Maria João Sande Lemos, hoje na Visão:
- O que falta à Igreja?
R: Amor. Enquanto Jesus significava amor, solidariedade e compaixão, a Igreja tornou-se seca, árida, quezilenta e sempre contra tudo. É um espaço de exclusão e não de abertura.
Tal e qual. Pelo menos. Além de excluir, persegue muitas vezes, o que ainda é pior.
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Livros escolares
O novo ano escolar está aí à porta. Traz consigo novidades e alegrias para os jovens estudantes, mas também alguns problemas para os pais. A compra dos manuais escolares é sempre um momento difícil, ainda mais em tempos de dificuldades económicas agravadas, este ano alargadas a muitas famílias que não puderam dispor dos subsídios de férias que têm tido a função supletiva de financiar essa despesa familiar. Se para os pais desempregados a situação é genericamente desesperada, para muitos outros pais o mês de Setembro vai ser também muito difícil.
A questão dos manuais escolares tem em Portugal diversas vertentes que não têm sido devidamente equacionadas e muito menos resolvidas.
Começa pela evolução dos livros ao longo das últimas dezenas de anos. O seu tamanho, peso e claro, o seu custo, cresceram de uma forma inacreditável. Mesmo este ano, com taxas de crescimento do PIB bem negativas e em que todas as famílias perdem dinheiro, os editores conseguiram a proeza de aumentar o preço dos livros.
Não me vou alongar pela faceta pedagógica da organização dos conteúdos. Convido apenas os pais a tentarem perceber as mesmas matérias que estudaram no seu tempo. Se conseguirem organizar-se pelos esquemas, citações e distribuição das matérias importantes pelo meio do que é acessório, terão muita sorte. Fica-se com a ideia de que as crianças de hoje terão que ser muito mais inteligentes para obterem bons resultados, porque tudo parece programado para que o estudo seja mais um jogo do que trabalho sério, que obrigatoriamente terá sempre de incluir memorização. Por outro lado, o manual da matéria nunca é suficiente, vindo sempre acompanhado de outros livros de apoio que é necessário comprar, porque funcionam em conjunto com o manual principal.
Os livros escolares são hoje verdadeiramente um luxo e autêntico desperdício, pela quantidade de papel utilizado, pela profusão da utilização de gráficos e fotografias a cores desnecessários e até pela superfície de papel não utilizado.
Acresce que todos os anos mudam, pelo que não se consegue fugir à despesa, ainda que haja irmãos com pouca diferença de idades.
Com tudo isto, o negócio da edição de livros escolares tornou-se uma verdadeira mina de ouro. Claro que o ministério da Educação, com os seus inúmeros serviços centralizadores dominados por teorias pedagógicas falsamente modernas está na base de tudo isto, não se conseguindo fugir à ideia de que foi tomado por dentro pelos interesses das editoras.
Os pais começaram a tentar reagir ao cerco que lhes foi montado, estando a surgir “bancos de livros escolares” um pouco por todo o país. É assim que os jornais noticiaram há poucos dias que “o banco de livros escolares de Coimbra já ajudou 75 famílias”. Perante tudo o que se passa, não é possível deixar de saudar o esforço e vontade de ajudar o próximo em dificuldades. Mas permitam-me: nesta questão dos livros escolares isto não é solução e não se pode ficar por aqui.
O ministério da Educação tem o dever de arrepiar caminho e modificar a estrutura do manual escolar de alto a baixo, em função da aprendizagem, dos interesses dos alunos e economia familiar e não da maximização dos proveitos das editoras, que é o que se passa hoje, ou vamos todos concluir que quem foi eleito para mandar na Educação não quer ou não tem poder para mudar o estado de coisas. Aliás já vai tarde, porque neste ano escolar que agora começa deveriam ter sido dados sinais sérios nesse sentido, até pela emergência social da situação actual.
