terça-feira, 28 de janeiro de 2020

RUI PINTO E ISABEL DOS SANTOS

PARA MEMÓRIA FUTURA

«Comunicado de Imprensa
Os advogados abaixo assinados declaram que o seu cliente, o Sr. Rui PINTO, assume a responsabilidade de ter entregue, no final de 2018, à Plataforma de Proteção de Denunciantes na África (PPLAAF), um disco rígido contendo todos os dados relacionados com as recentes revelações sobre a fortuna de Isabel DOS SANTOS, sua família e todos os indivíduos que podem estar envolvidos nas operações fraudulentas cometidas à custa do Estado angolano e, eventualmente, de outros países estrangeiros.
Rui PINTO procurou, assim, ajudar a entender operações complexas conduzidas com a cumplicidade de bancos e juristas que não só empobrecem o povo e o Estado de Angola, mas podem ter prejudicado seriamente os interesses de Portugal.
Rui PINTO esclarece que entregou este disco rígido, no cumprimento do que entende ser um dever de cidadania, e sem qualquer contrapartida, depois de tomar conhecimento das missões realizadas pela organização PPLAAF, permitindo que usassem os dados como entendessem.
Rui PINTO está satisfeito por ver que, graças ao intenso trabalho do consórcio de jornalistas ICIJ, todos os dados foram explorados, verificados, validados e, portanto, encabeçaram as revelações que necessariamente levarão à abertura de investigações criminais em muitos países, incluindo Portugal.
Está feita a prova de que, sem as imensas revelações de Luanda Leaks, tornadas possíveis graças ao nosso cliente, as autoridades reguladoras, policiais e judiciais nada teriam feito. Graças ao nosso cliente, os cidadãos portugueses e o mundo têm acesso à verdade de um extraordinário sistema de predação e corrupção, gravemente prejudicial para Portugal, Angola e outros países.
As decisões já tomadas pelo Banco de Portugal, PWC e outras que estão por vir demonstram a importância excepcional das revelações de Luanda Leaks. A responsabilidade das autoridades é agora agir e abrir as investigações necessárias – já abertas em Angola – e ao mesmo tempo recuperar elevadas somas de dinheiro, mas é preciso dizer que são as mesmas autoridades portuguesas que mantêm Rui Pinto na prisão há quase um ano, sob o pretexto de uma tentativa de extorsão, e que, até este momento, apenas pediram a sua colaboração com o exclusivo intuito de o autoincriminar.
O nosso cliente gostaria de lembrar que esta colaboração com o PPLAAF e o ICIJ está relacionada exclusivamente com a entrega deste disco rígido e que não prejudica a cooperação histórica que tem realizado com o consórcio European Investigative Collaborations (EIC) desde as primeiras revelações do Football Leaks.
William BOURDON & Francisco TEIXEIRA DA MOTA
27.01.2020»

Schubert: "Die Forelle" (Fischer-Dieskau, Moore)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Munda: da Serra da Estrela ao Atlântico


