunha militarmente a outros
grupos. Tudo começou com as lanças que chegavam mais longe do que as espadas,
permitindo atingir os inimigos evitando o contacto directo. Seguiram-se as
flechas que permitiram aos combatentes levar ainda mais longe as suas capacidades
de eliminar os inimigos. Surgiram depois as máquinas de guerra, com lançamento
de objectos pesados a grandes distâncias, destruindo inimigos, fortalezas e
mesmo navios.
A distância a que
os combatentes conseguiam atingir os inimigos sofreu uma mudança radical com a
utilização da pólvora. Embora tivesse sido descoberta na China no século I, a
sua utilização militar só se desenvolveu naquele país a partir do século X,
após o que chegou a toda a Ásia e à Europa, tendo-se difundido a sua utilização
a partir do século XIII. A partir daí surgiram as primeiras armas pessoais
parecidas com as actuais espingardas e desenvolveu-se enormemente a artilharia,
cuja capacidade foi evoluindo até aos gigantescos canhões utilizados pelos
alemães na II Grande Guerra e aos tanques de guerra.
A II Grande Guerra
foi ocasião para um desenvolvimento extraordinário do ponto de vista
tecnológico, induzido pela necessidade de ultrapassar tecnicamente o inimigo.
Se os vectores que já vinham da I Grande Guerra como os navios, os aviões e os
próprios submarinos conheceram um salto qualitativo gigantesco, a novidade
essencial foram os mísseis.
As então chamadas “bombas voadoras” inventadas pela
Alemanha, as V1 e, fundamentalmente as V2, levaram a morte e a destruição à
Inglaterra, tendo os londrinos sofrido na carne durante anos os efeitos
mortíferos desses primeiros mísseis.
Durante a “guerra
fria” assistiu-se, essencialmente, à evolução dos mísseis, quer no respeita ao
raio de acção, quer quanto ao armamento que transportam (designadamente
nuclear) e à precisão de atingir o alvo. Passou a ser possível levar a morte e
a destruição literalmente a qualquer ponto do globo terrestre.
Mas, perto do final
do século XX, outra transformação fulcral aconteceu com a arte da guerra, com a
chegada da cibernética. Começou pelas telecomunicações. É conhecido o episódio
de um chefe de uma determinada organização terrorista no médio-oriente ter sido
morto com o próprio telemóvel; o estado que combatia descobriu o seu número de
telemóvel e, à distância, provocou-lhe uma avaria, o que levou o proprietário a
levá-lo a ser reparado; na oficina foi introduzido um explosivo no aparelho e,
quando o utilizou morreu numa explosão, não sem que antes uma chamada tivesse
permitido verificar que o utilizador era de facto o alvo a eliminar.
A internet veio
permitir todo um novo conjunto de alternativas para combate à distância, agora
sem qualquer contacto físico. Há alguns anos, o Irão comprou um novo conjunto
de alguns milhares de centrifugadoras para enriquecimento de urânio. Para
descobrir, pouco depois de começarem a trabalhar, que tinham perdido o controlo
sobre elas, que rodaram violentamente até se destruírem: o vírus Stuxnet tinha
chegado pela internet e provocado a destruição do equipamento.
A guerra mais
sofisticada e mais letal é hoje uma verdadeira guerra de computadores. As
próprias redes sociais são um dos meios utilizados. O ISIS que tão bem tem
feito uso das redes com fins propagandísticos, está a descobrir quão traiçoeira
pode ser a sua utilização. Mais que um militante foi enganado por mensagens
enganadoras que os levaram a locais onde esperavam encontrar-se com chefes para
apenas irem de encontro à morte.
As forças armadas
das potências mais poderosas possuem já ciber-departamentos dentro das suas
organizações que, ao contrário do que se possa pensar ou mesmo do que aceitem
revelar, têm alvos específicos e bem definidos, não servindo apenas de apoio de
“intelligence” para os outros departamentos militares. A ligação do mundo
inteiro pela internet veio oferecer uma nova via não detectável para enviar projecteis
cibernéticos a qualquer parte do mundo, por mais escondido que pense estar.
Se
no local do alvo definido ainda será necessário utilizar uma arma clássica para
atingir o fim pretendido, seja bomba ou uma bala, já não deverá faltar muito
para que até isso seja alterado, se é que tal ainda não aconteceu.