As escolas também têm responsabilidades nesta área. Em vez de serem os pais a organizar “bancos de livros escolares”, devem elas próprias organizar-se para que os livros utilizados num ano possam ser reutilizados no ano seguinte.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 20 de Agosto de 2012
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Banca, para que te queremos
Passaram agora cinco anos sobre o desastre do Banco Northern Rock. O Freddie Mac e o Fannie Mae foram intervencionados no mês seguinte, em Setembro de 2008, mês que viu igualmente a falência do Lehman Brothers. Vista à distância, causa espanto a absoluta incompreensão do que se passava debaixo da superfície calma da economia, por parte dos responsáveis de então, que em boa parte são ainda hoje os mesmos. A cegueira política, irresponsabilidade ou mesmo incompetência então manifestadas continuam a ser a imagem de marca desta União Europeia a que pertencemos. Nessa altura a U. E. celebrava com o célebre “porreiro, pá” a montanha de inutilidades do chamado Tratado de Lisboa, lembrando o baile do Titanic enquanto afundava. Ainda a semana passada o presidente do BCE Mário Draghi com o nosso bem conhecido Vítor Constâncio ao lado, voltou a usar a técnica do duche gelado depois do banho quente das promessas impossíveis de cumprir; deixou tudo na mesma ou pior, já que condicionou a compra de dívida portuguesa a ainda mais reduções generalizadas de salários, numa nova demonstração grotesca da solução Goldman Sachs para tudo.
A banca espanhola, ainda há pouco tempo apresentada como um caso de sucesso a nível mundial é agora uma dor de cabeça gigantesca. Pelo menos 20% já foi nacionalizada, com alguns exemplos de falta de qualidade de gestão e mesmo de abusos gritantes de utilização indevida de fundos por parte de muitos gestores. O chamado resgate à banca espanhola com fundos europeus está ainda em andamento, prevendo-se que o Estado venha a ficar com uma parcela da banca ainda maior nas suas mãos.
Em Portugal considera-se geralmente que o problema com a banca que se verifica em Espanha, largamente associado à chamada “bolha imobiliária” não tem uma relevância tão grande. Mas as notícias não são animadoras, com reflexos na economia pela falta de financiamento. Nos últimos dias soube-se de alguns projectos gigantescos que foram por água abaixo. Curiosamente, ambos eram considerados PIN, valiam mais de mil milhões de euros cada um e corriam com apoio massivo do Estado: a RPP Solar e o Parque Alqueva. Em ambos os casos os promotores desistiram quando lhes foram pedidos documentos de responsabilidade essenciais ou garantias pessoais, como acontece quando qualquer pessoa vai ao banco pedir dinheiro para investir. Isto é, a banca, neste caso a Caixa Geral de Depósitos, mudou de agulha e resolveu acabar com o amiguismo à custa de todos nós e tratou os projectos privados como devem ser tratados: ou têm viabilidade por si ou não há dinheiro. Tivesse a banca trabalhado assim ao longo dos últimos anos e não estaríamos certamente como estamos em termos de economia.
Assim, temos o Estado a resgatar também os nossos maiores bancos, usando parte do financiamento acordado com a Troika para o efeito. Entre nós o Estado não está a entrar directamente no capital dos bancos, mas a utilizar a figura dos “CoCos” que são obrigações subordinadas convertíveis em capital, caso o banco entre em incumprimento no respectivo pagamento. Só o BPI receberá um financiamento deste tipo no montante de pelo menos 1,3 mil milhões de euros, podendo o valor ser ainda superior. Já o Millennium BCP recebe pelo menos 3 mil milhões de euros em CoCos. Resta dizer que os bancos vão ter que pagar estes montantes em cinco anos, com uma taxa de juro que evolui de 8,5% no primeiro ano até mais de 10% no último ano.
Isto é, se os bancos fecharam a torneira ao financiamento da economia, no que aliás são elogiados pelo próprio Governador do Banco de Portugal, preocupado com a solvabilidade da banca e deixando as outras preocupações para o ministro da Economia, ainda vão ter de arranjar maneira de cumprir o contratado. Deixo as conclusões para o leitor, bem como a adivinha sobre o que acontecerá aos bancos nesta situação dentro de cinco anos. Mas uma coisa é certa: com aquelas taxas de juro, daquele dinheiro não vai passar nem um cêntimo para as empresas ou para as famílias.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Agosto de 2012
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
“O que interessa é Portugal”
Sá Carneiro foi um político que viveu pouco mas muito depressa. Enfrentou muitas críticas, ataques e mesmo traições; fora e dentro do seu partido. Acreditava no que fazia e assumia por inteiro as consequências dos seus actos quer na vida privada, quer na vida pública. Hoje em dia, é referido a propósito de tudo e mais alguma coisa, mesmo por muitos que durante a sua vida estiveram contra ele, do que nem vem grande mal ao mundo, já que todos devemos aprender com os erros.
