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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
Elgar, Pompa e Circunstância nº 1
Para ajudar a receber 2019 com pompa e circunstância, já que 2018 foi para esquecer
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
Técnicos incómodos
No meio da torrente impetuosa de notícias das últimas semanas, uma houve que viu a luz do dia para logo desparecer na penumbra da actualidade e, provavelmente, não deveria. Foi conhecido que a CP decidiu prolongar o prazo de circulação das automotoras, de 1,7 milhões de quilómetros para 2 milhões de quilómetros. Isto é, as composições podem circular mais 300.000 quilómetros sem que os seus rodados sejam sujeitos a uma vistoria que, no caso de se verificar a necessidade da sua substituição, obrigariam a uma paragem que pode durar meses. “Mal acomparado”, como se costuma dizer, seria como autorizar os automobilistas a circular nas estradas com os pneus mais gastos do que a lei permite.
A CP coloca assim a poupança no prato de
uma balança e os riscos de falta de segurança na outra, deixando que o prato da
primeira suba além do da segurança. Claro que a empresa pública de transporte
ferroviário argumenta que não está a colocar em causa a segurança dos
passageiros, apresentando daqueles estudos técnicos que sempre aparecem nestas
situações. O que toda a gente percebe é que os prazos para as manutenções têm
sempre tolerâncias maiores ou menores definidas pelos fabricantes e o que a CPO
está a fazer é cortar valentemente nessas tolerâncias não havendo, para quem
está de fora, maneira de confirmar que não são ultrapassadas.
Contudo uma segunda notícia, que surgiu
praticamente ao mesmo tempo que aquela, veio introduzir uma segunda componente
à mesma questão, levantando sérias dúvidas sobre a correcção técnica da decisão
da CP. Segundo os jornais, o director de material circulante da CP não
concordou com a decisão de prolongamento do ciclo de manutenção dos rodados
daquelas composições. O técnico, por o ser, sabe bem que tal decisão pode
colocar em causa a segurança dos passageiros e como, no caso de acidente,
recairia sobre si parte da responsabilidade.
Esta notícia viria a ser completada com o
conhecimento do despedimento desse técnico pela CP no início deste mês. A
empresa pública veio negar qualquer ligação entre as duas situações,
justificando-se com “a não verificação de condições objetivas para o
exercício da função” por parte do ex-director, como se um técnico, numa empresa
com o grau de tecnicidade da CP, chegasse a director sem que aquele pressuposto
se verificasse. Claro que as “condições objectivas” podem muito ser aquelas que
todos estamos a imaginar.
As limitações de funcionamento da CP
estão à vista de todos há muitos meses, sendo consequência de uma “austeridade”
governamental que cortou violentamente nos investimentos públicos. A paragem
sem substituição, durante meses, destas automotoras utilizadas nas ligações
entre Lisboa e Tomar, na ligação entre Coimbra e a Figueira da Foz e ainda na
ligação a Évora iria aumentar o grau de insatisfação dos utentes, situação
muito inconveniente, principalmente em ano de eleições.
Mas o que mais motivou esta crónica foi o
despedimento do técnico que levantou a voz, em nome da segurança dos
passageiros. Felizmente, vivemos em democracia, senão as consequências para o
técnico poderiam ser outras. Seria, por exemplo, o sucedido a técnicos
semelhantes na União Soviética nos anos 30 do século passado, como Alexandre
Soljenitsine descreveu no seu “Arquipélago de Gulag”. Os dirigentes comunistas
precisavam de fazer circular os comboios permanentemente para cumprir as quotas
de produção definidas pelo partido. Assim, quando os engenheiros informaram que
era preciso parar os comboios durante algum tempo para tratar dos rodados, foram
acusados de pertencerem a um partido reaccionário, o partido dos técnicos, e lá
foram também vítimas de mais um daqueles processos kafkianos à boa maneira
soviética, engrossando os milhões de fuzilados ou remetidos para os campos de
trabalho forçado na Sibéria.
