É com os nossos olhos que observamos a realidade que nos rodeia. Por observar entendo o que podemos ver, mas também o que sentimos que resulta da nossa mundividência e da capacidade de sentir que acrescentamos durante a vida à nossa própria maneira de ser. Como dizia Ortega Y Gasset, nós somos nós e a nossa circunstância.
Fruto do que assim vejo surgem estas crónicas semanais que o Diário de Coimbra “generosamente acolhe nas suas páginas” desde há mais de 17 anos. E há muito para observar. A começar pela política, quer a nível nacional, quer mais local ou regional, que a política praticamente tudo determina na nossa vida, principalmente ao vivermos em Democracia em que, não só temos o direito, mas também o dever de participar na vida colectiva o que não se resume a ir depositar o voto na urna aquando das eleições. Infelizmente, nos últimos vinte e tal anos a política não tem sido muito eficaz ou mesmo competente no nosso país e disso se ressente a economia e os bolsos dos portugueses, fundamentalmente em comparação com os nossos parceiros da comunidade europeia. Isto, enquanto despeja em Portugal milhões de euros por dia, todos os dias.
Mas há muito mais para observar à nossa volta. A Cultura faz parte da nossa vida, quer participando em associações culturais, quer assistindo a concertos do mais diverso tipo ou peças de teatro, quer indo a exposições e fazendo visitas a museus ou participando em colóquios. Poucos de nós somos artistas, mas todos podemos apreciar o resultado do trabalho dos que o são, tendo a consciência de que a Arte nos eleva o espírito pela observação do Belo, mas que a Arte anda também normalmente à frente da realização humana, abrindo novos caminhos e iluminando novas perspectivas. Ler livros, muitos! jornais e revistas é imprescindível para conhecer e compreender o outro na sua infinita variedade.
A informação chega-nos hoje muito pela internet, pela pesquisa com motores de busca que nos colocam instantaneamente disponível praticamente tudo o que queremos saber, tendo acabado com as enciclopédias em papel tornadas inúteis pela impraticabilidade da sua actualização, tal é a velocidade de transformação do mundo actual. Mas nem tudo o que se lê na internet é verdade e todos os cuidados com isso são poucos. Em particular, as redes sociais são veículo privilegiado para a disseminação de informação falsa, sendo necessário conferir a adesão à realidade de tudo aquilo que nos aparece no computador. A metodologia utilizada pelas redes sociais, os chamados algoritmos, deve também ser tida em conta já que a utilização dos chamados amigos ou seguidores tende a afunilar pelos interesses comuns, impedindo a livre discussão e o conhecimento de diferentes opiniões. Daí até ao extremismo do “eles e nós” vai um pequeno passo que muitos de nós damos sem dar conta disso.
Mas a internet oferece-nos ainda a possibilidade de nos actualizarmos a nível científico, pelo menos naquele mínimo que todos nós devemos conhecer para entendermos o mundo actual e como podemos prever que será no futuro próximo.
A economia invadiu a nossa vida de uma forma impensável ainda há poucos anos. O funcionamento do sistema bancário, as relações entre os diversos aspectos da economia, designadamente entre as forças produtivas agrícolas e industriais e a comercialização dos produtos produzidos num mundo globalizado exigem de todos nós um conhecimento mínimo que é muito mais aprofundado do que era o de muitos especialistas na matéria ainda há poucas dezenas de anos.
Todas estas áreas, de uma forma ou outra, têm sido objecto de atenção nestas 895 crónicas publicadas ao longo destes anos. A razão da escolha de tantos e tão variados temas deverá ser agora mais clara, não tendo nada a ver com aquilo a que muitos chamam ser «tudólogo», já que as opiniões apresentadas são justificadas e nunca assumem a forma de posição de certeza definitiva. Os leitores mais atentos ou dedicados detectarão certamente alguma evolução no pensamento do autor destas linhas ao longo do tempo. Penso que tal é compreensível já que, como diz o nosso povo na sua sabedoria, só os burros não mudam de opinião. Penso que o mais importante num cronista é ter respeito, em primeiro lugar pelos leitores que nunca deverá tentar manipular ou mesmo enganar, e depois pela sua própria consciência. No que me diz respeito, penso que a independência perante partidos, igrejas ou outras comunidades tem sido uma constante, certamente com uma evolução no sentido de se tornar cada vez mais forte.Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 9 de Janeiro 2023
Imagens retiradas da internet