Sá Carneiro foi muitas vezes atacado no partido por ter razão antes do tempo, por não se vergar ao peso ideológico dos militares do MFA e por falta de compreensão dos seus objectivos estratégicos que, para ele, eram os do país devendo o partido fazer parte da solução e não do problema. Muitas vezes os companheiros o acusaram de ter um programa “liberal” e não verdadeiramente social democrata, quando ele sabia bem que, para distribuir, é preciso produzir primeiro: sem se produzir, não há distribuição nenhuma, seja com justiça, seja sem ela. Por tudo isso, Sá Carneiro dizia sempre que primeiro Portugal, depois a Democracia e só depois o PSD.
Esclareço desde já que, sendo social-democrata há muitos anos, nunca fui sá-carneirista, nem cavaquista e nem serei certamente passista se tal classificação vier a existir. Prezo demasiado a independência e a liberdade de pensar pela própria cabeça, consciente dos males do seguidismo acéfalo e de que ninguém é perfeito, muito menos na governação de um país, devendo a crítica justa e oportuna ser sempre feita.
Nas últimas semanas li e ouvi com espanto algumas críticas ao actual primeiro-ministro que me fizeram recordar o que acima escrevi. De facto, numa reunião partidária Passos Coelho afirmou: “Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal”.
Escândalo à esquerda e à direita. Para uns, o primeiro-ministro não quer saber do julgamento popular, mandando a democracia às urtigas. Para outros, afinal também ele acha que para se governar como deve ser, será necessário suspender a democracia por uns tempos. Claro que todos transcrevem só a primeira parte do que foi dito, “esquecendo” a referência a Portugal, que explica claramente a primeira parte da frase.
Quando Passos Coelho avisa o partido olhos nos olhos de que vai fazer o que é necessário para recuperar o país, mesmo que com isso venha a perder as eleições, aqui d’el rei que não é democrata. Como se democracia fosse governar permanentemente para sondagens, ainda que à custa da hipoteca de um país inteiro. Como se não nos lembrássemos todos do que foram os últimos seis anos de governação até se acabar por chamar a Troika quando já não havia dinheiro para pagar o ordenado do mês seguinte aos funcionários públicos. Como se a Troika não tivesse sido chamada pelo governo socialista que aqui nos trouxe. Como se o acordo para três anos e não quatro não tivesse sido negociado por esse governo. Como se ainda há um ano não andássemos todos a discutir as vantagens do TGV, do novo aeroporto de Lisboa e da terceira auto-estrada paralela à costa. Como se as PPP ainda não fossem então a grande solução para o desenvolvimento e não tivessem sido renegociadas passando para o Estado todo o risco, ficando os concessionários privados com as rendas brutais garantidas. Como se então não nos continuássemos a afundar com as eólicas a preço de ouro. Como se nas eleições de 2009, mergulhados no fundo da crise, não tivesse havido aquele aumento aos funcionários públicos. Como se não soubéssemos todos de ciência feita, o resultado de governar a fugir para a frente e a prometer sempre mais e mais para permanecer em cima nas sondagens, enfiando o país no buraco profundo em que nos encontramos e de que tentamos sair, mas a que custo!
Se um primeiro-ministro assume hoje de novo a posição corajosa e patriótica de dizer aos militantes do seu partido que em primeiro lugar está o país e não está disponível para facilitismos eleitoralistas ainda que venha a perder as eleições, tenhamos ao menos a honestidade de assumir a discordância de opções, mas não de fazer política a enganar mais uma vez os portugueses, desta vez com jogos de palavras. O momento é demasiado grave para muitos portugueses que sofrem, para que o puro cabotinismo de políticos e comentadores venha distorcer a realidade que já por si é suficientemente acabrunhante.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Agosto de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Política por profissionais?
