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quinta-feira, 2 de abril de 2020
terça-feira, 31 de março de 2020
segunda-feira, 30 de março de 2020
IMPLOSÃO VIRAL
É muito fácil
identificar a actual situação provocada pela pandemia COVID-19 devida ao vírus SARS-CoV-2
como um estado de guerra e essa tem sido a base de análise para a compreensão e
tentativa de antevisão das possíveis consequências dos dias que estamos a viver
para as famílias, empresas e trabalhadores.
Esta é porém uma
guerra muito diferente. Enquanto nas guerras clássicas dois ou mais contendores
combatem entre si, normalmente com utilização de explosivos nesta, por
enquanto, não se combate o inimigo, apenas nos escondemos e fugimos dele
enquanto aguardamos por armas que possam abater a pandemia, isto é, vacinas. E,
em consequência, assistimos às mais variadas implosões.
Desde logo, a
implosão sanitária. A actual epidemia mundial veio adicionar-se às doenças que
existem normalmente. Quem atender à comunicação social, parece que, de repente,
deixou de haver doenças cardio-vasculares, cancros, diabetes, etc.etc. Nada de
mais errado. O que acontece é que o sistema de saúde tem que dar resposta às
doenças agora “normais” e a esta nova COVID-19. Se, como sabemos, já
anteriormente havia problemas para o SNS responder em tempo às diversas
solicitações, neste momento assistimos a uma verdadeira aflição de que a falta
de vacinação corrente é apenas um exemplo. E quem está na frente de ataque, o
pessoal da saúde desde os médicos aos condutores de ambulância, todos se
encontram a trabalhar muito para lá das condições normalmente exigíveis e todos
devemos ter consciência desse facto. Acresce que o número de profissionais de
saúde infectados é já grande, sendo fácil admitir que cresça imenso, o que
trará dificuldades de resposta crescentes.
Depois, a
implosão social. Como ainda não temos como combater o SARS-CoV-2, a solução imediata
é confinar as pessoas ao máximo, minimizando os contactos pessoais. Desde as
quarentenas em casa, à limitação de circular nas ruas, ao tele-trabalho quando
possível, tudo se tenta para dificultar a propagação inter-pessoal do vírus.
Nos contactos sociais assiste-se mesmo ao surgimento de novas maneiras de
cumprimento, já que os beijos e simples cumprimentos de mão estão completamente
arredados do comportamento aceitável. O receio de que já sejamos portadores do
vírus sem o saber e a possibilidade de sermos infectados em qualquer lugar e a
qualquer momento apesar das precauções instala um medo colectivo que, se durar
o que se prevê, poderá trazer implicações sociais muito graves. Já se ouvem por
aí teorias cabalísticas de a Terra a vingar-se do Homem e outras semelhantes,
só faltando mesmo a tese do «castigo divino». Devemos consciencializar-nos de
que ao longo da história da Humanidade já houve várias pandemias e que nunca
como hoje houve capacidade de resposta científica, sanitária e mesmo
humanitária como estamos a assistir neste momento, rejeitando milenaristas e
profetas do apocalipse, em geral.
A implosão
económica é já um facto e ninguém pode prever as consequências. A paragem
começou pela educação, seguida pelas viagens e rapidamente alastrou a
restaurantes, desportos e inúmeras indústrias. Não há modelos económicos para a
situação de estancar de repente o consumo e a produção económica, sem que se
conheça a duração dessa situação. Quer o Governo, quer a União Europeia estão a
preparar apoios às empresas que se vêem na situação de pagar os vencimentos dos
seus empregados, prestações sociais e impostos, sem haver produção nem vendas,
esperando-se que as soluções se venham a mostrar eficazes. Sob pena de se
entrar numa recessão profunda generalizada.
Como se sabe,
nas guerras a verdade é a primeira vítima. Ao contrário do que se vê na China
onde teve início esta pandemia, os regimes democráticos têm a vantagem de,
mesmo em situações de emergência, garantirem a liberdade de expressão. Além,
claro, da existência de partidos de governo e de oposição, com as obrigações que
se esperam inerentes a cada uma das posições, agora ainda com mais exigência.
