A propósito dos encargos excessivos que os portugueses suportam com a electricidade, aqui fica um exemplo concreto:
Valor total a pagar : 108,63€
Dos quais,
- valor a pagar à empresa fornecedora pelo consumo feito: 59,75€ (55% do total)
- potência contratada: 23,13€
- contribuição audiovisual: 6,04€ (incluindo IVA!!!!!)
- taxas e impostos: 19,71€
Isto é uma perfeita pouca-vergonha que deve ser alterada já no OGE para 2020, diminuindo os impostos sobre a a electricidade doméstica.
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
terça-feira, 26 de novembro de 2019
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
25 NOVEMBRO 75
No dia 20 de Novembro o Conselho de Revolução afastou Otelo
Saraiva de Carvalho da chefia da Região Militar de Lisboa, nomeando Vasco
Lourenço em sua substituição. Era a continuação dos acontecimentos de Agosto em
que na célebre Assembleia Geral de Tancos de 1 de Setembro Vasco Gonçalves,
destituído de primeiro-ministro no dia anterior, foi igualmente afastado de
Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. O chamado Documento dos Nove apresentado
em 7 de Agosto, cujo principal autor era Melo Antunes, fazia o seu caminho nas
Forças Armadas e no MFA, tentando pôr cobro a um caminho de exaltação e
radicalização esquerdista que todos percebiam poder descambar numa guerra
civil.
Foi nessa altura que os sectores mais revolucionários
perceberam que aquele momento era a última hipótese de tentarem fazer a sua
“revolução socialista” à moda soviética porque a agulha do clima político
estava notoriamente a mudar para o lado contrário.
Na sequência do afastamento de Otelo da Região Militar de
Lisboa, log
o a 21 de Novembro, o COPCON reúne-se no Alto do Duque, recusando
acatar a ordem do Conselho da Revolução. Contudo, o Regimento de Comandos
exigiu ficar na dependência directa do Chefe do Estado Maior das Forças
Armadas, abandonando a estrutura do COPCON e mais de uma centena de oficiais
pára-quedistas abandonaram Tancos, deslocando-se para a Cortegaça com aviões e
helicópteros. O Conselho da Revolução reiterou a decisão de nomear Vasco
Lourenço e, em 24 de Novembro, o presidente da República Costa Gomes anuncia
que mantém essa nomeação.
Na madrugada de 25 de Novembro, faz hoje 44 anos, as forças
esquerdistas avançaram, com a ocupação das bases aéreas de Tancos, Monte Real e
Montijo bem como do Estado Maior da Força Aérea por pára-quedistas, enquanto o
RALIS tomava posições do aeroporto de Lisboa, na auto-estrada do Norte e no
depósito de Beirolas. Em frente da Cortegaça colocou-se um navio da Armada
pronto a disparar. O estúdio da RTP no Lumiar foi ocupado, bem como a 1ª Região
Aérea de Monsanto. A partir daí, o presidente Costa Gomes e o grupo dos nove
sob o comando de Ramalho Eanes tomaram todas as iniciativas militares
necessárias para responder à sublevação. Muito importante, Costa Gomes
contactou Álvaro Cunhal para proceder à desmobilização dos seus militantes nas
ruas, o que foi feito, assim se mantendo a contenda apenas entre militares.
Durante todo o dia as operações militares fizeram oscilar a situação para um e
outro lado mas, na madrugada de 26, a situação foi finalmente estabilizada com
uma acção forte dos Comandos da Amadora sobre a Polícia Militar que foi
ocupada.
Em suma, os sectores esquerdistas avançaram, mas o lado
militar democrático estava bem preparado para lhes tolher o passo. E foi assim
que o «processo revolucionário em curso» terminou, abrindo caminho para a
Democracia representativa em respeito pela vontade do povo português expressa
nas urnas e em mais lado nenhum.
Como acontece muitas vezes com as revoluções, os períodos
que se lhes seguem trazem consigo os perigos da radicalização, que podem anular
os bons objectivos que as nortearam. Tal não sucedeu em Portugal porque, em
primeiro lugar houve eleições livres para o povo escolher o caminho que queria
seguir e depois porque houve portugueses de fibra que obrigaram a que essa
vontade fosse respeitada.
Em tempos de oportunismos que tentam aproveitar-se da data
do 25 de Novembro face ao lamentável esquecimento dos últimos anos, é bom que
se saiba o que aconteceu, como aconteceu e o que significou como garantia da
Democracia pluralista que hoje temos.
