segunda-feira, 7 de junho de 2021

Tirar o ponto

«Quando não se sabe

 para onde quer ir,

 qualquer caminho serve»

Impante da sua nova importância, acompanhado pelo comandante-geral da GNR e pelo comandante da Unidade de Controlo Costeiro (UCC) da GNR, o ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita lá fez a viagem inaugural da Lancha «Bojador» entre Alcântara e Oeiras, no passado dia 7 de Maio.


Enquanto o seu colega da Defesa tem que se haver com almirantes, generais e antigos chefes de Estado Maior e até ex-presidentes da República para levar avante uma reforma da estrutura superior das Forças Armadas, Eduardo Cabrita avança lampeiro com a invasão das competências da Marinha de Guerra portuguesa pela GNR, que é uma força de segurança directamente dependente do Governo e do seu Ministério, e assim obedece às suas ordens sem o menor suspiro público. Ao contrário, como é bom de ver, do que sucede no relacionamento de governantes com altos responsáveis militares. O ministro Cabrita pode não saber tirar o ponto ou o que é um azimute, mas mostra gostar de mandar e de ser obedecido.

A leitura destas linhas poderá provocar alguma perplexidade, por poder dar a impressão de misturar assuntos que nada terão a ver uns com os outros. A meu ver, têm, e muito, por definirem um padrão. Quando uma governação do «quero, posso e mando» como é característica da acção de Eduardo Cabrita é acompanhada por interferências claras de forças de segurança que ele próprio tutela em áreas definidas como de soberania, algo vai muito mal, até porque não se trata de decisões de apenas de um ministro mas de uma política decidida pelo Governo.

Sucede que o destino, não a vontade própria, quis que eu cumprisse o Serviço Militar Obrigatório como Oficial da Reserva Naval. E, como Oficial da Classe de Marinha, não cumpri o SMO numa secretaria, nem a marchar em paradas, mas sim a bordo de navios da Armada Portuguesa no Atlântico, entre Portugal continental e a Madeira e os Açores. Isto para garantir saber bem do que falo, quanto ao que a seguir fica escrito.

Se a Armada, com os meios de que dispõe, cumpre com brio e profissionalismo as missões militares que lhe são confiadas, nomeadamente de defesa nacional e apoio à política externa do Estado, exerce também da melhor forma, uma acção não militar muito importante e muitas vezes desconhecida de grande parte da população.


Aplicando os conhecimentos marítimos adquiridos e consolidados durante centenas de anos, a Armada desenvolve um grande número de tarefas no mar. A própria Lei Orgânica da Marinha, para além daquilo que lhe está confiado pela Lei de Defesa Nacional e pela Lei Orgânica de Bases da Organização Nacional das Forças Armadas, define outras missões como sendo «exercer a autoridade do Estado nas zonas marítimas sob soberania ou jurisdição nacional…», bem como «assegurar o funcionamento do Serviço de Busca e Salvamento Marítimo» o que faz em permanência, e «realizar operações e actividades das ciências e técnicas do mar». Sou testemunha pessoal do exercício de actividades de todos estes tipos, para além de outras como apoio aos faróis e, quando necessário, do apoio excepcional aos portugueses das ilhas que bem conhecem esse esforço patriótico dos nossos marinheiros, tantas vezes em condições de mar bem difíceis.

Acontece que, de acordo com as palavras do Comandante da GNR, “a lancha Bojador será utilizada "em missões de vigilância, patrulhamento e intercepção terrestre ou marítima em toda a costa e mar territorial do continente e das regiões autónomas". Se isto não é uma sobreposição às tarefas da Armada ou mesmo uma tentativa de substituição daquela, não sei o que será. Para o MAI o país deve parecer um poço sem fim de dinheiro a desbaratar em chamados «investimentos» que não fazem qualquer sentido, não colhendo a desculpa esfarrapada dos fundos europeus: governar é escolher, não fazer como a Alice de Carrol ao responder ao gato que não sabia para onde ir! Como resposta ouviu: Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.