O que se
dispensa é políticos a tentar disfarçar a realidade com optimismos desajustados
ou críticas injustas e inoportunas tentando aproveitar a situação para fazer
passar as suas opções ideológicas. Antes pelo contrário, é preciso evitar uma
implosão da verdade que induziria inevitavelmente a implosão democrática, e
garantir a confiança dos cidadãos para o que se está a fazer os quais, a seu
tempo, tirarão as suas conclusões sobre o que se passou. Numa realidade muito
diferente da que conhecemos até há poucas semanas.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 30 de Março de 2020
domingo, 29 de março de 2020
sexta-feira, 27 de março de 2020
quinta-feira, 26 de março de 2020
segunda-feira, 23 de março de 2020
COIMBRA, CIDADE RÉGIA
Texto completo:
Tudo
começou pelo princípio, que é por onde as boas histórias devem começar. Quem
lhe deu início foi, precisamente, D. Afonso Henriques. O nosso rei primeiro
terá nascido em Coimbra ou em Viseu, havendo bons defensores das duas teses. De
acordo com o seu biógrafo José Mattoso, os últimos elementos históricos disponíveis
levam a que se incline para Viseu, porém sem grandes certezas, pelo que a
hipótese coimbrã não se deve descartar. Mas de algo podemos estar certos. Por
esta ou aquela razão, a que não será alheia a antiga história das rivalidades
entre a velha nobreza de entre Douro e Minho e a galega personificada pelos
Trava ao lado de sua Mãe D. Teresa, o que é certo é que D. Afonso Henriques,
após S. Mamede, se virou para Sul. Coimbra, na fronteira do Condado
Portucalense com o território islâmico, era concelho reconhecido desde 1111
pelo seu Pai o Conde D. Henrique o qual aliás, ali passou boa parte da sua vida,
juntamente com D. Teresa. D. Afonso I para lá levou os seus companheiros em
1131, constituindo uma Corte e transformando essa cidade na primeira capital do
novo reino, que seria o seu. Assim, Coimbra passou a ser a primeira capital
portuguesa e ficou umbilicalmente ligada à fundação do país e, em particular, a
toda a dinastia que historicamente ficou conhecida como sendo a primeira, ou de
Borgonha, denunciando a íntima ligação à Europa do reino nascente. As pedras da
Cidade são, ainda hoje, o testemunho palpável desses tempos e memória das
pessoas que estiveram directamente ligadas ao seu início. Diz-se que a Roma de
hoje é o resultado de pelo menos sete camadas de épocas históricas, ou Romas
diferentes, cada uma delas permitindo uma viagem própria no tempo, no mesmo
espaço geográfico. Coimbra abriga também várias eras de grande interesse
histórico que correspondem a diferentes povos, culturas e vivências, mesmo muito
antes de os Fenícios com muita probabilidade aqui terem chegado nos seus barcos
subindo o rio até aos dias de hoje, passando pelos Romanos, Visigodos,
Muçulmanos e sabe-se lá quem mais. O Rio Mondego ditou a sua localização; permitindo
a navegação desde a sua foz para montante até surgir o primeiro sério obstáculo
natural, precisamente o morro onde seria construída a Aeminium romana, ou
Ermínio visigoda, ou Conimbria do século X, a Coimbra dos nossos dias. Para
trás de Coimbra começavam as montanhas difíceis de ultrapassar para todos, até
para o Rio que a partir daí adquiria um temperamento diferente, mais selvagem e
difícil de ser navegado. Este ensaio propõe-se proporcionar aos seus leitores
um roteiro leve que estabeleça a ligação entre as pedras que até nós chegaram e
as pessoas concretas com elas relacionadas, entre os séculos XII e XIV, isto é,
desde D. Afonso Henriques até à realização das Cortes de Coimbra em 1385. Foi a
época da COIMBRA, CIDADE RÉGIA.
A
primeira pedra de Santa Cruz foi lançada em 28 de Junho de 1131 por Telo e João
Peculiar com o apoio expresso e grande protecção de D. Afonso I, tendo o seu
primeiro prior sido Teotónio. Conta-se que o primeiro rei deu os “banhos
régios” às portas de Coimbra àqueles monges viajados e de excepcional cultura
em troca de uma célebre e magnífica sela de montar que Telo havia comprado anos
antes em Montpellier. A importância religiosa e cultural de Santa Cruz ficou
desde o início marcada pela amizade entre o seu prior S. Teotónio e S. Bernardo
de Claraval. Como prova dessa amizade e consideração, S. Bernardo enviou mesmo
o seu báculo a S. Teotónio, o qual está guardado no Museu Machado de Castro. O
Mosteiro de Santa Cruz seria, durante séculos, escola de uma importância
extraordinária, não só para os frades, mas também para a sociedade civil e os
nobres que lá estudavam. Numa feliz e rara continuidade histórica, Santa Cruz é
repositório dos restos mortais de D. Afonso Henriques. Na mesma capela, em
Santa Cruz, descansam os restos mortais de D. Sancho I nascido em Coimbra em
Novembro de 1154.