Os tempos são outros, as circunstâncias
também, mas há algo que se mantém: a propensão de políticos para adaptar
artificialmente a realidade aos seus interesses imediatos, ainda que à custa da
segurança dos cidadãos. E pior, a capacidade de perseguir quem levante algum
obstáculo à prossecução dos seus fins. Os regimes podem ser democráticos mas as
atitudes das pessoas, ainda que com elevadas responsabilidades, mostram como é
difícil respeitar quem faz o seu trabalho de maneira séria e responsável,
deixando à imaginação como se portariam em sistemas de poder absoluto como o
descrito pelo inesquecível Nobel da Literatura de 1970.
Publicado no Diário de Coimbra em 24 de Dezembro de 2018
sábado, 22 de dezembro de 2018
Cidade Capital Europeia da Cultura
A quem interessar, dado ainda haver quem sugira que várias cidades da zona centro fundam as suas candidaturas numa só:
Ponto 12 do Regulamento da DECISÃO N.o 445/2014/UE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 16 de abril de 2014 que cria uma ação da União de apoio às Capitais Europeias da Cultura para os anos de 2020 a 2033 e que revoga a Decisão n.o 1622/2006/CE:
O título deverá continuar a ser reservado às cidades, independentemente da sua dimensão, mas para chegar a um público mais vasto e amplificar as suas repercussões, também deverá ser possível, tal como anteriormente, que as cidades em causa incluam a sua zona envolvente.
Pelo Artigo 3. - Acesso à ação 1. O concurso para o título está aberto apenas às cidades, podendo estas incluir a sua zona envolvente.
Pelo Artigo 4. - Aplicação 1.A Comissão elabora um formulário de candidatura comum baseado nos critérios estabelecidos no artigo 5.o que deve ser utilizado por todas as cidades candidatas. Caso uma cidade candidata inclua a sua zona envolvente, a candidatura deve ser apresentada em nome dessa cidade.
Ponto 12 do Regulamento da DECISÃO N.o 445/2014/UE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO de 16 de abril de 2014 que cria uma ação da União de apoio às Capitais Europeias da Cultura para os anos de 2020 a 2033 e que revoga a Decisão n.o 1622/2006/CE:
O título deverá continuar a ser reservado às cidades, independentemente da sua dimensão, mas para chegar a um público mais vasto e amplificar as suas repercussões, também deverá ser possível, tal como anteriormente, que as cidades em causa incluam a sua zona envolvente.
Pelo Artigo 3. - Acesso à ação 1. O concurso para o título está aberto apenas às cidades, podendo estas incluir a sua zona envolvente.
Pelo Artigo 4. - Aplicação 1.A Comissão elabora um formulário de candidatura comum baseado nos critérios estabelecidos no artigo 5.o que deve ser utilizado por todas as cidades candidatas. Caso uma cidade candidata inclua a sua zona envolvente, a candidatura deve ser apresentada em nome dessa cidade.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
SOLSTÍCIO DE INVERNO
Hoje é o dia mais curto e a noite mais longa do ano, aqui no hemisfério Norte. O solstício ocorre às 22h23m.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
Ministros mentirosos
Adalberto Fernandes: Gente sem ponta de vergonha na cara. Há poucos meses o ministro da Finanças dizia, ao lado dele, que os problemas do SNS eram apenas de gestão. E Adalberto concordava, abanando a cabeça dizendo que eram todos Centeno. Basicamente aceitava que o colega ministro lhe chamasse incompetente na cara, à frente de toda a gente. Agora, depois de sair de ministro, resolve abrir a boca e desmontar a impressionante mentira que anda a desfazer o SNS com esta geringonça, em que ele foi peça participante durante 3 anos. E, de caminho, reconhece que foi um governante mentiroso, o que é notável de descaramento e falta de respeito pelo povo.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
Europa em transe
Quando o Reino Unido votou, no referendo de Junho de 2016, pela saída da União Europeia, logo se tornou evidente que esse processo de saída não se faria sem dificuldades. Desde logo porque a população do Reino Unido mostrou estar extremamente dividida quanto à saída, mas também porque ficou evidente que os defensores da saída tinham usado de argumentos falaciosos e mesmo falsos, apelando ao saudosismo pelas velhas ideias imperialistas, manifestando reservas à entrada de cidadãos provenientes de outros países e manipulando grosseiramente os números relativos à participação financeira britânica nas contas da União. Acresce que do lado da União Europeia não se poderiam esperar grandes facilidades já que, por um lado a saída do Reino Unido não poderia abrir caminho de facilidades a outros países e, por outro, ao sair da UE o Reino Unido passa a ser um concorrente económico. O acordo alcançado entre o governo britânico e a União Europeia não parece em condições de obter um voto favorável no Parlamento britânico, pelo que Theresa May entrou num remoinho político de cuja saída não parece vir a poder sair incólume. Aliás, nem ela nem provavelmente o país, que corre um grave risco de desagregação, qualquer que seja a solução final.
