terça-feira, 9 de junho de 2020

MAIS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

O Governo diz que vai abandonar a regra de entrar um FP pela saída de dois. Mais uma vez, conversa da treta.
Vejamos a variação do nº de FP nos últimos anos:



Foto recolhida no blogue (Im)pertinências

segunda-feira, 8 de junho de 2020

BEETHOVEN – SUPERAR A LIMITAÇÃO


Não deverá haver, na História da Humanidade, muitos exemplos da capacidade do cérebro humano ultrapassar as limitações físicas do corpo que habita da forma genial como o fez Beethoven.
Quando a sua Nona Sinfonia foi apresentada em 1824, no Teatro da Corte Imperial de Viena, Beethoven estava completamente surdo, ao ponto de não ouvir os aplausos estrondosos de um público entusiasmado pela novidade da música que tinha acabado de ouvir pela primeira vez, pelo seu absoluto brilhantismo mas também, certamente, pela oportunidade de ali homenagear o compositor amado. Conta-se que, tendo sido convidado a permanecer ao lado do maestro durante o concerto, um dos cantores teve mesmo que o virar para a assistência para se aperceber da reacção do público.
Dotado de um espírito forte, famoso pelos seus acessos de cólera mas também pelo seu sentido de humor, se há característica que se pode atribuir-lhe é o seu amor à Liberdade. Entusiasmado pelos valores difundidos pela Revolução Francesa, dedicou a Napoleão a sua revolucionária Terceira Sinfonia. O que não foi perene foi a sua dedicatória, que raspou na partitura original, ao saber que o destinatário se tinha declarado Imperador, afirmando: «Afinal trata-se de um homem vulgar! Agora vai pisar todos os direitos humanos e obedecer apenas à sua ambição; vai querer ser superior a todos os outros e tornar-se um tirano». A terceira sinfonia seria para sempre chamada «Heroica» em vez de «Sinfonia Bonaparte».
Quando compôs a «Heroica» em 1804, aos 34 anos de idade, Beethoven sofria já de surdez avançada que de forma crescente o ia impedindo de ouvir aquilo a que se dedicava de forma apaixonada, a Música, ouvindo apenas aquilo a que Romain Rolland chamou o «canto interior». A partir de 1815 já só conseguia mesmo comunicar com os amigos através de escrita e, até ao fim da vida, a música existiria cada vez mais apenas no seu cérebro para ser passada pela sua caneta ao papel. A importância histórica da terceira sinfonia advém também de, para muitos, marcar a passagem definitiva do classicismo para um romantismo que abre as portas a toda uma nova época da História da Música dando largas à emotividade e libertação dos sentimentos.
Muitos autores se debruçaram sobre a vida de Beethoven e a sua obra, destacando aqui o acima referido Romain Rolland que, no princípio do século XX, dele escreveu uma biografia e o teve como inspiração para o seu monumental romance «Jean Christophe» que lhe valeu o Nobel da Literatura.
Ainda hoje a interpretação e gravação da integral das suas nove sinfonias constitui um ponto culminante da carreira de qualquer orquestra ou maestro. A influência destas obras na História da Música é de tal ordem que muitos compositores, depois de Beethoven, se recusaram a escrever mais de nove sinfonias, como sinal de respeito perante o grande mestre; as quatro primeiras notas da Quinta Sinfonia são, talvez, o trecho musical mais conhecido da História da Música, apesar de tão curto. São todas tão impressivas e diferentes entre si que dão a qualquer pessoa a possibilidade de gostar mais de uma ou outra permitindo-me a mim, apenas amante da música, dizer que gosto particularmente da Sétima e da Nona. Cresci a ouvir as interpretações das sinfonias de Beethoven por Karajan, tendo criado a ideia de que se tratava de uma música por vezes um pouco pesada; depois conheci as interpretações de Claudio Abbado com uma sensibilidade muito própria e belíssima e, finalmente, de Simon Rattler que me ofereceu toda uma nova perspectiva de Beethoven, provando a riqueza e profundidade da sua música inimitável.
Para além da monumental obra que se estende por diversas formas musicais, Beethoven marcou também a História da Cultura, ao ser o primeiro músico a viver da publicação das suas obras, não se sujeitando a ter mecenas de quem dependesse financeiramente e de algum modo pudessem tentar limitar a sua criação. De entretenimento privado de aristocratas, a apresentação das obras musicais foi paulatinamente passando para salas de concertos e foram surgindo as orquestras profissionais, o que permitiu a popularização e democratização desta forma artística.
Celebrando-se no ano que passa os 250 anos do nascimento de Ludwig van Beethoven, apenas posso deixar um desafio aos nossos leitores: se já conhecem a sua música, revisitem-na com novos intérpretes que os há excelentes; se não conhecem, vão ouvi-la em discos ou, de preferência, ao vivo, em concertos.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Junho de 2020

