segunda-feira, 13 de abril de 2020

O TEMPO DA CIÊNCIA


Uma pandemia trazida subitamente por um agente ainda desconhecido provoca, como temos visto, uma fuga ao contágio para evitar uma utilização dos sistemas de saúde para além do suportável o que arrasta consigo consequências sociais e económicas desastrosas que demorarão tempo a ultrapassar e recuperar.
O peso desta envolvente sanitária, social e económica é de tal ordem que, por vezes, nos faz esquecer o mais importante de tudo: encontrar soluções médicas para conseguir parar a pandemia e, fundamentalmente, para evitar que volte em vagas sucessivas. E o esforço que se está a levar a cabo em todo o mundo para conseguir esses objectivos é notável e, provavelmente, nunca antes foi visto a esta escala.
Para além das discussões científicas sobre o grau de imunidade que a actual pandemia, só por si, poderá introduzir na população mundial, há que produzir uma vacina que seja eficaz e se possa distribuir rapidamente pelo mundo inteiro. Já todos percebemos que o vírus vai sofrendo mutações e que, por isso, o ideal será que a vacina preveja essa situação e seja eficaz em futuras e previsíveis epidemias.
O esforço de investigação científica, a contra relógio, é absolutamente notável e mostra que, apesar de todos os seus problemas, a Humanidade é ainda e sempre, capaz do melhor.
De acordo com a revista científica Nature em todo o mundo haverá 115 vacinas candidatas para a doença COVID-19, em fases diferentes de desenvolvimento, estando 5 já em fase de ensaios clínicos. É sabido que as vacinas demoram normalmente anos a desenvolver desde as fases iniciais até estarem prontas para utilização segura e eficaz. A vacina contra o Ébola, por exemplo, demorou 5 anos a ser desenvolvida e ainda não há vacina contra o AIDS ao fim destes anos todos de investigação e enormes somas de dinheiro gastas. Recorde-se que o novo coronavírus foi detectado em Dezembro, na China, onde começou a pandemia, há escassos 4 meses. A actual tecnologia permitiu que, logo nos primeiros dias de Janeiro fosse publicada nos Estados Unidos a sequência genética do coronavírus SARS-CoV-2, passo essencial para o desenvolvimento da vacina. De acordo com a revista Nature, numerosos laboratórios por todo o mundo estão a utilizar diversos métodos já licenciados para produzir vacinas que pretendem, fundamentalmente, levar os organismos humanos a desenvolver anticorpos que neutralizem a capacidade do vírus de entrar nas células humanas.
Mas há também quem esteja a tentar obter a vacina por métodos completamente inovadores, utilizando técnicas de vanguarda inacessíveis até há pouco tempo. Na última edição do jornal Expresso explicava-se o que se está a fazer num laboratório da Universidade de Washington, desenvolvendo uma vacina diferente das habituais, através do uso de ADN e ARN que leve o organismo a «produzir uma proteína viral capaz de resposta imunitária» exigindo uma única injecção, ministrada também por um método inovador.
Todo este esforço pelo mundo inteiro significa investimentos extremamente avultados, quer por parte de Estados, quer por empresas privadas, prevendo-se que a primeira vacina possa estar pronta a ser utilizada nos primeiros meses de 2021.
Enquanto tantos tentam passar mensagens negativas sobre a pandemia difundindo teses catastrofistas de vingança da Terra sobre o Homem, de o vírus ser uma arma de guerra biológica, ou uma espécie de castigo divino, etc. que não trazem nada de construtivo, governantes e cientistas de todo o mundo dedicam grande parte do seu esforço a encontrar soluções para o problema. Ao longo da História houve muitas pandemias em que desapareceram milhões de mortos. Para falar das mais recentes, há cem anos mais de 500 milhões de pessoas adoeceram com a «gripe espanhola», tendo morrido cerca de 100 milhões, a gripe asiática de 1957/58 provocou mais de um milhão de mortes e a SIDA desde que surgiu nos anos 80 já levou mais de três dezenas de milhões de pessoas.
Talvez com estas memórias presentes, o esforço a que diariamente assistimos é enorme e é isso que verdadeiramente importa: perante uma ameaça global, a Humanidade, embora certamente com erros, arregaça as mangas e luta com todas as forças para lhe fazer frente e salvar o maior número de pessoas.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Abril de 2020

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