segunda-feira, 5 de março de 2018

PSD: NOVA LIDERANÇA




Depois de eleições directas para eleição do novo Presidente do Partido ganhas pelo Dr. Rui Rio e da realização do Congresso o PSD tem, finalmente, os seus órgãos estatutários em pleno funcionamento.
Há quem se entretenha a encontrar divisões e mesmo lutas internas decorrentes dos resultados da eleição interna, das escolhas do novo líder para a sua Direcção do Partido e até com as eleições internas dos Deputados eleitos pelo PSD, para a Direcção do seu Grupo Parlamentar. Tudo isso são manifestações de velhas zangas pessoais mal resolvidas, ódios recalcados e até, por vezes, afloramentos de uma deficiente formação democrática que só ficam mal a quem a apresenta, e que não interessam nada para o futuro do PSD e, fundamentalmente, para o futuro de Portugal, esperando-se que o seu destino seja o rápido esquecimento.
Desde o desaparecimento de Francisco Sá Carneiro em Dezembro de 1980, o PSD foi liderado por Francisco Pinto Balsemão, Nuno Rodrigues dos Santos, Carlos Mota Pinto, Rui Machete, Aníbal Cavaco Silva, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, Luís Marques Mendes, Luís Filipe Menezes, Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos Coelho e agora Rui Rio. Ao olhar para a lista não podemos deixar de fazer algumas observações. Desde logo, são muitos nomes, tendo a duração média da liderança sido ligeiramente inferior a três anos, o que não pode deixar de ser significativo. De todos eles, apenas Cavaco Silva, Durão Barroso e Passos Coelho foram primeiros-ministros na sequência de vitórias eleitorais e destes, apenas Cavaco Silva e Passos Coelho cumpriram mandatos de forma integral, tendo Cavaco Silva sido também Presidente da República. Dois destes líderes exerceram o cargo de Primeiro-Ministro por herança, digamos assim, que foram Pinto Balsemão e Santana Lopes a que se seguiram pesadas derrotas eleitorais do PSD. Depois, da maioria dos líderes guarda-se apenas uma recordação que se vai esbatendo no tempo, não tendo deixado marcas sensíveis no país, por mais dignos de consideração pessoal e política que tenham sido e foram-no, certamente.
A actual liderança do PSD segue-se à de Passos Coelho que decidiu, por sua própria vontade, afastar-se. Encontra uma situação invulgar na história do PSD e até da nossa Democracia que exige respostas diferentes das experimentadas no passado. De facto, a coligação PSD/CDS foi vencedora nas eleições de 2015, mas um acordo até então inédito entre as esquerdas permitiu ao Partido Socialista formar Governo de forma estável, embora seja minoritário na Assembleia da República.
Rui Rio tem uma larga experiência política, não só como Presidente da Câmara do Porto, mas também como Deputado e ainda como dirigente partidário, já que foi Secretário-geral do PSD ao tempo em que Marcelo Rebelo de Sousa foi Presidente do Partido. Tem as suas próprias características pessoais, que alguns militantes apreciarão mais e outros menos, sendo isso o que menos importa. É o Presidente eleito do PSD e ganhou o direito a definir a estratégia partidária para levar o partido à vitória, único objectivo eleitoral que interessa ao PSD e única maneira de ter oportunidade para concretizar as suas ideias para a governação do país.
Muitas das suas actuais intervenções, designadamente no que respeita a encontrar consensos com o Partido Socialista em áreas importantes para um maior e, fundamentalmente mais sustentado e justo desenvolvimento do país têm grandes probabilidades de serem votadas ao fracasso, atendendo aos actuais acordos do PS à esquerda que lhe oferecem a oportunidade de ocupar todo o aparelho do Estado sózinho, sem ter ganho as eleições. Mas não será por isso que deverão ser deixadas na gaveta. A responsabilidade da sua rejeição será de quem prefere outros caminhos e não de quem manifesta disponibilidade para encontros que não signifiquem caminhos juntos ao estilo “bloco central”, mas capacidade de olhar estrategicamente para o futuro comum e não a simples gestão do dia-a-dia, aproveitando circunstâncias externas momentaneamente favoráveis.
O PSD corre, no entanto, riscos evidentes ao tentar alcançar acordos com o PS para áreas políticas em que considera isso necessário, mas que poderão não ser sentidos como prioritários por muitos eleitores. São os de aparecer como colaborante com um Governo de quem é oposição e que não precisa disso para nada, ou então de dar a entender que é candidato a substituir de alguma maneira o BE e o PCP em acordos governamentais, ainda que tal não corresponda à realidade. Essa é uma ideia que, por um lado irritará inevitavelmente um vasto eleitorado que, ao fim de quatro anos do actual governo não poderá deixar de associar o PS àqueles dois partidos e, por outro, frustrará a natural ambição eleitoral de vitória dos militantes e simpatizantes do PSD. E, se há alguma coisa que a Democracia exige, é que haja oposição forte e consistente na afirmação das suas alternativas políticas.

