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quinta-feira, 9 de agosto de 2012
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
“O que interessa é Portugal”
Sá Carneiro foi um político que viveu pouco mas muito depressa. Enfrentou muitas críticas, ataques e mesmo traições; fora e dentro do seu partido. Acreditava no que fazia e assumia por inteiro as consequências dos seus actos quer na vida privada, quer na vida pública. Hoje em dia, é referido a propósito de tudo e mais alguma coisa, mesmo por muitos que durante a sua vida estiveram contra ele, do que nem vem grande mal ao mundo, já que todos devemos aprender com os erros.
Sá Carneiro foi muitas vezes atacado no partido por ter razão antes do tempo, por não se vergar ao peso ideológico dos militares do MFA e por falta de compreensão dos seus objectivos estratégicos que, para ele, eram os do país devendo o partido fazer parte da solução e não do problema. Muitas vezes os companheiros o acusaram de ter um programa “liberal” e não verdadeiramente social democrata, quando ele sabia bem que, para distribuir, é preciso produzir primeiro: sem se produzir, não há distribuição nenhuma, seja com justiça, seja sem ela. Por tudo isso, Sá Carneiro dizia sempre que primeiro Portugal, depois a Democracia e só depois o PSD.
Esclareço desde já que, sendo social-democrata há muitos anos, nunca fui sá-carneirista, nem cavaquista e nem serei certamente passista se tal classificação vier a existir. Prezo demasiado a independência e a liberdade de pensar pela própria cabeça, consciente dos males do seguidismo acéfalo e de que ninguém é perfeito, muito menos na governação de um país, devendo a crítica justa e oportuna ser sempre feita.
Nas últimas semanas li e ouvi com espanto algumas críticas ao actual primeiro-ministro que me fizeram recordar o que acima escrevi. De facto, numa reunião partidária Passos Coelho afirmou: “Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal”.
Escândalo à esquerda e à direita. Para uns, o primeiro-ministro não quer saber do julgamento popular, mandando a democracia às urtigas. Para outros, afinal também ele acha que para se governar como deve ser, será necessário suspender a democracia por uns tempos. Claro que todos transcrevem só a primeira parte do que foi dito, “esquecendo” a referência a Portugal, que explica claramente a primeira parte da frase.
Quando Passos Coelho avisa o partido olhos nos olhos de que vai fazer o que é necessário para recuperar o país, mesmo que com isso venha a perder as eleições, aqui d’el rei que não é democrata. Como se democracia fosse governar permanentemente para sondagens, ainda que à custa da hipoteca de um país inteiro. Como se não nos lembrássemos todos do que foram os últimos seis anos de governação até se acabar por chamar a Troika quando já não havia dinheiro para pagar o ordenado do mês seguinte aos funcionários públicos. Como se a Troika não tivesse sido chamada pelo governo socialista que aqui nos trouxe. Como se o acordo para três anos e não quatro não tivesse sido negociado por esse governo. Como se ainda há um ano não andássemos todos a discutir as vantagens do TGV, do novo aeroporto de Lisboa e da terceira auto-estrada paralela à costa. Como se as PPP ainda não fossem então a grande solução para o desenvolvimento e não tivessem sido renegociadas passando para o Estado todo o risco, ficando os concessionários privados com as rendas brutais garantidas. Como se então não nos continuássemos a afundar com as eólicas a preço de ouro. Como se nas eleições de 2009, mergulhados no fundo da crise, não tivesse havido aquele aumento aos funcionários públicos. Como se não soubéssemos todos de ciência feita, o resultado de governar a fugir para a frente e a prometer sempre mais e mais para permanecer em cima nas sondagens, enfiando o país no buraco profundo em que nos encontramos e de que tentamos sair, mas a que custo!
