Mas esta classificação deve ser um ponto de partida. É certo que a Unesco não vai trazer directamente dinheiro para Coimbra. Mas o reconhecimento da Universidade como património mundial vai potenciar de forma decisiva o movimento de turistas que irão querer conhecer pessoalmente este “Bem”. E esta circunstância coloca-nos perante o início de novo período para a Cidade, sendo necessário definir uma estratégia para o seu desenvolvimento futuro, que tenha esta nova situação em devida conta.
Vários elementos programáticos sectoriais estão já estudados e aprovados ou em vias de aprovação, tornando-se agora necessária uma visão e uma estratégia global. As Áreas de Reabilitação Urbana já aprovadas e em início de implementação, o Plano Estratégico da Cidade e o Plano Director Municipal revisto juntam-se a regulamentos específicos para a realização de obras em edifícios situados na zona de protecção do “Bem” agora classificado. Numa cidade que tem um património com esta importância não mais se pode permitir que a “cultura”, o “turismo” e mesmo a “reabilitação” do centro histórico tenham caminhos separados vagamente ligados num tronco comum. Estas áreas envolvem saberes próprios e específicos existentes a nível autárquico que devem ser aproveitados, mas que politicamente devem ser unidos para que daqui a vinte anos os cidadãos possam dizer que a classificação da Unesco não só reconheceu algo que já existia, mas que potenciou toda uma recuperação do Centro Histórico, trazendo nova vida a nível de moradores, de comércio e de actividades económicas ligadas ao turismo e à cultura que criaram emprego gerando enorme riqueza para Coimbra.
Uma estreita ligação entre a Autarquia e a Universidade qu
e já existe actualmente, é necessária e crucial, não só para a gestão do “Bem” classificado, mas para a construção comum do futuro de toda a Cidade, em volta da sua velha escola, nunca esquecendo que uma urbe não pode ser um museu, mas que existiu, existe e deverá existir em função das suas gentes. O estado de degradação absolutamente lamentável a que se deixou chegar o património edificado de uma parte constituinte do bem classificado, a Rua da Sofia, vai exigir esforços comuns não só a nível de estudos mas também, e sobretudo, no encontrar de soluções financeiras para a recuperação sustentável dos seus Colégios.
A inclusão da Rua da Sofia na candidatura faz todo o sentido. A sua construção teve precisamente como justificação a instalação dos Colégios da Universidade, por volta de 1535, aquando da vinda definitiva da Universidade para Coimbra decidida por D. João III. O êxito desta classificação passará muito pelo que acontecer na Rua da Sofia daqui para a frente e da forma como potenciará, ou não, a regeneração urbana de toda a Baixa.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 24 de Junho de 2013