A saída do Dr. Carlos Encarnação de Presidente da Câmara Municipal de Coimbra está a proporcionar momentos de vendetta política de quem nunca foi capaz de o defrontar politicamente com sucesso e a mostrar imensa falta de carácter de muita gente. Pessoas para quem na vida só interessa o “rei morto, rei posto”.
Entendamo-nos. A discordância sobre atitudes que possam provocar situações de orfandade política é uma coisa. Outra coisa, completamente diferente é promover ataques políticos e pessoais sem fundamento e desfazer injustamente numa obra sólida de nove anos. Nem o Dr. Carlos Encarnação o merece, nem Coimbra tão pouco.
A memória é muitas vezes curta e outras vezes selectiva. Recordo que em 2000 o Concelho de Coimbra era, em todo o Distrito, aquele que passava pela vergonha de ser o que tinha menor superfície de piscina para prática de natação por habitante. E as poucas piscinas que existiam na altura não tinham quaisquer condições de segurança. Será preciso enunciar os excelentes equipamentos de que Coimbra dispõe hoje nessa área e que começam já a dar os seus frutos na preparação de atletas? A existência e utilização do pavilhão multidesportos passa assim tão despercebida que ninguém dê por ele? O facto de o edifício do Estádio Cidade de Coimbra ser o único municipal do Euro 2004 com utilização total não diz nada a ninguém? Nem o facto de tal situação não se traduzir em quaisquer custos para os cofres municipais? Os edifícios de novas sedes de Juntas de Freguesia são transparentes? E as creches construídas e as escolas básicas recuperadas? Também não se vêem? Ninguém passa na circular externa? A obra do Convento de S. Francisco não está finalmente a decorrer, depois de anos de impedimento pela Administração Central? O Coimbra i Parque não tem a sua primeira fase construída? Não se esqueça também o trabalho que não se vê nas infra-estruturas, por estarem enterradas; Coimbra tem hoje uma cobertura de abastecimento de água de praticamente 100% e uma das mais altas taxas de saneamento básico do País: será isso por acaso? A Alta de Coimbra começa a ser outra com elevado número de edifícios habitacionais recuperados e uma Casa da Escrita exemplar. Recordo ainda a Orquestra Clássica do Centro que na sua área proporciona cultura a um nível profissional como nunca antes foi possível em Coimbra, fazendo-o não só em Coimbra, mas em toda a Zona Centro.
Agora quanto ao motivo principal e imediato apontado pelo Dr. Encarnação para se sentir farto: o processo do Metro Mondego. Não deverá haver nenhum conimbricense que, ainda que no íntimo, não lhe dê inteira razão. O Dr. Carlos Encarnação lutou pelo Metro Mondego como ninguém. Forçou a realização das demolições na Baixa para criar condições para que a sua travessia seja possível, sendo esta passagem na Baixa crucial para melhorar as acessibilidades de quem queira aqui viver e trabalhar no comércio de forma sustentável, possibilitando enfim a sua reabilitação. Recordo algo que muita gente hoje faz por esquecer ou omitir neste processo lamentável. Em 2005 houve um concurso internacional para concepção, construção e exploração do Metro Mondego na sequência do qual, caso tivesse avançado, já teríamos hoje metro em Coimbra, em Miranda do Corvo e na Lousã. Só não avançou porque o Autarca da Lousã se recusou a assiná-lo, por prever a possibilidade de transporte em autocarros no curto troço entre a Lousã e Serpins, cuja exploração ferroviária é completamente insustentável. Face ao que se passa hoje, é quase uma piada de mau gosto.
Por tudo isto e muito mais que aqui não cabe, como a ligação estratégica entre o Município e a Universidade que finalmente deixaram de estar de costas voltadas, apetece-me dizer: poupem-nos, por favor, façam política, mas respeitem as pessoas e saibam separar as situações.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Dezembro de 2010