Se um primeiro-ministro assume hoje de novo a posição corajosa e patriótica de dizer aos militantes do seu partido que em primeiro lugar está o país e não está disponível para facilitismos eleitoralistas ainda que venha a perder as eleições, tenhamos ao menos a honestidade de assumir a discordância de opções, mas não de fazer política a enganar mais uma vez os portugueses, desta vez com jogos de palavras. O momento é demasiado grave para muitos portugueses que sofrem, para que o puro cabotinismo de políticos e comentadores venha distorcer a realidade que já por si é suficientemente acabrunhante.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Agosto de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Política por profissionais?
A crescente “profissionalização” da política tem trazido alguns aspectos ao regime democrático que merecem ser conhecidos e discutidos por toda a população, mesmo aquela que não milita nos partidos políticos. Até para melhor se compreender boa parte dos métodos de decisão política aos mais diversos níveis.
Os partidos políticos evoluíram nos últimos anos para máquinas de ganhar eleições, ultrapassando a ideia original e algo romântica de associações de cidadãos livres que se juntam de forma generosa para fazer prevalecer uma determinada maneira de construir o futuro de um país. Depois do período inicial da Democracia, muitos daqueles que a certa altura começaram a chegar aos cargos partidários de topo fizeram-no pela subida nos escalões organizativos dos partidos, geralmente desde as juventudes partidárias. São os chamados políticos profissionais que, na realidade, nunca viveram fora da política e nunca se afirmaram social e profissionalmente de outra forma. Têm características próprias, desenvolveram mesmo algumas capacidades especiais, umas boas e outras não tanto, mas é frequente mostrarem algum complexo perante quem não seguiu esse caminho e fez uma vida digamos, mais vulgar, designadamente no percurso académico. Complexos esses muito visíveis nos últimos anos, os quais não fazem aliás qualquer sentido e só são compreensíveis num meio tacanho como o nosso que ainda privilegia a doutorice, ao contrário de muitas sociedade mais desenvolvidas. O que é certo é que os políticos profissionais são mais eficazes em termos de execução de políticas e reformas no imediato, mas a ligação destas à realidade falha muitas vezes o que as coloca mesmo em causa a médio e longo prazo.
Lá para o Outono do próximo ano haverá eleições autárquicas. É pois natural que os partidos se afadiguem em encontrar as soluções que melhores resultados lhes trarão nessas eleições. Seria normal pensar-se que os responsáveis políticos concelhios se colocassem em campo para encontrar quem, na sua área política, tenha capacidade para gerir e desenvolver estratégias de mudança e de futuro para os seus municípios.
O leitor sente que algo disto se passa? Penso que muito dificilmente. O que vai correndo do interior dos partidos para a comunicação social são sondagens ao eleitorado em que lhes são propostas listas de nomes para detectar quem será mais capaz de colher as simpatias do eleitorado para ganhar as eleições. De fora ficam todas as considerações sobre que futuro se quer, sobre capacidade de liderar equipas, sobre capacidade de elaborar programas e realizá-los, sobre a capacidade de dizer não às máquinas partidárias quando for preciso. O que interessa verdadeiramente é encontrar um nome que seja simpático ao eleitorado, seja por que motivo for. O resto não interessa por ser tido como fantasia de quem não anda pela realidade. Por alguma razão os partidos preferem fazer isto a organizar verdadeiras “primárias” onde os mais capazes e independentes poderiam sobressair perante as máquinas partidárias.
Na verdade, quanto mais profissional, menos política é a política. Na década de setenta do século passado, os portugueses foram inundados de política até à náusea. Talvez por isso uma tecnocracia disfarçada de política foi tomando lugar em grande parte do aparelho do Estado, abrindo portas a uma tomada do mesmo por parte dos mais variados e desenfreados interesses. As consequências deste tipo de acção partidária “profissionalizada” e desideologizada têm-se visto pelos seus frutos pelo país fora, não necessitando de qualquer demonstração, sendo muitas vezes os próprios partidos os primeiros a arrepender-se das escolhas assim feitas.
