Na nossa sociedade crescentemente mediatizada, é
cada vez mais difícil distinguir aquilo que é sólido, substancial e resultado
de trabalho continuado e sério, do que não tem outra existência para além do
que momentaneamente surge nos diversos meios de comunicação social.
Por isso mesmo se deve, não só chamar a atenção
para o que de melhor que se faz entre nós, mas sobretudo para quem, através do
seu trabalho, torna isso possível. Quando esse alguém o faz de uma forma
discreta, quase se podendo mesmo dizer humilde, é de toda a justiça trazer esse
trabalho para fora do círculo fechado em que se desenvolve, mostrando ao resto
da sociedade que há neste país quem seja muito bom ou mesmo excepcional,
qualquer que seja o critério utilizado.
Há duas semanas tive a oportunidade de assistir a
um concerto-prestígio da Orquestra Clássica do Centro dedicado à Prof. Doutora
Catarina Resende de Oliveira. Concerto esse executado de forma profissional e
excelente, sob a sempre atenta e competente batuta do Maestro David Lloyd.
Se há alguém em Coimbra a quem se possa aplicar o
que acima escrevi é Catarina Resende de Oliveira. Todos temos em Coimbra a
noção de que a cidade e o concelho estão desde há algumas dezenas de anos a
passar por uma situação de transição económica que pode vir a ter uma saída
favorável ou, pelo contrário, a desembocar numa estagnação e mesmo perda de capacidade
de atracção de pessoas e actividades com consequências nefastas. O futuro
dependerá muito do que nos tempos próximos as elites aos diversos níveis forem
capazes de trazer de novo e de catalisar as estruturas já existentes.
Penso ser relativamente pacífico reconhecer a
importância do papel da saúde em Coimbra, nas suas diversas facetas, quer
ligadas ao fornecimento de serviços, quer na respeitante à formação de médicos
e enfermeiros, quer ainda na ciência. A dimensão do Centro Hospitalar da
Universidade de Coimbra pode ser considerada excessiva face à Cidade, mas a
realidade é que por razões históricas, a oferta de serviços na área da saúde em
Coimbra foi sempre excepcional a nível quantitativo mas, sobretudo, a nível
qualitativo procurando hoje, até, internacionalizar-se.
A investigação científica é fundamental, não só por
permitir aumentar o conhecimento, o que já não seria pouco, mas nos dias de
hoje, crucialmente por poder apoiar a economia em áreas sensíveis de inovação e
criatividade que estão associadas a grande criação de valor. Na Saúde, acresce
a estes factores, a possibilidade de aprofundar a capacidade de intervenção
médica, através de novos tratamentos para doenças ainda hoje de diagnóstico
precoce e cura difíceis de conseguir, diminuindo sofrimento e proporcionando
mais qualidade de vida a muitas pessoas.
A Universidade de Coimbra possui, desde há vários
anos, um centro de investigação científica de excelência na área da Saúde,
assim reconhecido internacionalmente, que é o Centro de Neurociências e
Biologia Celular. À sua criação e desenvolvimento até atingir a dimensão e
qualidade de hoje esteve intimamente ligada a Prof. Doutora Catarina Resende de
Oliveira que foi sua presidente durante vários anos, que é daquelas cientistas
que se entregam completamente à causa da ciência, sem perder o objectivo de
melhorar a vida do semelhante. Sendo professora catedrática da Faculdade de
Medicina, aí ensina Bioquímica, tendo-se especializado em Neurologia. O seu
objecto de estudo preferido é, desde há mais de vinte anos, o cérebro e o seu
funcionamento. A sua investigação tem em vista compreender como sucede e o que
provoca a degenerescência dos neurónios que se manifesta na demência e na
doença de Alzheimer, a fim de encontrar meios terapêuticos para a contrariar.
Antes do concerto, duas grandes figuras de
Coimbra lhe prestaram homenagem: O Prof. Doutor Arsélio Pato de Carvalho e o Prof.
Doutor Joaquim Murta, actual Director da Faculdade de Medicina. Nas suas
intervenções ambos realçaram o valor e méritos científicos da Doutora Catarina
Oliveira, mas também e talvez ainda mais, o seu valor como pessoa e cidadã,
sendo evidente o carinho com que se lhe referiram.
Através da música, a OCC tem homenageado entidades
e pessoas que se distinguem pelo valor do seu trabalho, mas também pelo exemplo
na dedicação e capacidade de abrir novos caminhos e colocar as fronteiras do
desconhecido mais afastadas de nós. Instituições e pessoas que se inserem num
espaço mais vasto, que chega a ser, como no caso de Catarina Resende Oliveira,
muito mais que Coimbra ou mesmo Portugal, já que é reconhecida em instituições
do mais alto nível, no mundo inteiro.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Abril de 2015