Do bloco de notas de José Cutileiro

http://retrovisor.blogs.sapo.pt/o-bloco-notas-de-jose-cutileiro-235112

ECONOMIA SEM EMPRESAS

 A útima revista EXAME traz uma entrevista com o Proj. José Reis, Catedrático da Fac. de Economia da Universidade de Coimbra, a que junta um extracto de um livro da sua autoria, recentemente publicado.
Li com interesse do princípio ao fim. E voltei a ler, porque no fim me pareceu que faltava lá qualquer coisa. E, de facto, constatei que a palavra "EMPRESA" não aparece escrita uma única vez. Significativo.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

COM A VERDADE ME ENGANAS



Em 2017, o PIB cresceu 2,7%, em Portugal, que é o seu valor mais alto desde há mais de quinze anos. Trata-se de um crescimento acima da média europeia, que cresceu 2,6%, em termos homólogos, o que significa que no ano passado Portugal convergiu ligeiramente com a Europa, o que já não acontecia há muitos anos. O Governo, sem surpresa, festejou este facto, que todos os portugueses devem reconhecer como positivo para o país. Claro que, tal como o copo de bom vinho que se serve a um convidado, que está meio cheio ou meio vazio conforme a perspectiva, também um valor de crescimento do PIB surge diferente conforme o ponto de vista de que se observa.
O valor de um índice económico, qualquer que ele seja, tem pouco significado se não for observado sob duas ópticas: primeiro, como é que ele se situa na série de valores, isto é, como se comportou nos anos anteriores e ainda o que se prevê para os seguintes; depois, tem que ser relacionado com os vizinhos, ainda mais quando um país está inserido numa comunidade internacional e não interage no contexto internacional de forma autónoma em vários aspectos incluindo o económico.
Sob o ponto de vista temporal, verifica-se que, depois da queda abrupta que acompanhou a tragédia da entrega da nossa soberania à troika em 2011, o PIB alcançou um mínimo de -4,03% no seu pico mais baixo em 2012 e começou depois a crescer, sendo já positivo em 2014 (0,89%) e de 1,82% em 2015. Em 2016 desceu um pouco para 1,54% e, como vimos, em 2017 retomou a variação crescente, para 2,7%. Isto é, se não tivesse havido aquele tropeção de 2016 coincidente com o início do actual governo, nada impede que se considere que o crescimento em 2017 pudesse e devesse ter sido, no mínimo, de 2,90%, pelo que a festa do valor alcançado parece um pouco despropositada quando se vê a variação ao longo dos últimos anos. No que toca ao futuro próximo, as previsões da Comissão Europeia para o ano corrente e, claro, previsões são previsões, já se sabe, indicam para Portugal um abrandamento no crescimento, para um valor de 2,2% do PIB. O sol da convergência com a Europa terá sido, assim, de pouca duração, regressando-se à nefasta e infelizmente habitual divergência que nos vai atirando para os lugares inferiores dos países da União Europeia.
E como se portaram as economias dos nossos parceiros da União Europeia, para não ir mais longe, até porque as nossas trocas comerciais são aqui maioritariamente feitas? A zona euro, em que estamos integrados, cresceu em média o mesmo que Portugal, isto é, 2,7%, enquanto a média do crescimento europeu englobando os 28 países (euro e não euro) foi de 2,6%.

Dos 28 Estados-membros da EU, 19 cresceram mais do que Portugal, e só 7 cresceram menos do que nós. Acontece, no entanto, que entre os países que cresceram menos do que Portugal estão as maiores economias europeias, casos da Alemanha, França, Itália e Reino Unido que puxaram a média para baixo, colocando-nos relativamente mais acima. Por exemplo, a Alemanha que possui a economia mais forte da EU, cresceu 2,2% em 2017, o seu maior valor desde 2011 mas esse crescimento foi acompanhado de um excedente orçamental de quase 37 mil milhões de euros, agravando os problemas orçamentais dos países que, como Portugal, têm elevadas dívida sendo essa, contudo, conta de outro rosário bem mais complexo do que o abordado nesta crónica: crescimento económico em 2017. Aqui mesmo ao lado, a Espanha que é o nosso principal parceiro comercial cresceu 3,1% em 2017 e não canta de galo, apenas porque desde a saída da última crise em 2014, cresceu 3,4% em 2105 e 3,3% em 2016.
O nosso crescimento económico, muito sustentado nas políticas financeiras do BCE que deverão mudar a curto prazo e ainda no turismo que tem beneficiado de factores internos como o crescimento exponencial do alojamento local, mas também de problemas de outros países que têm visto o seu turismo a diminuir, terá atingido um pico em 2017. Sem alterações profundas na nossa organização económica, no sentido de aumentar a competitividade e a capacidade de atracção de investimento externo, dificilmente regressaremos à convergência e é nesse patamar e não noutro qualquer que temos de nos colocar de forma sustentada. Só assim a dívida se poderia tornar mais inofensiva, por diminuição radical em função do PIB, mas também se tornaria possível tornar sustentável o nosso Estado Social, incluindo o SNS que de forma assustadora todos percebemos estar neste momento num ponto de desequilíbrio orçamental de extrema gravidade, o que se reflecte principalmente nos serviços prestados aos mais desfavorecidos.
Publicado no Diário de Coimbra em 26 de Fevereiro de 2018