Estou convencido de que, se for
perguntado nas ruas da nossa cidade quem foi o Duque de Coimbra, será uma
pequena minoria a responder afirmativamente. Mas os que o fizerem certamente
mostrarão de imediato um grande entusiasmo por uma personagem que não deixa
indiferente quem conhece minimamente o que foi a sua vida e a importância que
teve em múltiplos aspectos da nossa História.
Esse grande interesse foi
claramente visível num colóquio organizado pelo Tribunal da Relação de Coimbra,
no âmbito das comemorações do centésimo aniversário da sua criação.
Surpreendentemente, o magnífico salão do Tribunal da Relação esteve cheio desde
as dez da manhã até meio da tarde, para ouvir os palestrantes convidados, pelo
que é da mais elementar justiça felicitar vivamente o juiz presidente do
Tribunal da Relação Dr. Luís Azevedo Mendes pelo sucesso de mais esta
iniciativa. O sucesso foi muito para além do elevado nº de pessoas que se
deslocaram ao Palácio da Rua da Sofia, dada a qualidade e relevância das
apresentações. De salientar que nos claustros do Tribunal está uma
interessantíssima exposição sobre Dom Pedro, que se poderá (e deverá) visitar até
ao fim de Abril.
Coube ao Dr. Luís Azevedo Mendes
demonstrar a importância fundamental das “Ordenações Afonsinas” na História do
Direito em Portugal. O Tenente Coronel-Ferreira Gapo da Brigada de Intervenção
dissertou sobre os Valores Militares nos dias de hoje em comparação com os do
tempo do Duque de Coimbra e de como este os assumiu em alto grau toda a vida,
razão para que seja o Patrono da Brigada de Intervenção. O Doutor José Adelino
Maltês não deixou os créditos por mãos alheias e foi brilhantíssimo na sua
apresentação; Adoptando deliberadamente um tom provocatório, mostrou como D.
Pedro foi e é importante em áreas tão diversas como a teoria política, as áreas
sociais e a História do Direito em Portugal. O seu entusiasmo mostrou como a
figura do Duque de Coimbra lhe é cara, a diversos níveis, não deixando de
sustentar como a sua regência foi um tempo de República com Monarca, como aliás
já havia sucedido na subida ao trono de D. João I e haveria de acontecer em
1640, razão por que a Democracia tem profundas raízes em Portugal, ao contrário
do que muitos julgam. O Doutor Andrade Moniz analisou aprofundadamente a
influência das Culturas Clássica e Bíblica em D. Pedro, designadamente na sua
“Virtuosa Benfeitoria”, obra seminal da actuação política com total respeito
pelo Bem-Comum que, digo eu, os dirigentes políticos dos nossos dias bem
poderiam ler para terem um pouco mais de densidade na sua acção. O Doutor
Alfredo Pinheiro Marques brindou-nos com uma comunicação que seria sobre a
influência de Dom Pedro na História Local e Regional da Beira Litoral e no
Desenvolvimento Marítimo Português; na realidade, partiu da abordagem desses
temas para uma visão alargada dos Descobrimentos, de como se deverão ter
realizado na prática, assim como do papel determinante que neles teve D. Pedro
e a sua influência em D. João II, o Príncipe Perfeito. Não esqueceu ainda o
papel dos historiadores na busca da Verdade libertadora.
Coube ao Almirante Silva Ribeiro
apresentar a sua visão sobre a “Estratégia Nacional no tempo de D. Pedro”, o
que fez com a sua proverbial simpatia, mas com uma profundidade de
conhecimentos sobre a matéria só possível em alguém que, não por acaso, ocupa o
mais alto posto militar das Forças Armadas portuguesas, com a curiosidade de o
Sr. Almirante ter feito parte dos seus estudos liceais em Coimbra, no Liceu D.
João III. Oportunidade rara proporcionada pela Relação de Coimbra para ouvir um
especialista falar sobre estratégia e deixar em todos os assistentes a vontade
de conhecer ainda mais e melhor aquele tempo e as relações político-militares de
Portugal com o resto do mundo de então,
Esta crónica tem como motivo
principal uma acção cultural ocorrida na nossa cidade sobre Dom Pedro, Duque de
Coimbra, não sendo sobre a sua figura. Não posso, contudo, deixar de dizer que
Dom Pedro é uma personagem fascinante da nossa História que a Cidade não pode
esquecer, muito antes pelo contrário deve recordar e celebrar como sendo mesmo
identitária, pese embora todos os esforços que alguns historiadores ao longo dos
tempos têm feito para o esconder. Foi também por essa razão que muitos dos assistentes
ao Colóquio estranharam que não tivessem estado presentes representantes da
Câmara Municipal de Coimbra nem da Universidade de Coimbra, embora o presidente
da Câmara da Figueira da Foz e presidente da CIM Coimbra o tivesse feito. Será
que a sombra negra de Alfarrobeira ainda se fará sentir no nosso tempo?
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 25 de Fevereiro de 2019