Para pensar o futuro, devemos questionar-nos sempre sobre as razões da actualidade que conhecemos, suportada pela Natureza e pela História.
O Rio Mondego, o Munda dos romanos e da Idade Média, determinou Coimbra onde a conhecemos. Nasce nas faldas dos montes hermínios e, ao contrário do seu irmão gémeo Zêzere, desce pelas encostas viradas a Norte. O seu percurso é montanhoso e agitado até que chega um ponto em que não tem mais obstáculos até ao mar, passando a espraiar-se por campos onde vai deixando o que arrastou no seu caminho. Este é também o último ponto até onde as embarcações marítimas conseguiam chegar desde os tempos imemoriais em que os povos fenícios passavam além das portas de Hércules, deixando o conhecido Mediterrâneo e se aventuravam pelo oceano sem fim, procurando os minerais preciosos da costa ocidental da península que seria Ibérica. A situação estratégica do monte aí localizado levou a que fosse habitado desde muito cedo. Antes da ocupação romana lhe chamar Aeminium, outros povos celtas já aí se tinham estabelecido. Depois dos romanos, foi a vez dos chamados «bárbaros» visigodos, dos mouros e, por fim, fez parte do reino de Portugal, de que foi a primeira capital, já como Coimbra.
É por tudo isto que o Mondego é, para Coimbra, muito mais do que motivo para poesias e canções românticas e mesmo de preocupações por causa das suas cheias. O rio Mondego É a razão da existência de Coimbra. Se hoje já não é a via de circulação de bens e pessoas como foi até aos séculos XVI/XVII em que ainda havia portos na cidade por onde se escoavam produtos industriais como cerâmica, o rio continua a ser a ligação natural da gente beirã que vive entre o interior serrano e o litoral atlântico.
Desde aqueles tempos é evidente que muito mudou, e ainda bem. Coimbra já não é a única cidade universitária, havendo diversos estabelecimentos de ensino superior espalhados pela região. Significa isto que Coimbra deve encontrar outros atributos para se afirmar, ultrapassando de vez a sua dependência social e económica da Universidade. A área da saúde é, evidentemente, uma delas. Já não apenas a formação de médicos, mas também a formação de enfermeiros e técnicos de saúde e a prestação de serviços de saúde. Isso está a acontecer, havendo hoje em dia diversos hospitais particulares que concorrem entre si, para além do Centro Hospitalar e Universitário que continua a ser um farol de capacidade e qualidade dentro do Serviço Nacional de Saúde devendo ser defendido e acarinhado por todas as instituições políticas e sociais da Cidade para que assim continue e ultrapasse mesmo as deficiências, que também as tem.
Mas o papel de Coimbra tem que ser muito mais do que isso. Para ultrapassar as suas dependências crónicas, deve construir laços sólidos com as comunidades vizinhas sendo que as que historicamente se lhe encontram socialmente próximas são mesmo as da bacia hidrográfica do rio Mondego. Para qualquer cidadão desta região é incompreensível a situação de costas voltadas entre Coimbra e Figueira da Foz, por exemplo. Não é de agora, mas ambas as cidades ganhariam se juntassem forças para defender e promover o que lhes é comum e ainda as suas complementaridades. Sei do que falo, porque trabalhei em cada uma delas, para além das memórias que guardo carinhosamente das férias da meninice na Praia da Claridade ouvindo Maria Clara a cantar a partir do altifalante na torre do relógio e apreciando o movimento do «pátio das galinhas» depois do jantar. 
Entre a Figueira e Coimbra está Montemor-o-Velho onde, também no monte mais elevado, se ergue um dos mais antigos e maiores castelos de Portugal, de onde é possível ver os magníficos e ricos campos do Mondego, assim as autoridades saibam cuidar deles. Esta é, entre outras como o turismo, uma área em que, pelo menos estes três municípios poderiam e deveriam estabelecer laços de colaboração efectiva, a bem do futuro dos seus cidadãos.
Mas Coimbra tem ainda muito a ganhar com um relacionamento mais íntimo com os municípios ribeirinhos do Mondego, a montante. A ganhar e a dar a ganhar, em colaborações mutuamente vantajosas, desde Penacova até Oliveira do Hospital onde o Instituto Politécnico de Coimbra até já tem um pólo com áreas de investigação pioneira e duplamente frutífera como sobre o cultivo da maçã bravo de esmolfe.
A capacidade de Coimbra partilhar recursos, capacidades e sonhos com os seus vizinhos históricos será, certamente, o factor de metropolização, hoje já visível embora ainda incipiente, que definirá o seu papel nacional, no futuro.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Janeiro de 2020

IRRITANTE: adjectivo ou substantivo?

É mesmo irritante.
Do dicionário Porto-Editora:

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

TROTSKY

Notável a série russa da Netflix sobre a vida de Trotsky. Como fundo, a revolução russa e as questões que se colocam sobre essa realidade trágica. É possível apreciar as diferentes personalidades de Trotsky, Lenine e Estaline, as suas lutas e como Estaline acabou por ganhar e ficar como líder da URSS até morrer.
Penso que qualquer pessoa que ainda hoje seja comunista perceberá que os diferentes caminhos comunistas irão sempre desembocar numa hecatombe de que a principal vítima é sempre o próprio povo em nome de que dizem fazer a revolução. Uma verdadeira tragédia. Mas percebe-se como intelectuais com mentes frágeis e "boas intenções" se deixaram, ao longo anos, enfeitiçar por Trotsky.

Porpora: Nell' attendere mio bene (Ed. Sanderson)

Lindíssimo