A edição europeia da revista TIME publicou há poucas semanas um trabalho exaustivo sobre os graves problemas da juventude britânica dos dias de hoje.
Esses problemas, que assumem um carácter epidémico, manifestam-se de várias formas, destacando-se o crime violento, gravidez adolescente, alcoolismo acentuado e abuso de drogas.
As razões apresentadas para a actual situação prendem-se com:
– Falta de acompanhamento, e mesmo de afecto, por parte dos pais;
– Falta de mobilidade social;
– Sistema educativo que beneficia os privilegiados;
– Mudanças sociais abruptas que proporcionaram uma descida do número de casamentos e que levaram a que os pais disponham de pouco tempo para acompanhar os filhos.
Em Portugal, discute-se hoje em dia a violência nas escolas, havendo pouca preocupação com a situação da juventude em geral. É claro que a problemática da juventude britânica ainda não é reproduzida na sociedade portuguesa. Mas, se virmos bem, a situação está a mudar, e convinha olharmos bem para as alterações profundas e muito rápidas que se verificam entre nós.
De facto, as razões que levaram à actual situação na Grã-Bretanha estão também a acumular-se entre nós: os pais cada vez acompanham menos os filhos desde tenra idade, acabando estes por socializar apenas com elementos da mesma faixa etária; a cada vez maior diferença entre os rendimentos das diferentes classes sociais ajuda a uma maior estratificação social; a crise grave do sistema educativo público beneficia claramente os filhos das classes com mais recursos financeiros; a diminuição acentuada do número de casamentos e o aumento de divórcios conjugam-se para diminuir a estabilidade familiar, o que tem consequências na formação da personalidade dos filhos.
Esta conjugação complexa de factores permite concluir que o vírus poderá já estar inoculado na nossa sociedade.
Na realidade, temos hoje um consumo claramente excessivo de álcool por parte dos jovens (mais de 30% consomem demais entre os 13 e os 17 anos). A promiscuidade é também um facto, com os jovens a iniciar a actividade sexual, muitas vezes desprotegida, cada vez mais novos. A cultura individualista alastra a olhos vistos, potenciada pelos altos níveis de desemprego e grande competitividade profissional.
Como sempre, é muito melhor prevenir do que remediar. Trata-se de uma área em que as próprias Cidades deverão passar a ter um papel importante na prevenção, porque, para além de se acudir às situações de risco iminente, está praticamente ainda tudo por fazer.
Com vista à sua própria sustentabilidade, a sociedade tem que promover atitudes de afecto pelos seus jovens e acompanhá-los no desenvolvimento das suas capacidades e ambições.
Publicado no Diário de Coimbra em 14 de Abril de 2008
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