Por tudo isto não fico admirado que vários Almirantes antigos Chefes de Estado Maior da Armada e outras individualidades civis tenham assinado uma carta aberta criticando esta decisão governamental, embora possa imaginar que já tenha ido parar ao caixote do lixo do MAI.


A notória falta de visão estratégica do país, só pode dar maus resultados. Espero, sinceramente espero, que, quando a lancha da GNR em alto mar necessitar da ajuda da Marinha de Guerra, porque mais tarde ou mais cedo isso vai acontecer, os portugueses possam ter conhecimento do caso e não seja considerado «segredo de estado» ou qualquer coisa semelhante. Aliás, nesta matéria, o exemplo do que se passou com os helicópteros Kamov está aí para mostrar aos portugueses a capacidade de certos políticos para estoirarem o dinheiro dos seus impostos com compras disparatadas. E que nunca aprendem.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 7 de Junho de 2021

Imagens retiradas da internet

 

domingo, 6 de junho de 2021

Anna Netrebko & Elīna Garanča – Offenbach: Les Contes d'Hoffmann: Barcar...

Copland: Fanfare for the Common Man - BBC Proms 2012

Dia D

 Hoje, dia 6 de Junho, curvemo-nos perante a memória dos homens comuns-herois que participaram no Desembarque na Normandia em 6 de Junho de 1944. Em particular, os caídos naquelas praias, a quem o mundo deve a libertação da barbárie nazi.


segunda-feira, 31 de maio de 2021

As duas faces

 


«Dizem que os que governam são espelho da república; não é assim, senão ao contrário. A República é o espelho dos que a governam.».
Padre António Vieira

Qual o efeito da liberdade individual absoluta? A eliminação dos mais fracos pelos mais fortes e a destruição da sociedade como um todo e sim, este resultado já foi verificado. Qual o efeito da igualdade absoluta? A impossibilidade de afirmação pessoal e a destruição da sociedade como um todo e sim, este resultado já foi verificado. Penso que o simples enunciado do resultado da aplicação extremista dos dois valores que mais se ouvem defender será suficiente para entender que a defesa levada ao extremo da direita ou da esquerda só pode conduzir a maus resultados.

Contudo, o ambiente político parece querer fazer esquecer estas constatações simples e que, perante a História, deveriam ser evidentes para toda a gente. As questões concretas da governação que deveriam merecer a atenção de todos são substituídas por afirmações casuísticas e bombásticas que tentam colocar o interesse colectivo na culpabilização dos respectivos adversários extremos e não na resolução dos problemas concretos do país.

E, no entanto, Portugal encontra-se numa situação de encruzilhada que exige coragem e determinação para encontrar as soluções que signifiquem uma efectiva escolha de um caminho que leve a um futuro melhor para os nossos filhos e netos.

Há duas décadas que o nosso crescimento económico praticamente estagnou. Após o euro e a entrada dos países que antes da queda do muro de Berlim pertenciam ao Pacto de Varsóvia, Portugal nunca mais conseguiu libertar-se do peso de uma dívida externa crescente e de uma baixa produtividade que impede os salários de crescerem de forma sustentada. Antes pelo contrário, o salário mínimo que é definido de forma administrativa aproxima-se perigosamente do salário médio dos portugueses, esse sim definido pela contratação livre. Mais de 40% dos agregados familiares dos portugueses recebe menos de 10.000 euros….por ano! A descida é de tal forma que, em média, os portugueses recebem menos 115 euros mensais do que há dez anos. Isto enquanto a carga fiscal continuou a aumentar em 2020, mesmo em pandemia, suportando os portugueses uma das maiores pressões fiscais da Europa e, ainda por cima, pagamos das energias eléctricas e combustíveis mais caras, fruto dos impostos e das garantias de preços governamentais. O ranking das escolas veio mais uma vez mostrar a inépcia e incompetência dos decisores das políticas educativas que cada vez mais cavam profundas falhas sociais. O relatório do Tribunal de Contas sobre as PPP na saúde desmontou todo um conceito estatizante da política de saúde, enquanto a hipocrisia sobre a matéria campeia com o domínio claro de corporações do sector. O tempo que os processos judiciais demoram a ver decisões definitivas em Portugal deve ser um record mundial e é-o certamente no campo das democracias. Quando a noção pública de nível de corrupção é o que todos sabemos, levantam-se todos os obstáculos a que  se obrigue os políticos que exibem sinais de riqueza estranhos a justificarem a origem do dinheiro. Tudo isto, e muito mais há a apontar, enquanto a riqueza produzida cada vez mais nos leva para a cauda da Europa.