Publicado originalmente na edição do Diário de Coimbra de 25 de Novembro de 2019
domingo, 24 de novembro de 2019
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
terça-feira, 19 de novembro de 2019
segunda-feira, 18 de novembro de 2019
De novo, Pedro e o lobo
Há uns tempos conversava com um amigo sobre a possibilidade
de determinada personalidade política se candidatar numas eleições em que
surgiria como candidato principal. Alguém opinou que essa possibilidade estaria
arredada porque grande parte do eleitorado estaria sabedor de atitudes e
práticas da tal personagem, ao longo de anos, que o levaria a ser punido
eleitoralmente.
Mas será que aquele raciocínio é hoje adequado à nossa
realidade? Não se pense que o autor destas linhas tem a mais leve veleidade de
querer impor regras morais ou de se arvorar em pregador de ética. A intenção
deste escrito é apenas a de abordar alguns aspectos da actualidade, tentando
encontrar caminhos que nos possam evitar enganos e manipulações pela forma como
a informação é hoje tantas vezes usada para criar sensações e ambientes que
nada têm a ver com a realidade dos factos.
Os meios de comunicação social sofreram, nas últimas décadas
e sofrem ainda, alterações profundas cujas consequências ainda estamos longe de
perceber na sua totalidade. Na generalidade, os jornais começaram por misturar
opinião com informação, abrindo caminho a uma confusão que leva a tudo menos
uma informação isenta que permita aos leitores formar a sua própria opinião em
face de dados fidedignos. Lamentavelmente muitos jornalistas, felizmente não
todos, entraram no caminho fácil de misturar os seus sentimentos e opções
políticas próprias com a informação que veiculam. Em consequência da falta de
saúde financeira dos jornais, muitas redacções foram sendo preenchidas com
estagiários ou jornalistas com contratos a prazo, cuja independência é muito
frágil.
Os novos meios, baseados na internet, vieram complicar ainda
mais a transmissão livre e rigorosa dos acontecimentos, exigindo dos receptores
da mensagem uma capacidade de análise muito mais desenvolvida do que
anteriormente. Em particular nas redes sociais, tornou-se necessário ir
verificar da veracidade do que vai surgindo, mas também da data das notícias,
sendo frequente que elas voltem à superfície meses ou anos depois de se terem
verificado, o que altera por completo o seu significado. Depois, os algoritmos que
estão por trás do facebook ou do instagram detectam automaticamente aquilo que
cada um procura com mais frequência, passando a propor notícias e fontes afins,
puxando artificialmente para um ou outro lado aquilo que é apresentado a cada
utente e assim manipulando a própria realidade que cada um percepciona.
A rapidez dos novos meios leva a um atropelar contínuo das
notícias, transformando em velho aquilo que no dia anterior fora uma grande
novidade, substituindo-se uma indignação por outra e logo pela seguinte. Como
as nossas mentes não estão habituadas a esta velocidade de substituição de
recepção, tratamento e reacção, estes escândalos sucessivos deixam de ser genuínas
manifestações de repúdio para se transformarem em puro entretenimento de
massas.
Em Portugal, por uma razão ou por outra, actualmente não há
quase um dia em que não surjam notícias sobre acções policiais em gabinetes
ministeriais, autárquicos ou de empresas públicas e privadas. De muitas delas
nunca mais se ouve falar, provavelmente porque se verificou que as queixas ou
as suspeitas eram infundadas. Mas os casos que se desenvolvem até formulação de
acusação são em número suficientemente grande para que todos os dias surjam
novas ou requentadas notícias sobre os processos judiciais correspondentes. Será
quase desnecessário recordar aqui os casos de justiça de banqueiros, de
ministros e mesmo de um ex primeiro-ministro que não saem das notícias há cinco
ou mais anos.
Este sucessivo e constante martelar sobre comportamento reprovável
de representantes das elites sociais, políticas, económicas e financeiras não
pode deixar de ter consequências sobre a forma como essas atitudes são olhadas
pelo cidadão comum. O passo para considerar que “são todos iguais” é pequeno,
tal como o é o de “normalizar” esses comportamentos, assim se respondendo à
questão formulada no início desta crónica.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Novembro de 2019
Subscrever:
Mensagens (Atom)