A crescente “profissionalização” da política tem trazido alguns aspectos ao regime democrático que merecem ser conhecidos e discutidos por toda a população, mesmo aquela que não milita nos partidos políticos. Até para melhor se compreender boa parte dos métodos de decisão política aos mais diversos níveis.
Os partidos políticos evoluíram nos últimos anos para máquinas de ganhar eleições, ultrapassando a ideia original e algo romântica de associações de cidadãos livres que se juntam de forma generosa para fazer prevalecer uma determinada maneira de construir o futuro de um país. Depois do período inicial da Democracia, muitos daqueles que a certa altura começaram a chegar aos cargos partidários de topo fizeram-no pela subida nos escalões organizativos dos partidos, geralmente desde as juventudes partidárias. São os chamados políticos profissionais que, na realidade, nunca viveram fora da política e nunca se afirmaram social e profissionalmente de outra forma. Têm características próprias, desenvolveram mesmo algumas capacidades especiais, umas boas e outras não tanto, mas é frequente mostrarem algum complexo perante quem não seguiu esse caminho e fez uma vida digamos, mais vulgar, designadamente no percurso académico. Complexos esses muito visíveis nos últimos anos, os quais não fazem aliás qualquer sentido e só são compreensíveis num meio tacanho como o nosso que ainda privilegia a doutorice, ao contrário de muitas sociedade mais desenvolvidas. O que é certo é que os políticos profissionais são mais eficazes em termos de execução de políticas e reformas no imediato, mas a ligação destas à realidade falha muitas vezes o que as coloca mesmo em causa a médio e longo prazo.
Lá para o Outono do próximo ano haverá eleições autárquicas. É pois natural que os partidos se afadiguem em encontrar as soluções que melhores resultados lhes trarão nessas eleições. Seria normal pensar-se que os responsáveis políticos concelhios se colocassem em campo para encontrar quem, na sua área política, tenha capacidade para gerir e desenvolver estratégias de mudança e de futuro para os seus municípios.
O leitor sente que algo disto se passa? Penso que muito dificilmente. O que vai correndo do interior dos partidos para a comunicação social são sondagens ao eleitorado em que lhes são propostas listas de nomes para detectar quem será mais capaz de colher as simpatias do eleitorado para ganhar as eleições. De fora ficam todas as considerações sobre que futuro se quer, sobre capacidade de liderar equipas, sobre capacidade de elaborar programas e realizá-los, sobre a capacidade de dizer não às máquinas partidárias quando for preciso. O que interessa verdadeiramente é encontrar um nome que seja simpático ao eleitorado, seja por que motivo for. O resto não interessa por ser tido como fantasia de quem não anda pela realidade. Por alguma razão os partidos preferem fazer isto a organizar verdadeiras “primárias” onde os mais capazes e independentes poderiam sobressair perante as máquinas partidárias.
Na verdade, quanto mais profissional, menos política é a política. Na década de setenta do século passado, os portugueses foram inundados de política até à náusea. Talvez por isso uma tecnocracia disfarçada de política foi tomando lugar em grande parte do aparelho do Estado, abrindo portas a uma tomada do mesmo por parte dos mais variados e desenfreados interesses. As consequências deste tipo de acção partidária “profissionalizada” e desideologizada têm-se visto pelos seus frutos pelo país fora, não necessitando de qualquer demonstração, sendo muitas vezes os próprios partidos os primeiros a arrepender-se das escolhas assim feitas.
Os partidos são essenciais à Democracia. Mas também podem ser o seu coveiro. A política deve ser uma actividade nobre e sobrepor-se aos interesses económicos financeiros e outros que têm o seu lugar, mas para isso tem que ser exercida por quem é verdadeiramente político, isto é, quem sabe em cada momento onde está o bem comum e cuida dele, custe o que custar.
domingo, 29 de julho de 2012
O fundamental
Sá Carneiro: Primeiro Portugal, depois a democracia, só depois o Partido.
Passos Coelho: Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal.
Credo, que escândalo!
Passos Coelho: Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal.
Credo, que escândalo!
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Banca: acima de tudo o resto?
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