Emmanuel Macron enfrenta por estes dias
algo que não esperava. As violentas manifestações populares imediatamente
provocadas por um aumento de impostos sobre os combustíveis alastraram de Paris
a diversas cidades francesas. Parecem significar uma revolta generalizada de
classes sociais abafadas numa carga brutal de impostos. O presidente francês,
que ainda há um ano e meio era eleito com uma maioria notável, concitando as
esperanças de muitos franceses, é hoje um político acossado que se vê na
necessidade de responder às manifestações com anulação dos aumentos previstos,
com aumento do salário mínimo e adopção de outras medidas numa tentativa, que
se pode considerar patética, de parar a violenta revolta das ruas. Medidas que atirarão
o défice francês para valores incompatíveis com o Tratado Orçamental, o que
colocará um problema gigantesco de coerência à União Europeia que exige o
cumprimento estrito das regras aos países do Sul.
O incumprimento francês poderia trazer
algum alívio ao governo italiano nas suas relações com a Comissão, não fora o
facto de já ter aceitado alterar a sua proposta de orçamento 2019 para acolher
as exigências europeias, tal como aconteceu com a Grécia e Portugal em 2016.
Alguém terá soprado aos ouvidos de Salvini e di Maio, como os alemães fizeram
com Centeno e antes com Tsipras, que para a Europa não interessa tanto o que se
orçamenta, mas antes o numerozinho obtido no final, ficando a execução para lá
chegar a cargo dos governos, não interessando minimamente à Comissão que os
estados sociais, o investimento, etc. sejam comidos pelo caminho.
Aliás, sobre a continuação da hipocrisia
dos dirigentes europeus que a cada dia que passa cavam mais fundo na sua
credibilidade junto dos cidadãos, basta observar o cinismo do presidente do
Eurogrupo (grupo dos ministros das Finanças europeus) ao mandar os ministros
das finanças dos países em risco de incumprimento do défice tomarem medidas
adicionais. Entretanto, saiu da última reunião a mostrar-se ufano com o grande
sucesso obtido com a “reforma da zona euro” ao fim de mais de 19 horas de trabalhos.
Na realidade o ministro da Finanças português, que é dele que se trata,
presidiu à reunião de que apenas saiu aprovado algo pronto já há muito tempo, o
chamado Fundo Único de Resolução, que entrará em vigor talvez daqui a uns dois
anos, se tudo correr bem, para financiar o resgate dos bancos europeus.
Num mundo globalizado em que potências
como os EUA, a China e a Rússia se movimentam com força à superfície, mas
também nas suas profundezas, a Europa necessita urgentemente de reencontrar o
seu lugar e o seu caminho, muito para além da dimensão ideal da maçã e da
distribuição de subsídios e fundos com que políticos sem visão enchem o olho
aos seus povos. É que a História não acabou, ao contrário de vaticínios de
sociólogos de meia-tijela, e encontra-se de novo em aceleração que pode ficar
descontrolada, como já tantas vezes aconteceu, estando aí todos os sinais para
quem os quiser ver.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 17 de Dezembro de 2018
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Portugal ao espelho
Os portugueses são permanentemente
inundados com discussões acaloradas sobre resultados e treinadores de futebol,
dramas folhetinescos da televisão e até mesmo discussões largamente ensaiadas
sobre orçamentos de Estado e supostos êxitos governativos, sempre num dia-a-dia
intenso que não nos deixa respirar no meio de tanta informação e espectáculo.