Os partidos são essenciais à Democracia. Mas também podem ser o seu coveiro. A política deve ser uma actividade nobre e sobrepor-se aos interesses económicos financeiros e outros que têm o seu lugar, mas para isso tem que ser exercida por quem é verdadeiramente político, isto é, quem sabe em cada momento onde está o bem comum e cuida dele, custe o que custar.
domingo, 29 de julho de 2012
O fundamental
Sá Carneiro: Primeiro Portugal, depois a democracia, só depois o Partido.
Passos Coelho: Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal.
Credo, que escândalo!
Passos Coelho: Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal.
Credo, que escândalo!
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Banca: acima de tudo o resto?
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Partículas de Deus
Há cerca de quinze dias uma notícia invadiu os meios de comunicação social, baralhando as pessoas pela sua linguagem algo esotérica e surpreendendo muitas outras pelo significado da descoberta que anunciava.
O que deu origem à notícia foi um simples comunicado emitido em 4 de Julho de 2012 pelos responsáveis do CERN que dizia o seguinte: “obervamos nos nossos dados sinais claros de uma nova partícula no nível 5 sigma, na região de massa 126 GeV”.
Já as notícias que nos chegavam por todos os meios informavam que tinha sido descoberta a partícula da Deus. Nem mais!
Como leigo na matéria, mas não gostando de andar por aí às cegas, cedo percebi a importância da descoberta que justifica os milhões gastos no gigantesco LHC (Grande Colisionador de Hadrões), o maior e com mais energia acelerador de partículas do mundo, construído na zona fronteiriça entre a França e a Suíça, onde trabalham mais de 3.000 pessoas.
A chamada “partícula de Deus” é tão de Deus como todas as outras partículas, até porque só por si não explica a própria criação. É o chamado bosão de Higgs, assim designado pelos cientistas porque a sua existência foi prevista pelo físico teórico Peter Higgs há mais de 50 anos. A formalização da necessidade da sua existência decorre do Modelo Padrão de partículas que estaria errado se o bosão de Higgs não existisse, já que seria precisamente essa partícula que daria coerência ao Modelo, “entregando” matéria às outras partículas. Esta era a única das 61 partículas elementares do Modelo Padrão ainda por encontrar experimentalmente.
É a teoria do Big Bang que ganha credibilidade, já que, logo após se ter verificado, algo “agarrou” parte da energia, atrasando a sua libertação e permitindo assim a sua transformação em matéria que, pela sua futura organização viria a dar origem às estrelas, aos planetas e a tudo que nos rodeia hoje, incluindo a vida. Esse “algo” é o campo de Higgs, formado pelos bosões com o mesmo nome.Torna-se assim evidente o extremo interesse da descoberta. Claro que o comunicado do CERN, na sua estranha linguagem não confirma a descoberta em absoluto, querendo o “nível 5 sigma” dizer apenas que a probabilidade de o bosão de Higgs ter sido detectado é de cerca de 99,9999% e a “região de massa 126 GeV” que a sua massa modelo padrão é de 126 mil milhões de electrões-volt, dentro da gama de valores esperados. Na prática, foi mesmo encontrado.
Esta descoberta permite que a ciência, em particular a física, continue no caminho que tem vindo a trilhar de melhor conhecimento do universo, desde o infinitamente grande ao infinitamente pequeno, já que “as peças” se vão todas encaixando umas nas outras de forma coerente, mesmo quando a teoria tem que esperar dezenas de anos pela sua comprovação experimental. Mostra ainda como a cooperação internacional pode ser bem sucedida quando levada a sério, ainda que fora das grandes parangonas dos jornais que frequentemente, mais não fazem que desvirtuar o significado profundo da actividade humana, ao inventarem cabeçalhos espectaculares como “foi descoberta a partícula de Deus”.
Mas não se pense que a investigação da Física termina aqui. O que falta conhecer é muito mais do que aquilo que hoje se conhece, o que aliás torna a designação “partícula de Deus” apenas ridícula. Segundo alguns, a matéria que corresponde ao “modelo padrão” agora completado será apenas 4% de todo o Universo. Cerca de 75% correspondem ao que ainda hoje se designa por “energia negra” e quase 22% restantes correspondem a algo que apenas a gravidade poderá ajudar a detectar, mas que tem força suficiente para parar a rotação de galáxias inteiras.
