Em 2017, o PIB cresceu 2,7%, em Portugal, que é o seu
valor mais alto desde há mais de quinze anos. Trata-se de um crescimento acima
da média europeia, que cresceu 2,6%, em termos homólogos, o que significa que no
ano passado Portugal convergiu ligeiramente com a Europa, o que já não
acontecia há muitos anos. O Governo, sem surpresa, festejou este facto, que
todos os portugueses devem reconhecer como positivo para o país. Claro que, tal
como o copo de bom vinho que se serve a um convidado, que está meio cheio ou
meio vazio conforme a perspectiva, também um valor de crescimento do PIB surge
diferente conforme o ponto de vista de que se observa.
O valor de um índice económico, qualquer que ele
seja, tem pouco significado se não for observado sob duas ópticas: primeiro,
como é que ele se situa na série de valores, isto é, como se comportou nos anos
anteriores e ainda o que se prevê para os seguintes; depois, tem que ser
relacionado com os vizinhos, ainda mais quando um país está inserido numa
comunidade internacional e não interage no contexto internacional de forma
autónoma em vários aspectos incluindo o económico.
Sob o ponto de vista temporal, verifica-se que,
depois da queda abrupta que acompanhou a tragédia da entrega da nossa soberania
à troika em 2011, o PIB alcançou um mínimo de -4,03% no seu pico mais baixo em
2012 e começou depois a crescer, sendo já positivo em 2014 (0,89%) e de 1,82%
em 2015. Em 2016 desceu um pouco para 1,54% e, como vimos, em 2017 retomou a
variação crescente, para 2,7%. Isto é, se não tivesse havido aquele tropeção de
2016 coincidente com o início do actual governo, nada impede que se considere
que o crescimento em 2017 pudesse e devesse ter sido, no mínimo, de 2,90%, pelo
que a festa do valor alcançado parece um pouco despropositada quando se vê a
variação ao longo dos últimos anos. No que toca ao futuro próximo, as previsões
da Comissão Europeia para o ano corrente e, claro, previsões são previsões, já
se sabe, indicam para Portugal um abrandamento no crescimento, para um valor de
2,2% do PIB. O sol da convergência com a Europa terá sido, assim, de pouca
duração, regressando-se à nefasta e infelizmente habitual divergência que nos
vai atirando para os lugares inferiores dos países da União Europeia.
E como se portaram as economias dos nossos parceiros da União Europeia,
para não ir mais longe, até porque as nossas trocas comerciais são aqui
maioritariamente feitas? A zona euro, em que estamos integrados, cresceu em
média o mesmo que Portugal, isto é, 2,7%, enquanto a média do crescimento
europeu englobando os 28 países (euro e não euro) foi de 2,6%.
Dos 28 Estados-membros da EU, 19 cresceram mais do
que Portugal, e só 7 cresceram menos do que nós. Acontece, no entanto, que
entre os países que cresceram menos do que Portugal estão as maiores economias
europeias, casos da Alemanha, França, Itália e Reino Unido que puxaram a média
para baixo, colocando-nos relativamente mais acima. Por exemplo, a Alemanha que
possui a economia mais forte da EU, cresceu 2,2% em 2017, o seu maior valor
desde 2011 mas esse crescimento foi acompanhado de um excedente orçamental de
quase 37 mil milhões de euros, agravando os problemas orçamentais dos países
que, como Portugal, têm elevadas dívida sendo essa, contudo, conta de outro
rosário bem mais complexo do que o abordado nesta crónica: crescimento
económico em 2017. Aqui mesmo ao lado, a Espanha que é o nosso principal
parceiro comercial cresceu 3,1% em 2017 e não canta de galo, apenas porque
desde a saída da última crise em 2014, cresceu 3,4% em 2105 e 3,3% em 2016.
O nosso crescimento económico, muito sustentado nas
políticas financeiras do BCE que deverão mudar a curto prazo e ainda no turismo
que tem beneficiado de factores internos como o crescimento exponencial do
alojamento local, mas também de problemas de outros países que têm visto o seu
turismo a diminuir, terá atingido um pico em 2017. Sem alterações profundas na
nossa organização económica, no sentido de aumentar a competitividade e a
capacidade de atracção de investimento externo, dificilmente regressaremos à
convergência e é nesse patamar e não noutro qualquer que temos de nos colocar
de forma sustentada. Só assim a dívida se poderia tornar mais inofensiva, por
diminuição radical em função do PIB, mas também se tornaria possível tornar
sustentável o nosso Estado Social, incluindo o SNS que de forma assustadora todos
percebemos estar neste momento num ponto de desequilíbrio orçamental de extrema
gravidade, o que se reflecte principalmente nos serviços prestados aos mais
desfavorecidos.
Publicado no Diário de Coimbra em 26 de Fevereiro de 2018