O
nosso segundo rei, filho de D. Afonso Henriques e de D. Mafalda de Sabóia foi, como
escreveu António de Vasconcelos, “sagrado, coroado e entronizado” a 6 de
Dezembro de 1186, três dias após a morte do Rei Conquistador, na Catedral de
Santa Maria de Coimbra, que hoje conhecemos como Sé Velha. Templo antiquíssimo,
construído de novo no século XII aliando os estilos românico e gótico, guarda o
túmulo do moçárabe Sesnando Davides a quem o rei de Leão Fernando Magno, que conquistou
Coimbra aos mouros, entregou o governo de Coimbra.
Em
Coimbra nasceu e veio a morrer o terceiro rei de Portugal, D. Afonso II, que
teve reinado breve e se dedicou essencialmente à administração do Reino, tendo
realizado nesta Cidade em 1211 as primeiras Cortes de que se tem memória. A sua
irmã D. Sancha, que viria a ser beatificada em 1705 fundou, no burgo de Celas
então situado nos arredores de Coimbra, um mosteiro cisterciense que ainda hoje
é uma jóia preciosa da cidade. Para além das alterações que foram sendo
introduzidas ao longo dos séculos, em particular no século XVI, o Mosteiro de
Celas apresenta ainda hoje alguns dos elementos arquitectónicos que remeterão
para o edifício original medieval.
Por
seu turno D. Urraca, mulher de D. Afonso II deu origem, por volta de 1217, ao
início da que é hoje a Igreja de Santo António dos Olivais, ao ceder a capela
de Santo Antão aos franciscanos Frei Zacarias e Frei Gualter, companheiros de
S. Francisco de Assis que fundara a sua Ordem em 1209. Fernando Martins de
Bulhões, monge de Santa Cruz, haveria de transitar para a Ordem Franciscana
mudando o nome para António e indo para o eremitério dos Olivais que viria,
após a sua canonização em 1232, a adoptar a designação de Santo António dos
Olivais.
O quarto rei de
Portugal D. Sancho II também nasceu em Coimbra, em 1202, tendo ido morrer a
Toledo, por ter sido destituído a mando do Papa Inocêncio IV, sucedendo-lhe o
irmão D. Afonso III, igualmente nascido em Coimbra, em 1210. Recorda-se a lenda
da figura de Martim de Freitas, Alcaide-Mor do Castelo de Coimbra que, devendo
fidelidade a D. Sancho II, se recusou a entregar o castelo a D. Afonso III,
suportando a cidade um cerco que, tendo começado em 1246, só terminou em 1248,
após a morte de D. Sancho II e de Martim de Freitas se deslocar pessoalmente a
Toledo para verificar a morte do antigo Rei. Só após isso entregou as chaves da
cidade de Coimbra ao novo Rei.
D. Dinis, filho de D.
Afonso III e de D. Beatriz de Castela foi o sexto rei de Portugal e também ele
nasceu em Coimbra, em 1261. Subiu ao trono bem jovem, em 1279, tendo sido um
Rei culto, trovador e poeta. D. Dinis abraçou Coimbra com carinho e muita
intensidade. Com um dos braços criou a Universidade em 1 de Março de 1290, logo
transferida para Coimbra em 1308, assim definindo o carácter de Coimbra que
dura até aos dias de hoje. Ao rei-poeta se deve a “Magna Charta Priveligiorum”,
primeiro estatuto da universidade. Ao longo dos séculos seguintes, a
Universidade “viajou” entre Coimbra e Lisboa, vindo a estabelecer-se
definitivamente em Coimbra em 1537. Com o outro braço trouxe a sua mulher
Isabel de Aragão, amada pela sua bondade e carinho para com os necessitados, simbolizado
no “milagre das rosas”, vivendo ainda hoje no coração dos conimbricenses, que
dedicam uma especial devoção à Rainha Santa Isabel, padroeira da Cidade de
Coimbra. Após enviuvar em 1325, a Rainha Santa foi morar para um paço junto do
mosteiro das Clarissas, hoje conhecido como Mosteiro de Sta. Clara-a-Velha e
onde viria a ser sepultada em 1336. Com a subida do nível das águas do Rio
Mondego, aquele mosteiro começou a sofrer inundações, tendo as relíquias da
Rainha Santa sido colocadas num túmulo-relicário de cristal e prata em 1677 no Mosteiro
de Sta. Clara-a-Nova. A Rainha Isabel viria a ser beatificada em 1516,
e canonizada, em 1625. A data do seu falecimento, 4
de Julho é o dia da cidade de Coimbra.