O que foi anunciado a 4 de Julho de 2012 terá, no entanto, um lugar muito mais importante na História da Humanidade do que tudo o que aparece hoje nos nossos jornais e nas televisões do mundo inteiro, disso o leitor pode ter a certeza.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 16 de Julho de 2012
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Mudar o mundo
Mudam-se os Tempos,
Mudam-se as Vontades
Mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Peço que me perdoem o atrevimento de começar a minha singela crónica desta
semana citando o nosso maior poeta, mas às vezes sabe bem voltar à simplicidade
do génio.
Há poucos dias, um amigo cá da nossa Cidade que não tem nada a provar na
vida quer pessoal, quer profissionalmente porque transformou uma pequena
empresa de Coimbra num conglomerado que actua em vários países da Europa, na
Ásia e na América dizia-me, a propósito destas minha pequenas e despretensiosas
crónicas semanais, que eu não desistia de querer mudar o mundo. Agradeci a
amizade mas neguei qualquer propósito meu nesse sentido. No entanto, aquela
frase fez-me pensar. O leitor não sabe, mas esta é a minha crónica semanal nº
347 publicada no Diário de Coimbra. Em 347 semanas vivemos 58.246 horas isto é,
3.497.760 minutos. Não é inocentemente que refiro o nº de minutos e não o nº de
anos decorridos. É que se vivemos de facto, sem meramente deixar passar o
tempo, vivemos aquele número gigantesco de minutos e todos sabemos como às
vezes um simples minuto demora a passar. Tempo suficiente para ver partir
pessoas queridas que em nós deixam feridas que nunca sararão, tempo para ver
filhos voar para as suas vidas próprias, tempo para ver netos a encher-nos o
coração, tempo para ver aquelas linhas do monitor ao lado da cama do hospital a
ficarem horizontais e ter a graça de acordar com vontade de viver plenamente e
agarrar de novo o futuro nas mãos, custe o que custar.
Fui reler a minha primeira crónica desta série e lá encontrei alguma
ingenuidade, mas também as linhas fundamentais do que tenho escrito desde
então: nunca atacar ninguém em concreto, criticar situações e propor soluções.
Também lá citei alguém que nos ensina que não devemos ser optimistas nem
pessimistas e sim optimizadores: isto não é um mero jogo de palavras e sim todo
um programa de acção e corresponde àquilo que tenho tentado fazer.
De novo digo: não tento mudar o mundo, embora às vezes apeteça. Quem muda o
mundo, para além das guerras e revoluções que se sabe como começam mas não como
acabam, são os artistas, os cientistas e todos os anónimos que deixam o mundo
um pouco melhor do que o encontraram. Como pessoa comum, tento apenas dar o meu
melhor, participar em reformas necessárias e ser cidadão a tempo inteiro,
tentando perceber o mundo e lembrando-me de Álvaro de Campos quando escrevia
que “o Teorema do Binómio é tão belo como a Vénus de Milo, o que há pouca gente
para dar por isso”.
Esta foi uma crónica diferente do habitual. Mas como costumo afirmar que
aquilo que deixamos por dizer não existe, tenho que agradecer ao Amigo que, com
um simples e simpático comentário, me levou esta semana por territórios que,
sem ele, teriam o destino de não existir.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 9 de Julho de 2012
terça-feira, 3 de julho de 2012
segunda-feira, 2 de julho de 2012
COIMBRA, CIDADE COM FUTURO
Foi publicado há poucos dias o resultado de mais um inquérito sobre as
cidades com maior qualidade de vida. Claro que este tipo de inquéritos, feitos
através de perguntas a um reduzido número de moradores de cada uma delas tem um
valor estatístico reduzido, até pela complexidade de análise dos 11 critérios
utilizados, verificando-se pequena variação para o inquérito realizado pela
mesma associação há cinco anos. É provável que o crónico espírito crítico dos
conimbricenses relativamente à sua cidade se reflicta também nestes resultados,
ao contrário de outras cidades em que os seus moradores são genericamente
benevolentes relativamente às suas falhas. Curiosamente, em inquéritos do mesmo
tipo levados a cabo por outros promotores, por exemplo o jornal Expresso, as
cidades que no inquérito da DECO aparecem no final, são nesse caso as primeiras
da lista, casos de Lisboa e Porto. E alguma razão haverá para isso, tendo em
conta a fuga de populações do interior para essas metrópoles, valorizando as
pessoas na prática, a maior possibilidade de ter emprego relativamente a
poderem dormir de janelas abertas. Já a nossa cidade, Coimbra, mantém-se
sensivelmente na mesma classificação relativamente há cinco anos, semelhante
aliás, à anterior classificação do Expresso, isto é, sempre no terço superior
do conjunto.
