À medida que a Terra evolui em torno do Sol, os anos vão-se sucedendo, um após outro, com a regularidade a que a Natureza nos habituou,
Hoje é o último dia do ano velho e amanhã é dia de ano novo: convenção humana, a do calendário, mas essencial para organizar a vida dos homens, com respeito pelas efemérides astronómicas e, portanto, pela própria vida da Natureza que se lhes encontra intimamente ligada.
Este é um tempo de análise do ano que passou, do que correu bem e do que correu mal. É também o momento de perspectivar o futuro, de tomar decisões de mudança, de tentar introduzir melhorias aos mais diversos níveis
Tempos houve em que se simbolizava deitar para trás o passado, atirando os trastes pela janela fora na passagem do ano. Como se fosse possível construir um futuro, anulando o que passou. O tempo, essa foice inexorável, apenas no deixa o presente. O passado existe na memória e o futuro não é.
É o tempo para lembrar pessoas desaparecidas que nos eram pessoalmente queridas e outras que, de uma maneira ou de outra, se tornaram referências e mudaram algo na vida de muita gente, casos de Óscar Niemeyer, Neil Armstrong, Dave Brubeck, Ravi Shankar, Bernardo Sasseti ou José Hermano Saraiva. Em 2012 entusiasmámo-nos com descobertas ou sucessos da ciência, como o descobrimento do Bosão de Higgs no CERN, ou novos avanços na medicina. Ficámos chocados com as mortandades de crianças em escolas americanas. Espantámo-nos com a revelação de guerras pelo poder pessoal e económico dentro do próprio Vaticano. Infelizmente já não nos surpreendemos com as violações sistemáticas dos direitos das mulheres em determinados países teocráticos. A “primavera árabe” acabou, tendo agora o Egipto um presidente islamita e uma constituição em conformidade com os novos tempos, enquanto na Síria continua a sangrenta guerra civil, onde também se foram meter os extremistas muçulmanos, baralhando todos os dados.
Muitos dos que entre nós celebraram a vitória de Obama, protestam agora pela saída dos militares americanos dos Açores, coisa que eles mesmos exigiram durante dezenas de anos.
Claro que sabemos bem que em 2013 Portugal vai continuar a receber as visitas periódicas da troika, embora quem a chamou in extremis em 2011 faça os possíveis e impossíveis para esconder essa tremenda responsabilidade que nos trouxe a austeridade que tudo indica irá ficar por muito tempo. O flagelo do desemprego continuará a atingir níveis históricos com toda a carga de tragédias sociais e infelicidade pessoal generalizada. Vamos ser obrigados a vender os anéis para tentar salvar o essencial do Estado Social. Valha a verdade que vários indicadores económicos começaram já a mudar de inclinação na sua evolução, tais como as taxas de juro da nossa dívida pública, a balança comercial com o estrangeiro e, acima de tudo, a redução do défice orçamental de 10% para 5% em ano e meio! Ainda é cedo para saber se esta evolução é significativa, mas introduz alguma esperança de que os sacrifícios possam vir a valer a pena e proporcionem o regresso do país ao bom caminho.
Em 2013 haverá eleições para as autarquias. A famosa e necessária reorganização administrativa do país acabou por se ficar numa tímida diminuição do número de freguesias, necessária mas com sabor a pouco por não ter havido coragem para se mexer nos concelhos. Entrando finalmente em vigor a lei da limitação de mandatos haverá, apesar de tudo, uma grande alteração nas caras do poder autárquico.
Ao entrar neste novo ano, façamos votos de que as mudanças a que assistimos venham a ter os resultados para que foram pensadas e que também sejamos suficientemente sensatos para não permitir que um passado por si mesmo ultrapassado venha atropelar os caminhos do futuro.