Os portugueses são permanentemente
inundados com discussões acaloradas sobre resultados e treinadores de futebol,
dramas folhetinescos da televisão e até mesmo discussões largamente ensaiadas
sobre orçamentos de Estado e supostos êxitos governativos, sempre num dia-a-dia
intenso que não nos deixa respirar no meio de tanta informação e espectáculo.
Contudo, a visão global do país, serena e
abrangente, essa mantém-se longe dos holofotes, talvez porque dá trabalho
conhecê-la e dá-la a conhecer, não constituindo matéria de entretenimento
suficientemente excitante para atrair audiências. E no entanto…de vez em quando
convém parar um pouco para saber qual a nossa real posição perante o mundo e a
Europa a que pertencemos e como tem sido a nossa evolução. Até para conhecermos
a verdade sobre a forma como temos sido governados ao longo dos anos, para além
das notícias gordas e da propaganda permanente a que somos sujeitos.
A PORDATA publicou a Edição 2018 do
“Retrato de Portugal na Europa”, dando-nos a conhecer a imagem real do Portugal
que somos, sem enganos nem falácias em que, muito apropriadamente, colocou como
sub-título “um convite à discussão informada sobre os factos”. Da grande
quantidade de indicadores há, pelo menos, duas conclusões muito gerais:
Portugal aproximou-se da Europa até aos anos imediatamente anteriores ao fim do
século XX após o que voltou a atrasar-se, estando hoje genericamente apenas à
frente da Grécia e dos antigos países comunistas, tendo já sido ultrapassado
por alguns deles como a Eslovénia e a República Checa. Respiguei alguns dos
indicadores, sem fazer comentários concretos, já que me parece serem óbvias as
implicações para o nosso desenvolvimento colectivo.
No que respeita à População, se somos um
país velho de muitos séculos, somos também um país de velhos que envelhece cada
vez mais. Somos o terceiro país da UE com maior nº de idosos por 100 jovens.
E
estamos a piorar porque o nosso índice sintético de fecundidade é igualmente o
3º pior (1,36) bem abaixo da média europeia de 1,6. A taxa de mortalidade
infantil de 3.2 por mil é um indicador de que nos podemos orgulhar já que a
média europeia é de 3,6 mas devemos preocupar-nos, porque melhorámos até ao
mínimo de 2,5 em 2010 e depois disso estamos a piorar consistentemente.
Em termos de Educação, apesar de todos os
esforços e da propaganda constante de “paixões pela educação” das últimas
dezenas de anos, é surpreendente a nossa situação, pela negativa. Temos 52% de
população residente sem ensino secundário ou superior, contra uma média de
22,5% na União Europeia, sendo o 2º pior a seguir a Malta.
No Emprego, um indicador coloca-nos na
pior situação de toda a Europa: de entre os empregadores são 54,5% os que não
têm ensino secundário ou superior contra 16,6% de média europeia. Acresce que
somos o país europeu com maior percentagem de trabalhadores por conta de outrem
sem o ensino secundário ou superior, com o valor de 43,3% contra uma média de
16,7%.
Em termos de Economia não nos devemos
admirar como nº médio de horas de trabalho por semana, mesmo depois da redução
do trabalho público para 35 horas: a nossa média é de 35,6 contra uma média
europeia de 30,1. A remuneração média portuguesa em PPS é de 25,7 contra uma
média de 36,2. Já o PIB per capital é, em Portugal, de 23 PPS contra 29,9 na
média europeia. E, claro, por último mas não menos relevante, como consequência
de tudo isto a nossa produtividade laboral por hora de trabalho é de 66,4
contra os 100 da Europa e, pior, este valor mantém-se constante desde 2.000 até
agora.
Outros indicadores sobre a nossa
qualidade de vida vão no mesmo sentido, isto é, somos dos países mais pobres da
União, sem conseguirmos subir no ranking, muito antes pelo contrário.
Esta é verdadeira imagem de Portugal
quando se vê ao espelho. É da responsabilidade de todos os responsáveis governantes
que temos tido, uns mais que outros, claro. Não é à toa que se leva um país à
bancarrota e que se governa para benefício de lobbies eleitorais e outros, não
havendo qualquer estratégia de futuro para o país, exercendo-se apenas uma gestão
dos problemas trazidos pelo dia-a-dia.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 10 de Dezembro de 2018
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