segunda-feira, 16 de março de 2020

COIMBRA, CIDADE RÉGIA (parte 2 de 3)



O nosso segundo rei, filho de D. Afonso Henriques e de D. Mafalda de Sabóia foi, como escreveu António de Vasconcelos, “sagrado, coroado e entronizado” a 6 de Dezembro de 1186, três dias após a morte do Rei Conquistador, na Catedral de Santa Maria de Coimbra, que hoje conhecemos como Sé Velha. Templo antiquíssimo, construído de novo no século XII aliando os estilos românico e gótico, guarda o túmulo do moçárabe Sesnando Davides a quem o rei de Leão Fernando Magno, que conquistou Coimbra aos mouros, entregou o governo de Coimbra.
Em Coimbra nasceu e veio a morrer o terceiro rei de Portugal, D. Afonso II, que teve reinado breve e se dedicou essencialmente à administração do Reino, tendo realizado nesta Cidade em 1211 as primeiras Cortes de que se tem memória. A sua irmã D. Sancha, que viria a ser beatificada em 1705 fundou, no burgo de Celas então situado nos arredores de Coimbra, um mosteiro cisterciense que ainda hoje é uma jóia preciosa da cidade. Para além das alterações que foram sendo introduzidas ao longo dos séculos, em particular no século XVI, o Mosteiro de Celas apresenta ainda hoje alguns dos elementos arquitectónicos que remeterão para o edifício original medieval.
Por seu turno D. Urraca, mulher de D. Afonso II deu origem, por volta de 1217, ao início da que é hoje a Igreja de Santo António dos Olivais, ao ceder a capela de Santo Antão aos franciscanos Frei Zacarias e Frei Gualter, companheiros de S. Francisco de Assis que fundara a sua Ordem em 1209. Fernando Martins de Bulhões, monge de Santa Cruz, haveria de transitar para a Ordem Franciscana mudando o nome para António e indo para o eremitério dos Olivais que viria, após a sua canonização em 1232, a adoptar a designação de Santo António dos Olivais.
O quarto rei de Portugal D. Sancho II também nasceu em Coimbra, em 1202, tendo ido morrer a Toledo, por ter sido destituído a mando do Papa Inocêncio IV, sucedendo-lhe o irmão D. Afonso III, igualmente nascido em Coimbra, em 1210. Recorda-se a lenda da figura de Martim de Freitas, Alcaide-Mor do Castelo de Coimbra que, devendo fidelidade a D. Sancho II, se recusou a entregar o castelo a D. Afonso III, suportando a cidade um cerco que, tendo começado em 1246, só terminou em 1248, após a morte de D. Sancho II e de Martim de Freitas se deslocar pessoalmente a Toledo para verificar a morte do antigo Rei. Só após isso entregou as chaves da cidade de Coimbra ao novo Rei.
D. Dinis, filho de D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela foi o sexto rei de Portugal e também ele nasceu em Coimbra, em 1261. Subiu ao trono bem jovem, em 1279, tendo sido um Rei culto, trovador e poeta. D. Dinis abraçou Coimbra com carinho e muita intensidade. Com um dos braços criou a Universidade em 1 de Março de 1290, logo transferida para Coimbra em 1308, assim definindo o carácter de Coimbra que dura até aos dias de hoje. Ao rei-poeta se deve a “Magna Charta Priveligiorum”, primeiro estatuto da universidade. Ao longo dos séculos seguintes, a Universidade “viajou” entre Coimbra e Lisboa, vindo a estabelecer-se definitivamente em Coimbra em 1537. Com o outro braço trouxe a sua mulher Isabel de Aragão, amada pela sua bondade e carinho para com os necessitados, simbolizado no “milagre das rosas”, vivendo ainda hoje no coração dos conimbricenses, que dedicam uma especial devoção à Rainha Santa Isabel, padroeira da Cidade de Coimbra. 
Após enviuvar em 1325, a Rainha Santa foi morar para um paço junto do mosteiro das Clarissas, hoje conhecido como Mosteiro de Sta. Clara-a-Velha e onde viria a ser sepultada em 1336. Com a subida do nível das águas do Rio Mondego, aquele mosteiro começou a sofrer inundações, tendo as relíquias da Rainha Santa sido colocadas num túmulo-relicário de cristal e prata em 1677 no Mosteiro de Sta. Clara-a-Nova. A Rainha Isabel viria a ser beatificada em 1516, e canonizada, em 1625. A data do seu falecimento, 4 de Julho é o dia da cidade de Coimbra.
(continua na próxima semana)

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 16 de Março de 2020

o GRITO de Edvard Munch


Bom dia. Proteja-se e proteja os outros.

quarta-feira, 11 de março de 2020

Grieg: Peer Gynt, Op.23 - Incidental Music - No.8. In the Hall of the Mo...

11 de Março 1975: opinião de Mário Soares

 Hoje passam 45 anos sobre o 11 de Março, de que hoje ninguém fala, a não ser para divulgar as teses entretanto escritas pela esquerda comunista.
 Mas a realidade do que se passou aparece aqui descrita pelo próprio Mário Soares, numa mensagem  entregue por Willy Brandt ao presidente americano, apelando ao apoio americano ao PS, na sequência do 11 de Março:

«A situação em Portugal é séria e a democracia está em risco; os socialistas portugueses estão a chegar a um ponto de desespero e contam com a assistência dos Estados Unidos; o golpe de 11 de Março foi encenado para servir os interesses dos comunistas; o MFA está sob a influência dos comunistas».