O estado actual do país não é obra do acaso, sendo consequência das políticas igualitaristas seguidas desde 1995, com curtos interregnos ditados pela pré-bancarrota de 2002 e pela bancarrota a sério de 2011, exacerbadas nos últimos seis anos fruto do cerco político ao PS montado pela extrema-esquerda para lhe autorizar a governação.

Que o país precisa de mudar de rumo parece, pois, evidente. Que os mesmos que nos trouxeram aqui nunca o farão, também não levantará muitas dúvidas. A responsabilidade da mudança necessária cai, portanto, e necessariamente em Democracia, na oposição, neste caso à direita, mais concretamente ao PSD.

E é aqui que se coloca a questão actual. Perante o exemplo dos resultados de uma política refém de extremistas, é obrigação do PSD apresentar uma alternativa forte, afirmativa e concreta para resolução dos problemas do país, capaz de suscitar o apoio eleitoral necessário por si, sem cedências à extrema-direita. Nunca se poderá deixar colocar na posição em que o PS se colocou perante os extremistas da esquerda, PCP e BE. Não pode sequer autorizar que se instale na opinião pública a ideia de que um pragmatismo pós-eleitoral poderá vir a justificar um acordo com o Chega, seja ele de que tipo for. O país nunca lho perdoaria e os resultados de uma governação decorrente de um tal tipo de acordo seriam a continuação do desastre nacional, com outras cambiantes, mas um desastre na mesma.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 31 de Maio de 2021

Fotos recolhidas na internet

segunda-feira, 24 de maio de 2021

A origem do mal

 

“O que principalmente danou estes feitos foi, e é, quererem em estes Reinos usar das práticas de Castela, e todos por seu proveito, e cada um levar sua enxavata” – D. Pedro, Duque de Coimbra

 


Os portugueses têm assistido, atónitos, ao desfilar de personalidades pela “Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar da Assembleia da República às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução sobre o Novo Banco” e, ainda mais às declarações que lá são proferidas. Em particular, os chamados grandes devedores, desde Bernardo Moniz da Maia a Luis Filipe Vieira e Nuno Vasconcelos, passando por João Gama Leão. Mas as declarações do ex-ministro das Finanças Mário Centeno que hoje é Governador do Banco de Portugal, até ao actual presidente do Novo Banco António Ramalho, passando pelo presidente do Tribunal de Contas José Tavares, pelo anterior Governador do Banco de Portugal Carlos Costa e por Luis Máximo dos Santos presidente do Fundo de Resolução, entre outros responsáveis, são também pelo menos surpreendentes, sobretudo pelo que revelam dos nossos sistemas financeiro e político.

Recordando de forma resumida o que está em causa: os pagamentos ao Novo Banco pelo Fundo de Resolução, decorrentes da venda de 75% do banco em 2017 ao Fundo Lone Star. Esta venda, negociada pelo Governo de António Costa, sendo Mário Centeno ministro das Finanças e pelo Banco de Portugal sendo seu Governador Carlos Costa, teve aquilo a normalmente se chama “side letters”, algumas das quais ainda não serão do conhecimento público. Mas há algo que é público: a Lone Star não pagou nada pelo Banco, tendo injectado mil milhões de euros no próprio banco e garantiu a possibilidade de o Fundo de Resolução injectar, num período limitado, até 3,89 mil milhões de euros no Novo Banco, dos quais já foram utilizados até hoje quase 3 mil milhões. Aquando da venda, quer António Costa, quer Mário Centeno garantiram juntos em conferência de imprensa que a venda, e cito, «não terá impacto direto ou indireto nas contas públicas, nem novos encargos para os contribuintes, constituindo uma solução equilibrada». Hoje podem apresentar-se as mais diversas justificações e razões para o sucedido, mas o que foi dito e o que foi feito está à vista de todos e os responsáveis pela venda desastrosa têm nome: António Costa, Mário Centeno e Carlos Costa.


