Não terá havido na História muitas épocas em que os territórios, nas suas diversas dimensões, seja a nível de regiões, cidades, vilas ou mesmo aldeias, tenham sentido tanta necessidade de se afirmarem perante os seus vizinhos como sucede na actualidade. Claro que me refiro a relacionamentos pacíficos entre comunidades, já que através da guerra se trata são outros, infelizmente bem mais frequentes e de forma historicamente quase permanente, mesmo nos nossos dias, como infelizmente podemos observar pelos telejornais.
É por isso que a determinação do carácter identitário de um território, aquilo a que chama normalmente e de forma mais apelativa a sua marca, se torna cada vez mais uma questão crucial e estratégica para o seu desenvolvimento sustentável. Trata-se de dar resposta a três questões fundamentais: como atrair investimento, como criar interesse nas pessoas de outros territórios e como fazer crescer o amor-próprio dos residentes.
É um lugar-comum afirmar-se que ninguém gosta do que não conhece, o que se aplica perfeitamente ao território. O seu conhecimento implica estudo e análise aprofundada de diversos aspectos que vão da geografia com os seus diversos aspectos territoriais e humanos, à História, à evolução urbana ou mesmo urbanística, à Cultura na sua diversidade e ainda à economia. Só um conhecimento multi-facetado que exige o trabalho de especialistas em diversas áreas permite descobrir a identidade profunda de um determinado território, isto é a sua marca, que por vezes pode parecer uma evidência mas não ser verdadeira, logo não sentida como tal pelos próprios moradores.
Só a partir desse conhecimento se podem definir rumos de desenvolvimento para o território de forma sustentada e coerente. São conhecidos casos mundiais em que cidades se redescobriram desta forma encontrando rumos de desenvolvimento a partir de uma evolução história que a certa altura parecia ter perdido o Norte, caindo na estagnação.
E esse conhecimento é também verdadeiramente crucial para que se possa atingir uma séria e frutífera afirmação exterior. Entram aqui outras especialidades ligadas ao marketing que exigem igualmente profissionalismo e um domínio de ferramentas específicas. Torna-se necessário construir uma narrativa atraente mas sustentada na realidade actual e na História, aquilo em que em marketing se chama normalmente “story telling”, no caso a verdadeira substância da marca do território. A comunicação utiliza toda esta informação de forma a que possa ser passada a todos os possíveis interessados, só neste momento entrando o marketing.
E o marketing abrange hoje uma gama vastíssima de meios que vão dos clássicos como intervenções na imprensa e montagem de eventos e participação em feiras, até à utilização dos modernos meios digitais que transformam a passagem da mensagem em algo verdadeiramente global. Toda uma panóplia de meios a utilizar de forma profissional para a difusão do conhecimento de qualquer marca, neste caso, territorial.
É todo este conjunto de matérias e trabalhos que se chama hoje em dia «branding territorial» porque, para além de a designação estar internacionalmente reconhecida, não se encontra infelizmente em português um termo que abranja todas estas actividades relacionadas com marca e território: construção da marca e divulgação da mesma com os três objectivos que acima indiquei; atracão de investimento e de pessoas, designadamente turistas mas não só e melhoria da auto-estima da população própria.
Foi a partir da constatação de uma falha em Portugal nesta área, hoje essencial e com grande desenvolvimento internacional, que o ISCAC-Coimbra Business School decidiu enveredar pelo caminho de criar um “Observatório de Branding Territorial” que celebra já um ano de actividade, por estes dias. Para além da investigação académica aplicada a estas matérias, através de produção de trabalhos de Investigação Científica e divulgação, propõe-se efectuar análise de Estudos de casos, bem como acompanhamento de políticas públicas de branding territorial. Isto, claro, para além da formação nesta área de que a Pós Graduação em Branding territorial, que vai já para a sua terceira edição com êxito reconhecido, é um exemplo.
Texto publicado originalmente no Diário de Coimbra em 20 de Junho 2022