segunda-feira, 1 de junho de 2020

LIDERANÇAS, HOJE

Quando olhamos para os líderes do passado é com os nossos olhos de hoje que o fazemos. Aqueles que, de uma forma ou de outra, por exemplo por terem perdido guerras em que foram intervenientes não transmitiram para o futuro aquilo que defendiam ou em acreditavam ou foram esquecidos ou ficaram para sempre vistos com uma carga negativa. Já os que tiveram o engenho e a sorte de sair vitoriosos, têm a hipótese de criar boa imagem que poderá perdurar durante muito tempo. Como se costuma dizer, os vencedores é que escrevem a História e ai dos vencidos, pelo que o passado está cheio de grandes líderes que, de facto, nunca o foram tendo sido mitificados por narradores ou cronistas pagos para o fazerem, enquanto rebaixavam grandes valores.

Para não ir mais longe, a própria História de Portugal está cheia de casos destes, bastando para o provar recordar o caso do Infante dom Pedro, Duque de Coimbra cujo corpo foi deixado aos cães e a memória tão vilipendiada que ainda hoje, mesmo na nossa Cidade, se formos pela rua perguntar quem foi provavelmente não nos saberão responder. Já se perguntarmos quem pelo Infante D. Henrique levaremos logo com a resposta dos Descobrimentos e da «escola de Sagres».

E, como dos fracos não reza a História, é com toda a facilidade que os líderes de hoje saem muito mal vistos quando comparados com os do passado. Contudo, não devemos cair no erro de olhar para os líderes de hoje com os olhos do passado, porque as circunstâncias são completamente diferentes. E não são diferentes como o Império Romano de César Augusto era diferente do Império Arqueménida de Dario, ou do Império Inca de Túpac Yupanqui. O nosso mundo é hoje diferente de todos esses momentos históricos que tiveram tanto em comum como a actualidade está longe de todos eles. Todos se basearam no uso da força e na dominação física de outros povos, tantas vezes de forma sanguinária, com vista à sua dominação e dos seus territórios Há menos de cem anos isso aconteceu já no século XX com Hitler e os seus sonhos do Reich de mil anos que passou à História como um dos maiores genocidas porque, felizmente, foi derrotado, relegando para a incompreensão humana a sua capacidade de influenciar milhões de alemães e não só.

O que mudou o mundo nas últimas dezenas de anos e os procedimentos dos líderes foi a capacidade de contacto instantâneo através das redes digitais que restringiu de forma drástica a capacidade de esconder actos ou enganar os cidadãos da forma que se fazia anteriormente. A globalização, cujo início se deveu às viagens marítimas dos portugueses no século XV, abrange hoje todo o mundo, permitindo não só as transferências de produtos materiais e financeiros mas também, ou sobretudo, de conhecimento cada vez mais o maior valor de todos.

É assim que os líderes de hoje têm que adoptar procedimentos completamente diferentes de antigamente. Claro que me refiro a verdadeiros líderes e não apenas a ocasionais detentores de poder de que a História não deixará registo de relevo, por não terem tido capacidade de mudança e de construção de futuro melhor. Líderes não apenas políticos, mas também das áreas económicas e sociais.

Perante o mundo de hoje, os líderes têm de ser capazes de aceitar as responsabilidades da sua actuação, para o melhor e para o pior, não enganando os cidadãos, antes informando-os do que tem de ser feito, ainda que não seja isso o que as pessoas querem ouvir, por eventualmente lhes exigir sacrifícios. Não podem, portanto, dizer que andam a fazer uma coisa, quando o que na realidade praticam no silêncio dos gabinetes é algo completamente diferente ou mesmo o oposto. O respeito pelos cidadãos significa hoje muito mais do que respeitar as suas escolhas eleitorais, por implicar um interesse pelo bem-comum, mais do que pelo amor-próprio ou ambição pessoal. Hoje em dia não é possível haver lideranças efectivas que não sejam capazes de estabelecer estratégias combinadas porque as ligações políticas, económicas e sociais existem a tantos e tão entrelaçados níveis, que ninguém está sozinho.

Por isso mesmo, este não é o tempo de nacionalismos porque ninguém, nem países nem empresas podem ter a veleidade de se imaginar melhor do que todos os outros. Afirmar-se que de alguma forma se pode ser auto-suficiente não passa de puro charlatanismo, o oposto da capacidade de liderança que deve ter na Verdade o seu valor mais importante.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 1 de Junho de 2020

CORES


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Branding Territorial

Video de promoção da pós-graduação em "Brending Territorial" da Business School de Coimbra. alusivo ao Dia Nacional da Energia.
 https://cbse.iscac.pt/