Os testemunhos da elite económica e financeira portuguesa que foi chamada a depor na Comissão da AR mostram bem como o antigo BES e o seu responsável máximo Ricardo Salgado usaram determinadas pessoas, algumas com nome firmado na economia nacional, para atingirem os seus objectivos, nomeadamente de domínio de grandes empresas e outros bancos. De caminho, afundado o BES, ficaram à vista desaparecimentos de empréstimos de montantes obscenos, sempre da ordem das centenas de milhões de euros. Alguns desses “empresários” com dinheiro alheio nem sequer reconhecem ter quaisquer dívidas, dado que as empresas utilizadas para obter os financiamentos ou já faliram ou foram sucessivamente «renegociando» os contratos com o banco, desaparecendo sempre umas dezenas de milhões de euros em cada uma dessas renegociações. Característica constante das declarações à Comissão da AR é a alegação de desconhecimento e mesmo de falta de memória sobre o sucedido. Como se negócios de centenas de milhões de euros fossem algo de vulgar, que fizessem todos os dias. Tudo isto ficou claro perante toda a gente pelo que, se para outra coisa não servir, esta Comissão Eventual da AR já teve um papel importante.

Os responsáveis pelo sucedido com o BES terão eventualmente, algum dia, os castigos que a Justiça entender dar-lhes. Mas os portugueses não precisam de decisões judiciais para perceberem algumas coisas, hoje evidentes para todos, embora alguns tentem ainda lançar cortinas de fumo para tentar esconder a realidade. A tentativa de Ricardo Salgado dominar grande parte da economia portuguesa é hoje clara, para o que estabeleceu uma parceria com o poder político de então, isto é, o governo chefiado por José Sócrates. Aqueles “empresários” que hoje dizem não ter dívidas ou não se lembrarem do sucedido foram testas de ferro no domínio da PT, então a empresa portuguesa mais valiosa e hoje desaparecida, como o foram na tentativa de assalto ao BCP, que quase também ia na onda. A corrupção não foi apenas individual, mas sistémica. E a economia portuguesa sofreu um abalo gigantesco que todos os portugueses estão, na prática, a pagar.

Termino esta crónica com outra citação de D. Pedro, Duque de Coimbra datada de 1426:

“A Justiça tem duas partes. Uma é dar a cada um o que é seu. E a outra dar-lho sem delonga. E, ainda que eu cuido que em vossa terra igualmente falecem, da derradeira sou bem certo”.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 24 de Maio de 2021

Imagens retiradas da internet

domingo, 23 de maio de 2021

Da nova censura

 A dita «Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital» aprovada sem nenhum voto contra na AR e de imediato promulgada pelo Presidente da República está aqui para que todos possam ler e apreciar da qualidade dos nossos actuais representantes políticos. 

 https://dre.pt/application/conteudo/163442504?fbclid=IwAR1QFEGcFkfGew836Xa6-u_2AFlQVDbBf_YtHVUcvq35O4axiqWgQuJ5UDs

VERDADEIRO DIA DE PORTUGAL

 


 

Hoje é o dia 23 de Maio de 2021.

No dia 23 de Maio de 1179 foi publicada  a bula”Manifestis Probatum” pelo Papa Alexandre III a autoridade supra-nacional da época que verdadeiramente instalou Portugal como reino independente e D. Afonso Henriques como seu Rei.

Hoje é dia de «festa» em Coimbra: no estádio joga-se a final da Taça de Portugal em futebol.

Na Igreja de Sta Cruz, D, Afonso Henriques descansa esquecido pela Cidade que escolheu para Capital do seu Reino: Portugal.

E não faço mais comentários.