A
D. Dinis sucedeu o filho Afonso nascido em Coimbra em 1291. D. Afonso IV ficou
conhecido como “O Bravo”, tendo dado uma ajuda importante na derrota histórica dos
mouros na Batalha do Salado travada no Sul de Espanha, conjuntamente com Afonso
XI de Castela, seu genro. Os acontecimentos da história dos amores de Pedro e Inês,
passaram-se durante o seu reinado. O seu filho Pedro, príncipe herdeiro,
nascido em Coimbra em 1320, casado com D. Constança, tomou-se de amores com uma
aia galega de sua mulher, D. Inês de Castro. Após a morte de D. Constança ao
dar à luz o filho e futuro rei Fernando em Outubro de 1345, D. Pedro veio a
estabelecer-se em Coimbra com Inês, com quem veio a ter três filhos. Mas as
intrigas da corte, tendo em conta a situação da ligação do Príncipe e o poder
da família de Inês, levaram o Rei D. Afonso IV a decidir a sua morte, o que
veio a suceder em Janeiro de 1355 no Paço de Sta. Clara, onde hoje se situa a
Quinta das Lágrimas. Depois de se tornar rei, por morte de seu pai ocorrida em
1357, D. Pedro legitimou os filhos através da Declaração de Cantanhede em que
afirmou ter casado secretamente com D. Inês em 1354 que, assim, foi rainha
depois de morta.
D.
Fernando I nasceu igualmente em Coimbra, mandou reforçar a muralha da cidade e
construir novas torres, acreditando-se que entre elas estará a de Almedina
junto da porta principal da Cidade com o mesmo nome. A linha dinástica de
Borgonha terminou com a morte de D. Fernando em 1383 com apenas 37 anos, uma
vez que a sua única filha legítima D. Beatriz de Portugal, também nascida em
Coimbra, casou com D. João I, Rei de Castela. Seguiu-se a crise de 1383/1385
durante a qual os revoltosos portugueses contra a integração de Portugal no
reino de Castela apoiaram D. João Mestre de Avis, filho ilegítimo de D. Pedro I
e, portanto, irmão de D. Fernando, escolhido e aclamado como Rei nas Cortes de
Coimbra de Abril de 1385.
Por
fim, toda a Primeira Dinastia está ligada ao Paço Real que, a partir de 1131,
foi residência quase permanente dos reis de Portugal desde D. Afonso Henriques,
que aqui casou em 1146 com D. Mafalda de Sabóia, até D. Afonso III. Antes da
monarquia portuguesa já os Paços da Alcáçova haviam sido morada dos primitivos
condes e governadores de Coimbra.
A
origem da Alcáçova remonta ao domínio muçulmano, tendo sido mandada edificar
nos finais do séc. X por Almançor que, pela segunda e última vez, conquistou a
cidade para os muçulmanos em 987. Com a possível ou mesmo provável excepção de
D. Afonso Henriques, quase todos os monarcas da casa de Borgonha nasceram no
Paço Real da Alcáçova, aí alguns morreram e muitos reis e príncipes lá celebraram
os seus casamentos. Apenas D. Pedro, como à data do seu nascimento ainda
governava seu Avô D. Dinis que ocupava o Paço Real, terá nascido na morada conimbricense
de seu pai, o futuro Rei D. Afonso IV, num misterioso “Alcácer de a par de S.
Lourenço”. Aqui se verificou mesmo um rapto, o de D. Mécia mulher de D. Sancho
II, durante as guerras civis que levaram ao exílio do Rei para ser substituído
pelo seu irmão conde de Bolonha e Rei D. Afonso III.
A primeira dinastia
portuguesa começou e terminou no Paço Real da Alcáçova, já que as Cortes de Coimbra
de 1385 também tiveram aí lugar. Depois de 1537, o Paço Real viria a albergar
definitivamente a Universidade de Coimbra, sofrendo profundas transformações ao
longo dos séculos até ser o símbolo maior da Coimbra dos dias de hoje. Coimbra
não é já a CIDADE RÉGIA que foi, mas sim a Cidade que muitos de nós amamos e
queremos ver progressiva, agarrando o futuro com as duas mãos, mas não
desprezando o passado, antes pelo contrário conhecendo-o e compreendendo-o em
todos os aspectos, porque “só podemos amar o que conhecemos”.