Em Carlucci vs. Kissinger por Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá, de acordo com documentos secretos americanos libertados.

terça-feira, 10 de março de 2020

Onde sou lido

O blogger possui actualmente uma ferramenta de estatísticas com informação diversa e útil sobre a difusão das mensagens/posts.
Alguma dessa informação tem a ver com o público atingido e fornece indicações algo difíceis de compreender na sua totalidade. Por exemplo, na última semana, os países com mais visitas neste blogue foram, por ordem decrescente, os EUA, Portugal, Itália e França, mas surgindo igualmente a Alemanha, o Brasil e a Ucrânia. Vá-se lá saber porquê.
Aqui fica um print screen do dia de hoje.


segunda-feira, 9 de março de 2020

COIMBRA, CIDADE RÉGIA (parte 1 de 3)


Tudo começou pelo princípio, que é por onde as boas histórias devem começar. Quem lhe deu início foi, precisamente, D. Afonso Henriques. O nosso rei primeiro terá nascido em Coimbra ou em Viseu, havendo bons defensores das duas teses. De acordo com o seu biógrafo José Mattoso, os últimos elementos históricos disponíveis levam a que se incline para Viseu, porém sem grandes certezas, pelo que a hipótese coimbrã não se deve descartar. Mas de algo podemos estar certos. Por esta ou aquela razão, a que não será alheia a antiga história das rivalidades entre a velha nobreza de entre Douro e Minho e a galega personificada pelos Trava ao lado de sua Mãe D. Teresa, o que é certo é que D. Afonso Henriques, após S. Mamede, se virou para Sul. Coimbra, na fronteira do Condado Portucalense com o território islâmico, era concelho reconhecido desde 1111 pelo seu Pai o Conde D. Henrique o qual aliás, ali passou boa parte da sua vida, juntamente com D. Teresa. D. Afonso I para lá levou os seus companheiros em 1131, constituindo uma Corte e transformando essa cidade na primeira capital do novo reino, que seria o seu. Assim, Coimbra passou a ser a primeira capital portuguesa e ficou umbilicalmente ligada à fundação do país e, em particular, a toda a dinastia que historicamente ficou conhecida como sendo a primeira, ou de Borgonha, denunciando a íntima ligação à Europa do reino nascente. As pedras da Cidade são, ainda hoje, o testemunho palpável desses tempos e memória das pessoas que estiveram directamente ligadas ao seu início. Diz-se que a Roma de hoje é o resultado de pelo menos sete camadas de épocas históricas, ou Romas diferentes, cada uma delas permitindo uma viagem própria no tempo, no mesmo espaço geográfico. Coimbra abriga também várias eras de grande interesse histórico que correspondem a diferentes povos, culturas e vivências, mesmo muito antes de os Fenícios com muita probabilidade aqui terem chegado nos seus barcos subindo o rio até aos dias de hoje, passando pelos Romanos, Visigodos, Muçulmanos e sabe-se lá quem mais. O Rio Mondego ditou a sua localização; permitindo a navegação desde a sua foz para montante até surgir o primeiro sério obstáculo natural, precisamente o morro onde seria construída a Aeminium romana, ou Ermínio visigoda, ou Conimbria do século X, a Coimbra dos nossos dias.
 Para trás de Coimbra começavam as montanhas difíceis de ultrapassar para todos, até para o Rio que a partir daí adquiria um temperamento diferente, mais selvagem e difícil de ser navegado. Este ensaio propõe-se proporcionar aos seus leitores um roteiro leve que estabeleça a ligação entre as pedras que até nós chegaram e as pessoas concretas com elas relacionadas, entre os séculos XII e XIV, isto é, desde D. Afonso Henriques até à realização das Cortes de Coimbra em 1385. Foi a época da COIMBRA, CIDADE RÉGIA.
A primeira pedra de Santa Cruz foi lançada em 28 de Junho de 1131 por Telo e João Peculiar com o apoio expresso e grande protecção de D. Afonso I, tendo o seu primeiro prior sido Teotónio. Conta-se que o primeiro rei deu os “banhos régios” às portas de Coimbra àqueles monges viajados e de excepcional cultura em troca de uma célebre e magnífica sela de montar que Telo havia comprado anos antes em Montpellier. A importância religiosa e cultural de Santa Cruz ficou desde o início marcada pela amizade entre o seu prior S. Teotónio e S. Bernardo de Claraval. Como prova dessa amizade e consideração, S. Bernardo enviou mesmo o seu báculo a S. Teotónio, o qual está guardado no Museu Machado de Castro. 
O Mosteiro de Santa Cruz seria, durante séculos, escola de uma importância extraordinária, não só para os frades, mas também para a sociedade civil e os nobres que lá estudavam. Numa feliz e rara continuidade histórica, Santa Cruz é repositório dos restos mortais de D. Afonso Henriques. Na mesma capela, em Santa Cruz, descansam os restos mortais de D. Sancho I nascido em Coimbra em Novembro de 1154.
(continua na próxima semana)

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 9 de Março de 2020

domingo, 8 de março de 2020

Relação de Lisboa

Se bem me lembro, o Juiz Carlos Alexandre foi alvo de inquérito por ter manifestado dúvidas relativamente à distribuição de processos em tribunais superiores. Com o que agora se vai sabendo nessa matéria na Relação de Lisboa, ninguém lhe pede desculpa?