Contudo, a visão global do país, serena e
abrangente, essa mantém-se longe dos holofotes, talvez porque dá trabalho
conhecê-la e dá-la a conhecer, não constituindo matéria de entretenimento
suficientemente excitante para atrair audiências. E no entanto…de vez em quando
convém parar um pouco para saber qual a nossa real posição perante o mundo e a
Europa a que pertencemos e como tem sido a nossa evolução. Até para conhecermos
a verdade sobre a forma como temos sido governados ao longo dos anos, para além
das notícias gordas e da propaganda permanente a que somos sujeitos.
A PORDATA publicou a Edição 2018 do
“Retrato de Portugal na Europa”, dando-nos a conhecer a imagem real do Portugal
que somos, sem enganos nem falácias em que, muito apropriadamente, colocou como
sub-título “um convite à discussão informada sobre os factos”. Da grande
quantidade de indicadores há, pelo menos, duas conclusões muito gerais:
Portugal aproximou-se da Europa até aos anos imediatamente anteriores ao fim do
século XX após o que voltou a atrasar-se, estando hoje genericamente apenas à
frente da Grécia e dos antigos países comunistas, tendo já sido ultrapassado
por alguns deles como a Eslovénia e a República Checa. Respiguei alguns dos
indicadores, sem fazer comentários concretos, já que me parece serem óbvias as
implicações para o nosso desenvolvimento colectivo.
No que respeita à População, se somos um
país velho de muitos séculos, somos também um país de velhos que envelhece cada
vez mais. Somos o terceiro país da UE com maior nº de idosos por 100 jovens.
E
estamos a piorar porque o nosso índice sintético de fecundidade é igualmente o
3º pior (1,36) bem abaixo da média europeia de 1,6. A taxa de mortalidade
infantil de 3.2 por mil é um indicador de que nos podemos orgulhar já que a
média europeia é de 3,6 mas devemos preocupar-nos, porque melhorámos até ao
mínimo de 2,5 em 2010 e depois disso estamos a piorar consistentemente.
Em termos de Educação, apesar de todos os
esforços e da propaganda constante de “paixões pela educação” das últimas
dezenas de anos, é surpreendente a nossa situação, pela negativa. Temos 52% de
população residente sem ensino secundário ou superior, contra uma média de
22,5% na União Europeia, sendo o 2º pior a seguir a Malta.
No Emprego, um indicador coloca-nos na
pior situação de toda a Europa: de entre os empregadores são 54,5% os que não
têm ensino secundário ou superior contra 16,6% de média europeia. Acresce que
somos o país europeu com maior percentagem de trabalhadores por conta de outrem
sem o ensino secundário ou superior, com o valor de 43,3% contra uma média de
16,7%.
Em termos de Economia não nos devemos
admirar como nº médio de horas de trabalho por semana, mesmo depois da redução
do trabalho público para 35 horas: a nossa média é de 35,6 contra uma média
europeia de 30,1. A remuneração média portuguesa em PPS é de 25,7 contra uma
média de 36,2. Já o PIB per capital é, em Portugal, de 23 PPS contra 29,9 na
média europeia. E, claro, por último mas não menos relevante, como consequência
de tudo isto a nossa produtividade laboral por hora de trabalho é de 66,4
contra os 100 da Europa e, pior, este valor mantém-se constante desde 2.000 até
agora.
Outros indicadores sobre a nossa
qualidade de vida vão no mesmo sentido, isto é, somos dos países mais pobres da
União, sem conseguirmos subir no ranking, muito antes pelo contrário.
Esta é verdadeira imagem de Portugal
quando se vê ao espelho. É da responsabilidade de todos os responsáveis governantes
que temos tido, uns mais que outros, claro. Não é à toa que se leva um país à
bancarrota e que se governa para benefício de lobbies eleitorais e outros, não
havendo qualquer estratégia de futuro para o país, exercendo-se apenas uma gestão
dos problemas trazidos pelo dia-a-dia.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 10 de Dezembro de 2018
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