Ainda mais que a política interna dos países, a cena política internacional encontra-se cheia de situações de incongruência e frequentemente da maior hipocrisia.
Ingrid Betancourt é uma senadora colombiana, de origem francesa, que foi raptada em Fevereiro de 2002 pelas auto intituladas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que a mantêm em cativeiro na floresta desde essa altura.
Quando foi raptada, Ingrid Betancourt era candidata às eleições presidenciais da Colômbia. De acordo com testemunhos de outros reféns entretanto libertados, Ingrid Betancourt permanece presa com correntes metálicas ou atada a uma árvore durante a maior parte do tempo. É fácil de imaginar o estado de saúde de uma mulher retida na floresta nestas condições, contra a sua vontade e sem acesso aos medicamentos necessários.
O rapto não tem qualquer justificação, a não ser o valor de Ingrid para uma eventual troca por membros das FARC feitos prisioneiros pelas autoridades colombianas.
As FARC constituem um caso interessante na cena internacional. Foram constituídas em 1964 na sequência de um daqueles casos de injustiça frequentes na América Central, sendo um movimento de esquerda de inspiração marxista.
Esta força paramilitar terrorista utiliza essencialmente dois métodos para se financiar e continuar na senda da instituição do socialismo revolucionário na Colômbia: em primeiro lugar, através do negócio da coca, para produção de cocaína que, como se sabe, é plantada em larga escala nas florestas colombianas – negócio esse bastante rentável embora absolutamente desprezível e condenável; a outra fonte de recursos é precisamente o sequestro de pessoas, e sua posterior troca por prisioneiros ou dinheiro, dispondo as FARC permanentemente de várias centenas de pessoas nessas condições, o que é igualmente demonstrativo do carácter daquela gente.
Curiosamente, ou talvez não, as FARC são desculpadas e até muito bem toleradas em certos meios europeus. É conhecida a sua presença nos festivais do Avante até há poucos anos. Por outro lado, é frequente encontrar entre nós articulistas que culpam o governo colombiano pela situação de Ingrid Betancourt.
A França, dado que Ingrid Betancourt possui também nacionalidade francesa, tem feito todos os esforços para providenciar apoio médico à prisioneira, até agora sem resultados.
Espera-se que esta situação seja rapidamente ultrapassada, antes que a prisioneira, que não tem qualquer culpa pelo sucedido, seja mais um vítima mortal dos movimentos terroristas que pululam pelo mundo em nome de uma utopia que já provou ser a mais sanguinária da História.
Publicado no Diário de Coimbra em 21 de Abril de 2008
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