As muitas vantagens comparativas de Coimbra são históricas e bem
conhecidas, não sendo necessário sequer referir as que advêm da localização
central no país e boas ligações ao litoral e a Norte e a Sul, o que não se
verifica, infelizmente em relação ao interior. As áreas da saúde e do ensino
superior são, desde há muito, aquelas que colocam Coimbra na frente de todos os
rankings. Outras há em que a potencialidade é enorme, mas exigem capacidade de
iniciativa e de conjugação de esforços da parte dos decisores públicos na
Cidade, para que passem a ser realidade concreta.
A indústria tradicional de Coimbra foi-se há muito, estando agora a ser
substituída por novas actividades de ponta, da área da tenologia intimamente
ligada à investigação científica; a mão de obra barata dos operários é agora
substituída pelos programadores e investigadores, com grandes repercussões
sociais e económicas. Mesmo a área industrial de fabrico de medicamentos é
paulatinamente substituída pela produção de processos de fabrico, vendidos com
grande valor acrescentado em todas as partes do mundo.
O património histórico de Coimbra é riquíssimo e conhecido por todo o
mundo. A classificação da Unesco será uma alavanca poderosíssima na atracção de
turismo. O turismo é precisamente uma das áreas económicas que deverá ser
trabalhada a sério por Coimbra e apoiada publicamente, havendo pelo menos duas
vertentes a decidir de imediato: colocar toda gente a trabalhar para o mesmo
lado, acabando com divisões artificiais e estabelecer uma ligação forte com a
cultura. O turismo cultural é hoje uma actividade económica de grande valor a
nível europeu, mas não se compadece com amadorismos nem boas intenções. Tem que
ser olhado como isso mesmo: actividade económica com tudo o que lhe é inerente,
desde o levantamento de oportunidades e estudo exaustivo da procura
internacional com definição do público-alvo, estabelecimento de planos de
negócios, escolha de oferta e montagem do produto, até ao necessário
financiamento. Mas não se pense que esta revolução no turismo de Coimbra se
poderá fazer através de serviços públicos, camarários ou outros, que têm um
orçamento anual para gastar e se esquecem de facturar. Deverão ser apoiados
outros actores, privados ou associativos, com provas dadas na gestão, que sejam
capazes de casar cultura com turismo, já que hoje em dia praticamente ninguém
viaja apenas para ver pedras, por mais bonitas e antigas que elas sejam.
Com muita facilidade Coimbra poderá passar a um patamar superior nesta
área, com grandes vantagens para todos os agentes económicos envolvidos e
consequente subida nos rankings de cidades. Relembro, por exemplo, o que já
aqui escrevi várias vezes: a ligação histórica de Coimbra com a História de
toda a 1ª Dinastia, desde o estabelecimento da primeira capital do Reino até às
cortes de Coimbra que escolheram D. João I, passando pelos amores trágicos de
Inês e Pedro, é um “euromilhões” que aguarda apenas quem jogue nele. Assim haja
vontade e capacidade para ultrapassar atavismos e hábitos bolorentos que tantas
vezes impendem Coimbra de ser ainda melhor.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 2 de Julho de 2012
segunda-feira, 25 de junho de 2012
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