COIMBRA, CIDADE RÉGIA (parte 3 de 3)
A D. Dinis
sucedeu o filho Afonso nascido em Coimbra em 1291. D. Afonso IV ficou conhecido
como “O Bravo”, tendo dado uma ajuda importante na derrota histórica dos mouros
na Batalha do Salado travada no Sul de Espanha, conjuntamente com Afonso XI de
Castela, seu genro. Os acontecimentos da história dos amores de Pedro e Inês,
passaram-se durante o seu reinado. O seu filho Pedro, príncipe herdeiro,
nascido em Coimbra em 1320, casado com D. Constança, tomou-se de amores com uma
aia galega de sua mulher, D. Inês de Castro. Após a morte de D. Constança ao
dar à luz o filho e futuro rei Fernando em Outubro de 1345, D. Pedro veio a
estabelecer-se em Coimbra com Inês, com quem veio a ter três filhos. Mas as
intrigas da corte, tendo em conta a situação da ligação do Príncipe e o poder
da família de Inês, levaram o Rei D. Afonso IV a decidir a sua morte, o que
veio a suceder em Janeiro de 1355 no Paço de Sta. Clara, onde hoje se situa a
Quinta das Lágrimas. Depois de se tornar rei, por morte de seu pai ocorrida em
1357, D. Pedro legitimou os filhos através da Declaração de Cantanhede em que
afirmou ter casado secretamente com D. Inês em 1354 que, assim, foi rainha
depois de morta.
D. Fernando I
nasceu igualmente em Coimbra, mandou reforçar a muralha da cidade e construir
novas torres, acreditando-se que entre elas estará a de Almedina junto da porta
principal da Cidade com o mesmo nome. A linha dinástica de Borgonha terminou
com a morte de D. Fernando em 1383 com apenas 37 anos, uma vez que a sua única
filha legítima D. Beatriz de Portugal, também nascida em Coimbra, casou com D.
João I, Rei de Castela. Seguiu-se a crise de 1383/1385 durante a qual os
revoltosos portugueses contra a integração de Portugal no reino de Castela
apoiaram D. João Mestre de Avis, filho ilegítimo de D. Pedro I e, portanto,
irmão de D. Fernando, escolhido e aclamado como Rei nas Cortes de Coimbra de
Abril de 1385.
Por fim, toda a
Primeira Dinastia está ligada ao Paço Real que, a partir de 1131, foi
residência quase permanente dos reis de Portugal desde D. Afonso Henriques, que
aqui casou em 1146 com D. Mafalda de Sabóia, até D. Afonso III. Antes da
monarquia portuguesa já os Paços da Alcáçova haviam sido morada dos primitivos
condes e governadores de Coimbra.
A origem da
Alcáçova remonta ao domínio muçulmano, tendo sido mandada edificar nos finais
do séc. X por Almançor que, pela segunda e última vez, conquistou a cidade para
os muçulmanos em 987. Com a possível ou mesmo provável excepção de D. Afonso
Henriques, quase todos os monarcas da casa de Borgonha nasceram no Paço Real da
Alcáçova, aí alguns morreram e muitos reis e príncipes lá celebraram os seus
casamentos. Apenas D. Pedro, como à data do seu nascimento ainda governava seu Avô
D. Dinis que ocupava o Paço Real, terá nascido na morada conimbricense de seu
pai, o futuro Rei D. Afonso IV, num misterioso “Alcácer de a par de S.
Lourenço”. Aqui se verificou mesmo um rapto, o de D. Mécia mulher de D. Sancho
II, durante as guerras civis que levaram ao exílio do Rei para ser substituído
pelo seu irmão conde de Bolonha e Rei D. Afonso III.
A primeira
dinastia portuguesa começou e terminou no Paço Real da Alcáçova, já que as
Cortes de Coimbra de 1385 também tiveram aí lugar. Depois de 1537, o Paço Real
viria a albergar definitivamente a Universidade de Coimbra, sofrendo profundas
transformações ao longo dos séculos até ser o símbolo maior da Coimbra dos dias
de hoje. Coimbra não é já a CIDADE RÉGIA que foi, mas sim a Cidade que muitos
de nós amamos e queremos ver progressiva, agarrando o futuro com as duas mãos,
mas não desprezando o passado, antes pelo contrário conhecendo-o e
compreendendo-o em todos os aspectos, porque “só podemos amar o que
conhecemos”.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 23 de Março de 2020
sexta-feira, 20 de março de 2020
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