Em Coimbra
nasceu e veio a morrer o terceiro rei de Portugal, D. Afonso II, que teve
reinado breve e se dedicou essencialmente à administração do Reino, tendo
realizado nesta Cidade em 1211 as primeiras Cortes de que se tem memória. A sua
irmã D. Sancha, que viria a ser beatificada em 1705 fundou, no burgo de Celas
então situado nos arredores de Coimbra, um mosteiro cisterciense que ainda hoje
é uma jóia preciosa da cidade. Para além das alterações que foram sendo
introduzidas ao longo dos séculos, em particular no século XVI, o Mosteiro de
Celas apresenta ainda hoje alguns dos elementos arquitectónicos que remeterão
para o edifício original medieval.
Por seu turno D.
Urraca, mulher de D. Afonso II deu origem, por volta de 1217, ao início da que
é hoje a Igreja de Santo António dos Olivais, ao ceder a capela de Santo Antão
aos franciscanos Frei Zacarias e Frei Gualter, companheiros de S. Francisco de
Assis que fundara a sua Ordem em 1209. Fernando Martins de Bulhões, monge de
Santa Cruz, haveria de transitar para a Ordem Franciscana mudando o nome para
António e indo para o eremitério dos Olivais que viria, após a sua canonização
em 1232, a adoptar a designação de Santo António dos Olivais.
O quarto rei de Portugal D. Sancho
II também nasceu em Coimbra, em 1202, tendo ido morrer a Toledo, por ter sido
destituído a mando do Papa Inocêncio IV, sucedendo-lhe o irmão D. Afonso III,
igualmente nascido em Coimbra, em 1210. Recorda-se a lenda da figura de Martim
de Freitas, Alcaide-Mor do Castelo de Coimbra que, devendo fidelidade a D.
Sancho II, se recusou a entregar o castelo a D. Afonso III, suportando a cidade
um cerco que, tendo começado em 1246, só terminou em 1248, após a morte de D.
Sancho II e de Martim de Freitas se deslocar pessoalmente a Toledo para
verificar a morte do antigo Rei. Só após isso entregou as chaves da cidade de
Coimbra ao novo Rei.
D. Dinis, filho de D. Afonso III e
de D. Beatriz de Castela foi o sexto rei de Portugal e também ele nasceu em
Coimbra, em 1261. Subiu ao trono bem jovem, em 1279, tendo sido um Rei culto,
trovador e poeta. D. Dinis abraçou Coimbra com carinho e muita intensidade. Com
um dos braços criou a Universidade em 1 de Março de 1290, logo transferida para
Coimbra em 1308, assim definindo o carácter de Coimbra que dura até aos dias de
hoje. Ao rei-poeta se deve a “Magna Charta Priveligiorum”, primeiro estatuto da
universidade. Ao longo dos séculos seguintes, a Universidade “viajou” entre
Coimbra e Lisboa, vindo a estabelecer-se definitivamente em Coimbra em 1537.
Com o outro braço trouxe a sua mulher Isabel de Aragão, amada pela sua bondade
e carinho para com os necessitados, simbolizado no “milagre das rosas”, vivendo
ainda hoje no coração dos conimbricenses, que dedicam uma especial devoção à
Rainha Santa Isabel, padroeira da Cidade de Coimbra.
Após enviuvar em 1325, a
Rainha Santa foi morar para um paço junto do mosteiro das Clarissas, hoje
conhecido como Mosteiro de Sta. Clara-a-Velha e onde viria a ser sepultada em
1336. Com a subida do nível das águas do Rio Mondego, aquele mosteiro começou a
sofrer inundações, tendo as relíquias da Rainha Santa sido colocadas num
túmulo-relicário de cristal e prata em 1677 no Mosteiro de Sta. Clara-a-Nova. A
Rainha Isabel viria a ser beatificada em 1516, e canonizada,
em 1625. A data do seu falecimento, 4 de Julho é o dia da cidade de Coimbra.
(continua na próxima
semana)
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 16 de Março de 2020
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